MINHAS CRÔNICAS

sábado, 10 de outubro de 2009

BASTIÃO E OS CACHORROS

Estávamos, José Paulo, nossos dois funcionários Leonal, Bastião e eu, sentados ao lado da churrasqueira, jogando conversa fora e cervejinha gelada para dentro, enquanto aguardávamos a picanha “chegar no ponto”.
O “lufa-lufa” do dia havia sido exaustivo, vacinamos todo o gado e ainda desmamamos e marcamos uma penca de bezerros; no final da tarde, as forças foram diminuindo e o ânimo só era mantido à custa de muitas brincadeiras e promessas de recompensa (churrasco com cerveja).
Depois de duas latinhas e uma branquinha de alambique, Bastião começou a soltar o verbo, obedecendo à instigação do Zé Paulo:
- - Tião, eu sei que você tem medo de muitas coisas, mas parece que sapo e cobra são os animais que mais o preocupam, não é mesmo?
- - Não é não Dotôr, na verdade, meu maior medo é de cachorris.
- Acho interessante uma explicação quanto ao linguajar do Bastião, ele tem a mania de trocar a letra o pela letra i, e, quase sempre, acrescenta um s no final, como vimos acima.
- - Por que ? A pergunta aqui, não sei se deva ser entendida como uma simples curiosidade ou se o gaiato do Zé estava querendo “soltar”a língua do Bastião; se a intenção era a segunda hipótese, acho que ele acertou no alvo.
- - Não é mamparra não, seu Dotô, mas acontece que os outros animais a gente sabe que são selvagens, portanto não arriscamos, mas o disgramadis do cachorris finge que é amigo e quando o freguês descuida, ele "senta" os dentes na batata da perna, sem dó nem piedade.
- Uma vez em Goiânia, estava desempregado, lobisomando sem precisão, isto é, matando "sapo a grito", quando o Pesão, meu primo, me disse que uma muié lá do setor sul ia viajar e precisava de alguém pra vigiar a sua casa por uma semana.
Fui com o Pesão; chegamos quase na hora que eles estavam saindo, a dona mandou nóis entrar e começou a falar de como ela queria meu vigiamento, começou a me mostrar os "cômidos” e quando chegamos na sala de jantar, anliás, ainda não havia nem sido desfeita a mesa do almoço, ouvi um barulho de rosnado que não duvidei do que era.
Quando olhei pro fundo da sala, avistei um cachorris preto, mostrando a terrível canjica; pode aquerditar, na hora já me deu um calafrio e um estremecimento e uma agonia, que me deixou meio jajá.
- Dona, tenho muito medo de cachorris
- Não se preocupe, ela é amiga; Duquesa vem aqui para conhecer o senhor Sebastião, vem amiga!
Quanto mais “a amiga” se aproximava, mais eu ficava com medo de
ter um faniquito, comecei a procurar uma porta pra "vazar", mas o medo me fez ficar engambelado, estava ficando encostado no canto da parede, parecendo uma mangangava dentro do balde de leite.
- Pára ai Dona, tô ficando apavoradis !
- Não se preocupe, ela é amiga.
De repente, a "amiga" deu uma latida tão forte que quase me deixou surdis; não tive dúvida, dei um pulo prá riba e fiquei de pé em cima da mesa, no meio dos pratos da muié.
A "amiga", uma cachorrona parruda e muito nervosa, pois suas ventas até tremiam quando ela latia, ficou rodeando em volta da mesa, eu correndo em riba e a mulher gritando.
- - Desce senhor Sebastião, ela é amiga.
- - Só desço se a senhora amarrar esta fera!
- Resultado, com a minha gritaria, que quase estourou minha caixa do catarro e a latição dos infernis, chegaram o marido e os filhos e agarraram a tar de "duquesa"; sujei o sapato de arroz, feijão e macarrão, não consegui o emprego e ainda corri o risco de ter que pagar o prejuízo da quebração dos pratos.
Deus me livre de cachorris!

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