MINHAS CRÔNICAS

sábado, 10 de outubro de 2009

BATISTÃO E NARANDINHA

Antes de tudo é necessário dizer como o casal João Batista, mais conhecido como Batistão, e a Da. Narandinha (nunca soube o seu nome verdadeiro) surgiram em nossas vidas.
Vicintin, cujo nome completo parece que era Vicirinato, baiano de Barreiras, nosso funcionário de há muitos anos, um dia perguntou-me se não havia vaga para empregar o seu concunhado recém-chegado da Bahia, com três filhas pequenas e que estava com dificuldades financeiras, “encostado” na casa do sogro, em Goiânia.
Por se tratar de pessoa de nossa maior confiança, honesto e trabalhador, mandei que trouxesse o Batistão para conversarmos...
No dia aprazado, lá estava o Vicintin com o seu compadre; já no primeiro encontro simpatizei com o futuro funcionário de nossa fazenda.
Batistão era bem moreno, magro, barba rala, sem bigode, porém com um par de costeletas enormes, dispostas à maneira de um triângulo de ápice superior, atingindo, na sua base alargada, até as imediações dos maxilares.
Sorriso de boca fechada, mãos calejadas e pés enfiados naquelas chinelas de borracha que são presas no vão dos dedos.
Falando baixo e respeitoso, chamando-me, a todo o momento, de “Dotore” (deve ter sido instruído pelo compadre). Começaria a trabalhar no dia seguinte, dependendo de conseguir trazer a família; busquei-os na casa do sogro; toda a mudança com a família (esposa, três filhas, um gato e dois cachorros), coube na camionete C-10.
No dia da mudança conheci Da. Narandinha, também baiana, mais baixa do que o Batistão, face encardida e pés no chão, três filhas barrigudinhas e com o nariz sujo de “ranho”. As crianças, também, estavam descalças; seus cabelos estavam embaraçados até não ter mais jeito...
Batistão e Da. Narandinha tinham um linguajar que muitas vezes não eu conseguia entender; usavam dar apelidos a quase tudo que os rodeavam. Um dos seus cachorros, provavelmente chamado “garoto”, atendia pelo apelido de “garoti”; as filhas, Xilibene, Mailene e Gatin (??); parece que se chamavam Lucielene, Marilene e Edilene.
Algum tempo depois que aqui chegaram, adotaram um menino, filho de um primo do Batistão, que se chamava Dinaldi, posteriormente “Pinguinha” (parece que era Edinaldo).
Um dia, observando de longe, o diálogo de minha mulher com o Batistão, deu-me um acesso de riso que a muito custo consegui controlar.
Marília queria que o Batistão a ajudasse na feitura de um canteiro de rosas:
- A senhora quer “réti” ou “discaídis”?
- Eu queria que o senhor, primeiro enquadrasse o terreno, para não ficar torto...
- Fizesse o quê???? ...
- Colocasse uma linha para que o canteiro não ficasse torto, Sr.João Batista...
- Pode ficar “frias” (tranqüila) Da. Mariula, vou colocar bem “réti”(linha reta) e sem ficar muito “discaídis”(sem declive)...
O Batistão e a família foram tomar conta do Retiro das Jabuticabas e daí em diante, nos despreocupamos; ele era, realmente, muito trabalhador, aprendeu a dirigir o trator, cuidava do pomar com todo o carinho e dedicação, os pastos eram mantidos sempre limpos e, quando acontecia de ser surpreendido com alguma coisa não muito arrumada, dava-me mil explicações.
Houve uma grande transformação na vida do Batistão e de sua família; fogão a gás, comprou televisão, além de sistema de som da melhor qualidade; as crianças andavam bem arrumadinhas, Da.Narandinha, tida como antissocial, mudou completamente, andava sempre bem vestida, com sandálias e até comprou um par de brincos e óculos “ray-ban”.
Se não fosse o fato do Batistão gostar de uma bebida nos fins de semana, contrariando a Da. Narandinha, a vida deles seria um verdadeiro paraíso.
Várias vezes fui solicitado pela Da. Narandinha a chamar a atenção dele, pois, quase todos os sábados, a partir da noitinha, o Batistão ia para o bar do Preto Jó (situado cerca de dois quilômetros da fazenda) e só voltava no dia seguinte.
- Batistão, acho que você está exagerando na bebida, Da. Narandinha anda reclamando...
- “Exageres” dela “dotore”, o que eu tenho feito é ir ao bar fazer algumas compras para casa e lá encontro uns amigos, ficamos conversando e, não vou mentir, bebemos algumas doses, sem “excel” (sem excesso).
Primeiras rusgas
- “Dr. Hél”, o Batistão passou dos limites neste fim de semana, foi pro bar e, ouvindo o conselho da minha mãe, resolvi ir com ele para vigiar mais de perto; lá encontramos o Valto (Walter, peão de uma fazenda vizinha), companheiro do Batistão nas noitadas de sábado e os dois começaram a beber, parecia que o mundo ia acabar, “home” quando “encabeça” para um lado não há quem consiga mudar. Já era mais de duas horas da madrugada, eu estava ficando muito incomodada com as crianças que ficaram sozinhas na fazenda, resolvi dar uma apelação.
Xinguei o Batistão e de rebarba o Valto; foi a pior coisa que fiz, o Batistão montou na bicicleta e foi “simbóra me deixando sola” (sozinha). Por sorte o Valto, que também estava de bicicleta, “aceitou” de me levar. Foi uma viagem muito triste, pois devido à escuridão da noite e a bebedeira do Valto, caímos umas três vezes, sendo a última dentro do mata burro perto de casa... Veja o senhor o meu estado!...
Narandinha estava com um galo na cabeça, pernas todas arranhadas, escoriações nos braços e sem um dente na arcada superior.
- O dente foi o “disgramado” do Batistão que sentou o cotovelo na minha boca, quando cheguei em casa...
- Vou conversar sério com ele.
- Não “dotore”, deixa passar uns dias, se não ele descobre que eu enredei para o senhor e a minha vida vai ficar muito mais complicada.
Deixei passar alguns dias, chamei-o para um local afastado da casa e manifestei-lhe minha apreensão e contrariedade a respeito daquela ocorrência.
- “Dotore”, a Narandinha está “zagerando” um pouco, fui eu que a convidei pra ir ao bar do Preto Jó e, na hora de vir embora, ela preferiu ir com o Valto, pois, achava que eu não estava bom para dirigir a bicicleta; viu só como ela estava enganada, cheguei em casa “tranquilis” e ela com o Valto caíram uma porção “di veiz”, acho que o dente ela perdeu foi nestes tombos...



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