MINHAS CRÔNICAS

segunda-feira, 7 de junho de 2010

LONDRES, POR QUE LONDRES?

Havia uma enorme expectativa, tanto minha como por parte de Hélio Junior, para esta visita a Londres; aqui em casa traçamos os planos sobre o que fazer, aonde ir, quais prioridades e, principalmente, voltarmos aos lugares onde Marília e eu estivemos há quase quarenta anos e que tanto comentávamos em nossa casa.
Estive várias vezes em Londres, porém, esta viagem tinha uma motivação diferente das outras; era a primeira vez que a visitava depois da publicação do meu livro – Couto de Magalhães, o último desbravador do Império.
O personagem biografado naquele livro, Gal. José Vieira Couto de Magalhães, vivera durante quatro anos em Londres (1876-1880), tendo escrito um diário (Diário Íntimo) relatando suas atividades empresariais (tentava conseguir um empréstimo para a construção de uma estrada de ferro no Brasil), suas andanças, suas moradias e suas aventuras amorosas; o citado diário, ao qual tive acesso, foi encontrado não faz muito tempo.
Por ter morado em Londres na década de 1970, entusiasmei-me com as descrições feitas por Couto Magalhães; quase todas as ruas citadas no seu diário eram minhas conhecidas e, algumas delas, faziam parte do meu itinerário diário - “Percorremos, Couto e eu, as mesmas ruas, fomos aos mesmos teatros, às mesmas livrarias, aos mesmos parques e jardins, navegamos juntos pelo rio Tamisa; parece que nada mudara na querida Londres, naquele interregno de tempo de quase 100 anos!” (trecho do livro acima citado)
Nesta viagem de agora planejei voltar àqueles endereços mais importantes por ele citados, principalmente ao local onde ele morara por mais tempo, onde morara sua namorada Lily, a casa dos banqueiros que ele frequentava e, principalmente, a antiga embaixada do Império do Brasil.
Qual a razão deste meu encantamento por Londres, perguntou-me um dia um dos meus filhos; acho que Londres é a única cidade, por si só, capaz de provocar ciúmes na sua mulher!
Algumas outras cidades são superiores a Londres em algumas particularidades; Paris é, indiscutivelmente, mais bonita, mais alegre e leva-nos a pensar que a vida é sempre cor de rosa; Roma é mais amigável, seus habitantes são mais brincalhões, levando-nos a pensar na necessidade de viver o dia de hoje, pois, “o minuto que passou não volta mais”, o Rio de Janeiro tem a natureza falando a seu favor; em Nova York a vida é mais excitante e sugere que tudo que aconteça no mundo, deverá passar por ali, porém, na somatória das qualidades e defeitos, Londres supera todas elas.
Não se cogita visitar Londres sem conhecer alguns dos seus símbolos: O Big Ben, a Casa do Parlamento, a guarda real de Buckinghan e o Rio Tamisa; sei que muitos dirão, e os Parques? E a Torre de Londres? E o Piccadilly? E a catedral de Westminster? Se quiserem posso acrescentar a esta lista a Trafalguar square, a Oxford circus e a Regent street, os museus e as galerias de arte, os teatros, enfim, todo o feitiço de Londres não caberia no espaço desta crônica.
No entanto existe uma entidade que polariza a atenção dos ingleses; são os Parques e os jardins; são enormes espaços abertos, várias dezenas e em várias regiões da cidade, chamados de “pulmões de Londres”; para se ter uma pálida idéia da sua grandiosidade, o Hyde Park e o Kensington Garden, somados, correspondem a mais de dois quilômetros quadrados de área verde.
Antigamente estes Parques eram os locais onde a Monarquia promovia suas famosas caçadas às raposas; hoje, a maioria deles está localizada no coração de Londres, portanto, sem condições de se manter aquela tradição.
Estando em um destes jardins, tente não observar os casais de namorados trocando juras de amor, abraçados na grama, provavelmente as mais audaciosas cenas em exibição ao ar livre em toda a Europa; procure olhar os gerânios, as petúnias, os narcisos silvestres e as tulipas formando canteiros multicoloridos.
É inacreditável o amor dos Ingleses pelos jardins; se ele não tiver espaço para ter um em sua casa, certamente ele o fará no parapeito da sua janela.
Para deixar bem claro este atavismo pelos jardins, conta a história que a Rainha Carolina, na época esposa de George IV, um dia perguntou ao Primeiro Ministro qual seria o custo para trazer de volta o Park St. James, para uso exclusivo da Monarquia. Aquele teria lhe respondido:
- Somente a sua coroa, Madame!
Acrescentaria que a síntese de tudo o que dissermos a respeito de Londres corresponderia a quatro predicados: Beleza, charme, tradição e glorificação do passado e, principalmente, respeito à individualidade das pessoas.
A causa desta síntese? A coroa Real, que há séculos domina os sentimentos dos ingleses, como podemos perceber nesta bela passagem (resumida e em tradução livre) da peça “A tragédia do Rei Ricardo II - William Shakespeare”:

Este real trono de Reis/ Esta terra de Majestades/
Este outro Paraíso/ Esta abençoada terra/
Esta terra, este reino/
Esta Inglaterra...





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