MINHAS CRÔNICAS

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Londres, casa onde morou Couto de Magalhães em 1876

Restava-nos apenas mais três dias de permanência em Londres; resolvi, com a aquiescência do Hélio Junior, que iríamos visitar os locais que referi no meu livro “Couto de Magalhães – o último desbravador do Império”, onde morou o Gal. Couto de Magalhães, sua namorada Lily, a casa do banqueiro Waring e, principalmente, a sede da antiga embaixada do Brasil Império.
Havia chovido na noite anterior e o serviço de meteorologia indicava grande possibilidade disto voltar a acontecer no transcorrer do dia; durante o café matutino traçamos, com auxilio de um mapa, nossos planos; armamo-nos de guarda-chuva, capa, muita disposição para caminhar e fomos enfrentar as ruas e avenidas de Londres.
Pelas nossas pesquisas sabíamos que o endereço onde residiu o General Couto de Magalhães situava-se no bairro de Marylebone, mais precisamente na rua de mesmo nome; tomamos o metrô e fomos até a estação de Bond Street, daí em diante faríamos o percurso deambulando sem pressa e sem compromisso com o tempo; após caminharmos algumas quadras, já dentro do bairro, entramos na tão esperada Rua Marylebone; neste percurso passamos pela singela igreja de St. Mary-by-the-bourne (provavelmente a razão do nome da rua) e onde foi crismado o genial Lord Byron, considerado o mais famoso poeta romântico da Inglaterra.
Conta a história que a Rua Marylebone foi construída no século XVIII com o intuito de descongestionar a Oxford Street; ainda hoje ela conserva algumas características daquele tempo, principalmente a arquitetura das suas casas, ao estilo georgiano, e, principalmente, muita tranquilidade.
Momento de emoção foi encontrarmos o prédio com a numeração (222) que estávamos procurando; paramos, por alguns minutos, bem em frente da enorme construção; em silêncio “viajei” para o longínquo ano de 1876 e situei meu personagem (Gal. Couto de Magalhães) saindo pela porta principal “todo empertigado, trajando um sobretudo preto; usava, para completar o aprumo, um par de botinas de verniz; sua estatura alta e magra, dava-lhe uma silhueta de nobreza; sua barba espessa, bem feita, cuidada de maneira a não tornar-se o seu único referencial, quase cobria todo o seu rosto, que era alongado, até com certa proeminência do queixo. Sua fronte era lisa e bem destacada. Caminhou alguns passos e tomou um fiacre puxado por uma parelha de cavalos brancos que o aguardava”.
Toda esta fictícia cena teria se desenrolado em data que ainda não fazia parte do meu calendário; depois disto, um turbilhão de água correu por muitos rios e muitas pontes foram destruídas no desenrolar da vida, separando-me daquele meu personagem de data tão remota; os leitores são testemunhas que tentei repetir a mesma emoção que ele sentia, porém, sinto que não consegui; mesmo se a emoção fosse a minha própria emoção, também não conseguiria.
Repito Oscar Wilde: “O fato de que não se possa repetir exatamente uma mesma emoção explica porque a vida é um fracasso do ponto de vista artístico. É isto que lhe empresta uma quietude sórdida!”.
Ainda perdido nestas elucubrações fui “acordado” pelo Hélio Junior que me chamou a atenção: Este prédio é um hotel, disse-me ele, enquanto caminhávamos para o seu interior.
Realmente, estava escrito no seu frontispício que se tratava do Landmark London Hotel; causou-nos grande impressão a amplitude do seu lobby, como se fora um imenso salão, cujo teto, todo de vidro, está situado em altura correspondente a seis andares; deixou-nos perplexos pelo senso de espaço e luminosidade que o conjunto transmite, nunca visto por nós ambos.
Nossa curiosidade foi aguçada quando procuramos, junto à direção do mesmo, algumas informações sobre a sua história; ficamos boquiabertos com o que descobrimos!
Os leitores que tiveram a oportunidade de ler o meu livro acima citado, devem se lembrar que Couto de Magalhães viveu quatro anos em Londres na busca de financiamento para a construção de uma estrada de ferro, concessão que ele havia conseguido junto ao Imperador Dom Pedro II.
O folheto que o gerente nos forneceu traz um resumo da história pregressa deste hotel, que me permite fazer algumas ilações; leiam comigo: a sua origem remonta ao final da década de 1880, quando um empresário de nome Edward Watkins, idealizou construir uma estrada de ferro ligando a Inglaterra ao resto da Europa, por meio de um túnel que terminaria na estação ferroviária de Marylebond, além de um hotel (The Great Central Hotel) de grande porte, para acomodar os passageiros.
A construção da ferrovia não foi levada à frente, porém, o hotel sim e sua inauguração se deu em 1899, com arquitetura no estilo gótico, em consonância, aliás, com o prestigio do Império Britânico da época, influenciado pelo poder da Rainha Vitória.
O hotel foi construído ao redor de um enorme pátio, facilitando que as carruagens deixassem os hóspedes na porta do hotel com privacidade e conforto; todos os mínimos detalhes foram pensados: salão de fumantes e bilhares para os homens, separados do salão de visitas exclusivo para as mulheres, como mandava a etiqueta da época.
Ficou-nos a dúvida: Couto de Magalhães viveu naquele endereço poucos anos antes da inauguração do hotel original e, tendo em vista que aquele empresário Mr. Watkins (como registrado na sua biografia), sempre esteve envolvido com construção de ferrovias, é de se conjeturar que houve uma razão para Couto se hospedar naquele local (seria um antigo hotel que foi demolido para a construção do que é hoje o Landmark Hotel e que já foi o Grande Hotel Central?). Infelizmente não tenho a resposta, porém, ouso conjecturar que o Gal. Couto de Magalhães sabia, de antemão, onde deveria morar em Londres, pois ali seria mais fácil conectar os possíveis financiadores do seu empreendimento (Estrada de Ferro ligando o Rio de Janeiro a Minas Gerais).




0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial