MINHAS CRÔNICAS

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

APONTAMENTOS DO JARDINEIRO – Passarinhos no jardim

Nunca ouvi uma pessoa dizer que não gosta de passarinhos, principalmente se ela possui um jardim, quer seja na sua casa, fazenda ou chácara; a recíproca também é verdadeira, os passarinhos adoram os jardins, quer se localizem no coração de uma grande cidade ou na quietude do campo.

Muitas vezes, no burburinho da nossa vida cotidiana não paramos para pensar a respeito deste tema, porém para milhões de pessoas ao redor do mundo o envolvimento com este assunto é extraordinário, com dispêndio de apreciável quantia de dinheiro e, sobretudo, tempo e energia para tratar e dar condições de sobrevivência para estes pequenos seres somente no ambiente do jardim.

Certa feita, visitando um “shopping” especializado em jardins em uma pequena cidade do interior da Inglaterra, fui surpreendido por algumas informações que recebi do atendente, que me entusiasmaram; transcrevo-as para os meus leitores

Existe na Inglaterra uma sociedade formada por voluntários de vários níveis de conhecimento, desde os especialistas e mesmo cientistas, até as pessoas que simplesmente se divertem com os passarinhos nos seus respectivos jardins (BTO – The British Trust for Ornithology – Sociedade Inglesa de Ornitologia) e que se dedica a aumentar os conhecimentos a respeito dos passarinhos no Reino Unido, assim como tentar entender porque os mesmos mudam de habitat.

Com os dados acumulados, esta entidade é capaz de informar ao consulente, com alguma precisão, qual é a espécie de pássaro que poderá aparecer no seu jardim, desde que seja informada sobre a localização (região) do país, o tamanho e as condições do jardim.

Desde quando “me conheço por gente” tenho vivido ligado ao mundo dos passarinhos; lembro-me, até com certa nostalgia, das minhas andanças nos idos de 1945-50 pelos arredores de Gaspar Lopes onde nasci, em Minas Gerais, na busca de passarinhos para meus “viveiros”; usava arapucas, colas (visgos) em galhos de árvores e gaiolas com dispositivos para prender os passarinhos que eram atraídos pelo canto do que estava preso. Felizmente estes crimes já estão prescritos, pois foram cometidos há tantos anos...

Pedro, filho do tio Zé Pereira, meu primo e grande amigo de infância, ajudou-me a construir o maior e mais bonito “viveiro” de toda a região; cabia-me de pé no seu interior (será que era tão grande assim?) Ou não seria o tempo que escorregou pelos vãos dos dedos do atual narrador, agora vivendo na planície da existência, levando o seu subconsciente a traí-lo, impossibilitando-o de aquilatar o tamanho do menino de outrora? Pode ser!

Passava horas dentro do “viveiro” conversando com os passarinhos (canário da terra, fogo apagô, curió, melro do brejo, rolinha, pintassilgo, coleira, pássaro preto, etc.) e, principalmente ouvindo-os; como era bom!

Um dia, não sei quando foi, minha mãe resolveu que deveria abrir o “viveiro” e soltar os passarinhos, uma vez que o “cuidador” havia abandonado sua tarefa para estudar em Alfenas.

Chorei durante quase uma semana, o tempo passou, curou as tristezas do menino, porém não apagou da memória os momentos únicos da sua vida; trouxe para a planura da minha vida a mesma afeição pelos passarinhos, com uma única diferença: hoje o meu “viveiro” são as árvores do jardim da Santa Tereza.

O nosso jardineiro e meu amigo Décio ajudou-me a construir alguns “tabuleiros” (espécie de tablado constituído de taboas justapostas) e dependuramos os mesmos em alguns galhos de árvores; todos os dias colocamos nestes dispositivos farelo de milho, frutas e outras iguarias de que os passarinhos gostam

Com o intuito de resguardar a comida na época de chuva, o Décio construiu em cima de um mourão de angico, adrede fincado no meio das árvores do jardim, uma cobertura feita com folhas de coqueiro, semelhante às casas construídas pelos índios; debaixo da cobertura construiu-se o tabuleiro onde é colocada a comida.

É um espetáculo que agrada aos olhos ver centenas de criaturinhas, de vários matizes de cores, comendo a refeição e trocando ideias sobre o que fazer com o resto do dia, uma vez que a tarefa de procurar alimentos foi facilitada pelo outrora caçador dos seus antepassados.

Há muito tempo não via “canarinho da terra” por estas paragens. Semana passada um casal pousou no tabuleiro; no início pareciam preocupados, mais vigiavam o ambiente do que comiam, porém gradativamente perderam o medo e começaram a comer e conversar entre si.

Esta cena e a paisagem que lhe dá sustentação me fazem lembrar a minha vida inteira, cada árvore, cada lago, cada canteiro de flores me fala de um capítulo da minha história que se reiniciou com a Santa Tereza.

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