MINHAS CRÔNICAS

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

A crítica literária – Couto de Magalhães era homossexual?

Quem escreve, tanto para a imprensa como na edição de livros, está sujeito à crítica, quer seja dos leitores, dos seus pares e fundamentalmente da crítica dita especializada em literatura.

Alguns dizem: se a crítica é construtiva é sempre bem-vinda, porém sabemos como é difícil discernir o que seja, realmente, uma crítica construtiva!

Peço ajuda ao escritor norte-americano John Steinbeck para tentar esclarecer o parágrafo anterior; em artigo publicado na revista Saturday Review no ano de 1955 e que foi incluído no livro “A América e os americanos, 2004”, Steinbeck faz uma análise “crítica” da crítica literária daquela época.

Um dos pontos que ele salienta com maestria é o fato de que “a escrita de um homem é ele mesmo, um homem gentil escreve com gentileza, um homem cruel escreve cruelmente, um homem doente escreve de forma doentia e um homem sábio escreve sabiamente. Esta regra se aplica aos escritores e, também, aos críticos”.

Precisamos ter em vista que os críticos são pessoas com todas as fragilidades e atitudes das outras pessoas, diz ele, “Um homem sem amor terá uma visão pouco clara do amor, o crítico sem filhos será intolerante com crianças, o fracassado odeia o sucesso (dos outros), o velho cansado acha a juventude e o entusiasmo intoleráveis”.

Existe uma convenção, não escrita, de que um escritor não deve, jamais, responder a uma crítica, por mais violenta que seja; embora me considere um modesto escriba, tenho procurado seguir esta regra básica: não me entusiasmo com os aplausos (infelizmente não muito numerosos), principalmente se estes são oriundos dos amigos, como sempre condescendentes, nem tão pouco me amofino com a crítica dos que possuem formação especializada (felizmente nunca foram violentas).

Por outro lado sou imensamente grato aos que me escrevem comentando meus textos, tanto dos escritos para os jornais como principalmente dos meus livros; quem escreve necessita ouvir a opinião dos leitores, sentir suas emoções e saber que está sendo lido. Vivemos disto!

Quando escrevia a biografia de Couto de Magalhães (Couto de Magalhães – o último desbravador do Império, Ed. Kelps, 2005) senti a imensa responsabilidade que assumi, tendo em vista a importância daquele homem para a história e a política goianas; sabia que poderia deixar de relatar alguns fatos e acontecimentos da sua vida, tendo em vista a escassez de fontes de informações confiáveis.

Alguns amigos mais atentos e, principalmente, historiadores (críticos) me questionaram o fato de não ter me referido à possível homossexualidade de Couto de Magalhães; felizmente o adjetivo possível veio em meu socorro.

Embora se discuta esta possibilidade, (inclusive um “site” originário da Bahia faz esta afirmação: Heroi da guerra do Paraguai era gay), não encontrei nenhuma fonte segura para confirmar esta informação; a única pista era um relato que ele fez de um sonho que teve e que registrou, talvez por constrangimento, na língua indígena “nheengatu” (Diário Intimo, 1998), onde afirma, dentre outras coisas, que “um preto mostrou-lhe o pênis...”

Discuti este assunto com dois amigos psiquiatras e psicanalistas e nenhum deles achou plausível considerar esta passagem como prova da sua homossexualidade.

Embora tenha levado em consideração esta informação dos especialistas, não poderia fugir do assunto e deixar de fazer qualquer menção ao acontecimento. Os que leram meu livro devem se recordar que às páginas 176-78 consegui, com sutileza literária, tratar do assunto.

Na época em que Couto de Magalhães morou em Londres (1876-1880) vivia ali, também, um dos mais famosos homossexuais da história da literatura, o romancista, teatrólogo e poeta Oscar Wilde, o homem que enfrentou os preconceitos da sociedade vitoriana da época, que não aceitava e punia com prisão e trabalhos forçados a tendência homossexual dos indivíduos.

Pois bem, “levei” Couto de Magalhães e sua namorada Lily para jantarem em um restaurante “da moda” em Londres da época, o famoso Café Royal que era muito frequentado por Oscar Wilde; Lily ao vê-lo na mesa próxima quis se aproximar do grupo que, aliás, fazia muito algazarra (como era o estilo de Wilde), para conhecê-lo pessoalmente (ele era estrela de primeira grandeza da imprensa Londrina), o que foi impedida, até com aspereza, por Couto.

Vejam, em resumo, o diálogo que coloquei na boca dos dois:

“A atitude de Lily provocou mau humor em Couto; a muito custo mantiveram alguma conversação durante a refeição; para piorar a situação, ela resolveu cobrar-lhe uma posição frente ao homossexualismo, uma vez que, segundo ela, ele havia demonstrado, no presente episódio, evidente e exagerado preconceito.

- Não tenho preconceito, acho que cada indivíduo deve ser senhor das suas opções sexuais, só não concordo com o exibicionismo, semelhante ao praticado por este indivíduo, há que haver o respeito público.

- Acho-o, realmente, preconceituoso; haja vista o fato de você não ter me levado ao jantar na casa do Barão de Penedo. Você me despreza, sua atitude foi covarde, você agiu como um covarde! Fala agora a já quase histérica Lily.

- A única coisa que não admitido é ser chamado de covarde; se você conhecesse minha vida pretérita, não teria coragem de dizer isto. Covarde é aquele que foge do perigo; ao contrário disto, fui, muitas vezes, ao encontro do perigo e desafiei-o inúmeras vezes”.

Certa feita, quando ela já estava bastante idosa, perguntaram a Aurore Dudevant, conhecida na literatura como George Sand, qual era a sua idade e ela respondeu: “À noite, da janela aberta para o céu estrelado, subindo para elas os perfumes do jardim, ouvindo, ao longe, Mozart na vitrola... Esta é a idade que presencia isto tudo, minha idade. Nunca pergunte a uma mulher a idade da sua inteligência!”

Provavelmente alguns críticos não entenderam o que ela quis dizer, vocês entenderam?

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