MINHAS CRÔNICAS

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

DIÁRIO DO JARDINEIRO

VOCÊ SABE PLANTAR AZALEIAS? NÃO SABE? VOU LHE ENSINAR!

A primeira coisa a fazer é definir com muito carinho o lugar onde você pretende plantá-las; azaleia (Rhododendron simssi) é um arbusto que precisa de sol, bastante iluminação e, principalmente, ser plantada em local onde você possa vê-la todos os dias; acreditem, elas são orgulhosas da sua floração que, aliás, poderá ser vermelha, branca, rosa ou mesclada de duas, às vezes mais de duas cores; por isto gostam de se exibirem, diz o jardineiro W. John no seu singelo livro “A Garden Diary by an Amateur Gardener – Diário de um jardineiro amador, London - 1937”.

Não sei onde aquele jardineiro descobriu isto, porém como ele fez esta afirmação em plena efervescência política que antecedia a segunda guerra mundial, época de descrença nos rumos da humanidade, acho que devo acreditar no que ele disse, aliás, para dizer a verdade,depois que o homem ultrapassa os sessenta anos de idade, poucas coisas lhe parecem absurdas.

Aqui na Santa Tereza não foi difícil escolher o local onde plantá-las, pois, bem de frente ao nosso quarto existe um jardim; na verdade, não querendo ser exibicionista, devo dizer que para todos os lados que olhamos ao redor da casa existe jardim, porém este especial que mencionei seria o lugar ideal, pois a primeira coisa que fazemos de manhã cedo ao abrir a janela da pequena sacada, é cumprir o ritual de examiná-las, como elas gostam, conforme nos ensinou o jardineiro inglês.

Este pequeno canteiro tem algumas características que gostaria de descrever para que meus leitores entendam o ambiente onde plantei as azaléias; ele tem o tamanho ideal para o meu desiderato: grande como a sofreguidão do adolescente que encontrou o primeiro amor e pequeno o suficiente para abrigar a desilusão da sua perda.

O canteiro era povoado, antes desta decisão de plantar azaleias, com margaridas de vários matizes de cores, com predominância das brancas e amarelas que são as preferidas do nosso jardineiro Décio; quase que nas suas duas extremidades existem dois tocos de caules que restaram de dois pinheiros que foram derrubados há muito tempo por terem ultrapassado o seu tempo biológico de vida.

No ápice destes dois “caules”, hoje já apodrecendo, fixei dois grandes vasos e ali plantei, em cada um deles, mudas de samambaias e salgueiros-chorões; com o tempo as suas raízes foram se espalhando pelo “toco” e daí surgiram duas imagens maravilhosas que, vistas de longe, sugerem que as plantas estariam voando sem um aparente suporte; sob o clarão da lua e o vento batendo nas suas folhas, sugerem-nos zumbis.

A decisão de quais margaridas seriam “sacrificadas” não foi fácil, pois elas são ciumentas com a presença de vizinhas capazes, com a sua formosura, de atrair a atenção do jardineiro e este deixar de mirá-las (aqui sou eu quem acha, por quê? algum dia lhes contarei!); deixei, por faltar-me coragem para retirar todas, um aglomerado delas nas duas extremidades do canteiro, pouco atrás dos “zumbis”, porém perfeitamente visíveis.

Acreditem, tive oportunidade de ouvir! Suas folhas, ao tremularem ao vento, emitem um sussurro misterioso, somente audível por quem esteja interessado nos mistérios da natureza; seus caules por serem finos e compridos permitem-lhes, se desejarem ver quem está chegando, espreitar tanto para a direita como para a esquerda, desde que os torçam nestas direções, porém a natureza obriga-os a colocar a flor em posição de mirar o sol que se posta à sua frente.

Para não pensarem que escondi as margaridas, preciso dizer que estas, em qualquer lugar que se encontrem no jardim, são vistas com facilidade pela exuberância das suas cores.

Preparei, então, o centro do canteiro para o plantio das azaléias; antes disso, Décio ajudou-me a “fofar” a terra que foi misturada com esterco curtido de vaca; deixamos um espaço de mais ou menos cinquenta centímetros entre uma e outra muda, uma vez que a variedade que estávamos utilizando são as de pequeno porte.

Existe um detalhe que não deve ser esquecido, plante-as com carinho, converse bem baixinho com elas antes de colocá-las nas covas; a necessidade de baixar o tom da voz, no meu caso, é para que as margaridas que estão ao lado não escutem e fiquem enciumadas e, por serem sensíveis, como todas as mulheres são, poderão chorar. Porém que fora a vida se nela não houvera lágrimas?

Se acordo bem cedo, antes do orvalho ser derrotado pelos raios solares, costumo ver seu último vestígio, pequenas gotas balançando na extremidade da flor da azaléia; nestas horas lamento não ser poeta para ter a inspiração que meu amigo e confrade na Academia Goiana de Letras, Dr. Getulio Targino Lima teve, ao escrever recentemente:

Naquele amanhecer,/ A gota atravessou a brisa/E pousou suavemente/Na pétala macia da rosa,/Aberta/Em seu maior viço.

Escorreu até a borda/Arredondada/Daquele colchão./Contornou-o,/Deu a volta/E parou, extasiada.

...Mas o vento,/Enciumado,/Perguntou-lhe:/O que faz você aí,/Como se estivesse num trono?

E a gota: estou criando vínculo,/Me doando por inteiro/E recebendo a maciez da aceitação.../





0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial