MINHAS CRÔNICAS

terça-feira, 1 de novembro de 2011

HUGO DE CARVALHO RAMOS E ALLAN POE–ESTILOS SEMELHANTES?

Enquanto aguardávamos o inicio de uma reunião cultural, posse dos novos membros do Conselho Editorial da Editora da PUC Goiás e, principalmente, uma homenagem cultural ao querido escritor Lacordaire Vieira, prematuramente falecido, conversávamos, o escritor e acadêmico da AGL, Edival Lourenço, a Professora Maria de Fátima Gonçalves Lima, um Professor de Literatura da PUC, que acabava de me ser apresentado, cujo nome, por lamentável lapso de memória, não consigo me lembrar, e eu.

Por menos que se queira,quando se reúnem mais de duas pessoas envolvidas com a literatura, o assunto, inevitavelmente, descamba para este mundo maravilhoso; foi o que aconteceu naquela oportunidade.

Foi o escritor Edival quem deu o “mote”; acho, disse ele, que o estilo literário de Hugo de Carvalho Ramos tem pontos de contato com o escritor norte-americano Edgard Allan Poe: os dois exploraram o fantástico nas suas narrativas.

Edival reforça a sua argumentação citando o conto “Ninho de periquitos” incluído na coletânea de contos do livro “Tropas e Boiadas” de Hugo de Carvalho Ramos, onde o narrador provoca no leitor o sentimento de horror, semelhantemente ao que faz Poe em muitas das suas histórias.

A diferença, no entanto, acrescento com o intuito de provocar discussão naquela tertúlia, é que este conto de Hugo de Carvalho Ramos, somente a partir de certa altura da narrativa, provoca no leitor um sentimento de tristeza e principalmente de horror pelo seu possível desfecho, ao passo que em Poe, vemos que a técnica utilizada era um pouco diferente; este autor propugnava pelo que ele denominava de “unidade de efeitos”.

Aqui na tranquilidade da Santa Tereza, com mais vagar e com tempo para consultar minha biblioteca, continuo na busca do possível paralelismo das vidas dos dois escritores; inicialmente constato que Hugo nasceu em 1895, portanto mais de cinquenta anos depois da morte de Poe; com exceção do final das suas vidas, não encontrei entre os dois nenhum ponto de contato que fosse relevante.

Ele, Allan Poe, pensava, como nos ensina José Paulo Paes (Histórias extraordinárias de Edgard Allan Poe – Ed. Cultrix, S.Paulo, 1958), antes de iniciar um conto, no desfecho que seria dado ao mesmo e de acordo com este desfecho, dispunha as cenas de modo a provocar no leitor sensação de ternura, de solidão ou de horror; verdade e beleza são coisas distintas e não deveriam ser misturadas, insistia ele.

Neste conto de Hugo de Carvalho Ramos “Ninho de Periquitos” a técnica utilizada é bem diferente; o narrador provoca, inicialmente, sensação de ternura no leitor (o pai atende ao pedido do filho e vai buscar os filhotes de periquitos que estavam no ninho); sequencialmente, a narrativa torna-se dramática (dentro do ninho havia uma urutu) e finalmente provoca horror (o pai corta o próprio punho para tentar se salvar da picada da cobra venenosa).

Há que considerar, no entanto, que se trata da narrativa de um fato, embora cruel, possível de acontecer, ao passo que em Poe, ele costumava criar uma atmosfera de horror desde o inicio da narrativa, portanto segurando o leitor ao texto, sempre com a expectativa de que algo grave ocorreria, porém este, o leitor, ao conseguir fugir das ciladas da narrativa que o autor conseguia transmitir, se conscientizará que aqueles fatos, na maioria das vezes, são infactíveis.

Como disse no inicio desta narrativa, o final da vida de ambos foi semelhante e principalmente trágica até na precocidade do acontecimento, Hugo com 26 anos de idade e Poe com 40; enquanto Hugo de Carvalho Ramos suicidou-se por enforcamento, depois de ser acometido durante algum tempo de sério problema mental, Allan Poe foi encontrado morto em uma sarjeta em uma cidade dos Estados Unidos (Baltimore).

Não existe comprovação da possível enfermidade mental de Poe, porém podemos encontrar nos seus escritos alguns indícios desta problemática, destacando-se o poema “O corvo”, traduzido para o português por Machado de Assis (Wikipédia); o autor “conversa” com o corvo que adentra a sua casa, atormentando-o com a repetição da frase “nunca mais”.

Provavelmente, sob meu ponto de vista, a maior prova da sua insanidade é a narrativa (uma das últimas que ele fez segundo Flávio Moreira Costa em “Os Melhores contos de loucura, 2007”) O coração delator; dentre outras coisas, ele fala: “É verdade – nervoso, muito nervoso mesmo eu estive e estou, mas por que você vai dizer que estou louco?” A doença exacerbou meus sentidos, não os destruiu, não os embotou”.

Este é mais um capítulo (resumido) do maravilhoso mundo da literatura e dos literatos.

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