MINHAS CRÔNICAS

domingo, 29 de abril de 2012

BATISTÃO CORREU DA ONÇA NO TOCANTINS


                              Estávamos, meu filho José Paulo e meu genro Dr. Antonio, sentados à varanda da casa da fazenda São Pedro, encravada no meio da serra do Monte do Carmo, no estado do Tocantins, aguardando o carvão pegar fogo para assarmos uma picanha; observamos que o Batistão estava muito quieto, um pouco amuado e amargoso, sentado um pouco afastado do grupo, porém, sem desprezar a latinha de cerveja que de tempos em tempos lhe era servida.
                               Dr. Antonio não aguentou aquele silêncio, puxou-lhe a língua com a intenção de ouvir as suas ultimas “estórias”, até porque ele ouvira o outro funcionário comentando a respeito do “apuro” que ele, Batistão, passara no período da manhã.
                               - Batistão, ouvi dizer que você enfrentou uma onça nas imediações da grota some-some?
                               Enfrentou não é bem o que aconteceu Doutor, na verdade o Batistão teve dificuldade para escapar de uma onça vermelha que estava rondando aquelas bandas, disse o Marrequinho, piscando um dos olhos para a plateia e com evidente intenção de “cutucar” o companheiro.
                               Sei que alguns leitores devem estar curiosos tentando se situarem no local onde o Batistão, supostamente, encontrou a temida gata, dou-lhes os detalhes:
                               A fazenda São Pedro tem a topografia um pouco acidentada, principalmente para as bandas de onde estamos falando, a grota “some-some” que, como o nome está querendo dizer, possui uma profundidade bastante avantajada e o seu “apelido” advém do fato, segundo os peões comentam,de que se uma pessoa estiver na sua borda precisará gritar bastante alto para o companheiro que estiver no seu fundo consiga ouvi-lo, pois a voz ... some no caminho.
                               Embora não faça parte desta narrativa, acho conveniente dar esta explicação: é voz corrente entre os peões a “informação” que lhes foi repassada pelo próprio Batistão, de que a voz some no caminho é por causa da inveja do falecido “Zé da grota” que ao cair no precipício, há vários anos, gritou muito e ninguém foi socorrê-lo e agora “ele” quer trazer mais gente para perto dele; não sabemos se isto foi invenção do Batistão; se foi ou não, ele passou a acreditar nesta possível ocorrência e toda vez que é, por dever de oficio, obrigado a ir para aquelas bandas ele nunca vai sozinho.
                -Homem prevenido vale por dois, sempre que surge a ocasião ele repete este ditado com muita convicção.
                               Batistão sempre foi muito supersticioso, acredita em todas as histórias de assombrações que lhe contam; hoje, por exemplo, ele estava bastante preocupado, um cão, que segundo ele, estava muito longe, virou a boca para o lado da sua casa e começou a uivar em plena madrugada, uivo triste, parecendo que queria enviar-lhe uma mensagem; na manhã, ao se levantar, deparou-se com um beija flor muito preto que esvoaçava feito um doido por todos os cômodos da sua casa – Se fosse verde, seria boa noticia, porém, o preto é má noticia, disse ele com muita crença. 
                               Daqui para frente passo a palavra ao Marrequinho, que foi testemunha ocular do ocorrido, para contar-nos a razão do estado de espírito do Batistão:
                               Havia uma determinação de irmos, Batistão e eu, à grota “some-some” buscar um manco de aroeira para substituir outro de angico que havia apodrecido; antes de sairmos, vários outros peões alertaram-nos sobre a presença de uma onça, possivelmente parida de novo, rondando aquelas imediações.
                               Se existe uma palavra que dá sufoco no Batistão, está é onça, todos conhecem seus históricos encontros com o felino e em pelo menos duas vezes, ele passou por grande perigo, uma delas é o acontecido hoje; no caminho ele já foi esconjurando a empreitada – não é por medo, mas sim por respeito, disse ele mais de uma vez.
                               Nossa estratégia era descer no precipício, preparar o pau que levaríamos, amarrar uma corda na sua extremidade e depois vir buscá-lo com o auxilio de um trator que o arrastaria para fora da grota; Batistão pediu-me que descesse primeiro porque ele precisava, antes de nada, definir um plano de fuga no caso de acontecer um desenlace: a gata aparecer.
                               Amarrou a ponta de uma corda em uma árvore “minduim-brabo” localizada nas imediações do buraco e jogou-a para dentro do “some-some”: caso haja necessidade vamos subir feito o Tarzan fazia naqueles filmes de antigamente, vamos trabalhar sem as botinas para termos mais firmeza e rapidez na hora de agarrar no barranco; os cavalos vão ficar já bem de vista!
                               Depois de todos estes preparativos, começamos a lavrar o pau de que precisávamos, notei que o Batistão estava inquieto, azaranzado, olhava para tudo quanto é lado à procura de qualquer sinal de alerta; quem procura acha! De repente ouvimos um barulho vindo de bem longe de onde estávamos e que à medida que os segundos passavam, aumentava o seu volume.
                               - É a onça, fica velhaco home de Deus, vamos subir pra riba enquanto é tempo!
                           Dito isto, Batistão não gangorreou na indecisão nem inzonou na pensa, em duas ou três arrancadas chispou buraco acima, de onde iniciou uma carreira de dar inveja a qualquer cavalo de hipódromo; de um pulo montou no “criolinho” e meteu a espora no sobaco do alazão, deu umas pauladas no lombo do bicho e este empinou e como não animal plancheador, preferiu jogar o Batistão no chão.
                               Ele se esquecera de que o cavalo estava amarrado no “minduim-brabo”!
                               Quanto a onça, tratava-se, na verdade, de um casal de araras azuis         fazendo a maior estripulia.

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