MINHAS CRÔNICAS

quarta-feira, 14 de março de 2012

BATISTÃO FAZ COISAS QUE ATÉ DEUS DUVIDA!



Sei que o enunciado deste texto é uma blasfêmia, porém após a sua leitura, os meus leitores serão tentados a dar-me razão.
Como muitos sabem, o Batistão é um ex-funcionário da nossa fazenda que gosta de contar seus feitos por saber que sempre haverá um ouvinte interessado em conhecer as suas estripulias, nas quais, quase sempre ele envolve algumas outras pessoas, uma delas é o meu amigo Deracino que trabalhou conosco já há algum tempo.
Tudo começou à beira do rio Araguaia, na praia “Mata Corá”, onde Deracino estava ajudando meus amigos João “Filho da terra” e Osmaril a organizarem o acampamento, tido como o melhor de toda extensão do rio.
Segundo Deracino, era uma daquelas inigualáveis tarde-noites no acampamento, quando todos começavam a rodear a fogueira, adrede montada na praia, para ouvir as canções e o violão do João “Filho da terra”; o vento soprava sem força suficiente para fazer banzeiro, porém com a suavidade necessária para tornar o wisquinho com gelo mais suave e agradável, quando chegou o Batistão, vindo ninguém sabe de onde e pediu pouso; solicitação atendida com o aval do seu amigo Deracino.
Após se acomodar na roda, Batistão então contou a razão da sua presença naqueles ermos; ouçam-no, no relato do Deracino:
- Estou vindo da Bahia, mais precisamente de Barreiras, especialmente para caçar uma “queixada” ou porco do mato, como dizem aqui nas beiras do rio Araguaia; como não poderia ser diferente, esta afirmação causou, para dizer o mínimo, susto em todos os presentes.
Antes que alguém o questionasse, ele continuou:
- Vai haver, daqui a seis meses, uma corrida de porcos na feira da cidade e o prêmio é dinheiro para resolver minha vida, ano passado meu compadre Marrequinho quase ganhou, porém um danado de um porco “duroc”, por ter a perna mais comprida, venceu de barbada.
Dividi com o compadre as despesas da minha viagem e vim atrás destes porcos daqui que dizem ser mais rápidos do que cavalo desembestado.
Na verdade estes porcos são muito rápidos, porém são selvagens e violentos; é quase impossível pegar um deles, pois sempre andam aos bandos, disse, sem ser perguntado, o “João Tangerina”, acrescentando alguns outros detalhes da vida destes animais, para assombro de todos, que não sabiam que ele tivesse tanto conhecimento a este respeito.
Aqui, para os leitores que não conhecem o ambiente dos acampamentos da beira do rio Araguaia, preciso dizer que até hoje ninguém desmentiu um companheiro de pescaria, portanto...
 “Anliás”, eu até já cacei um, disse o Batistão, já mostrando um saco de estopa que estava aos seus pés e que, pela movimentação que fazia, dava mostras de haver algum animal no seu interior; os detalhes desta inacreditável captura Batistão não quis contar, talvez para não desmentir o “João Tangerina” que exagerou (?) nas dificuldades.
Quando digo que o Batistão faz coisas inacreditáveis não é exagero; o homem conseguiu pegar no meio da manada de queixadas um filhote que ainda estava mamando e saiu com vida desta empreitada.
“Anlias”, disse o Batistão, tá na hora de dar mamadeira para o bichinho que já está chorando de fome; incontinenti ele pegou o “porquinho” no colo e deu-lhe a mamadeira, na mesma posição como se fora para uma criança; o problema é na hora de dormir, falou ele, olhando um pouco desconfiado para todos os da roda: tem que ser na minha cama, senão ele chora a noite inteira e atrapalha o sono de todo mundo por perto.
Depois de contar detalhes da corrida a que ele iria participar com seu atual “porquinho”, falar da empolgação da população de Barreira com este acontecimento (Um mês antes do dia, ninguém mais fala em outra coisa!), dos preparativos dos competidores (enfeitam os porcos com cintas coloridas, amarram estrelas coloridas, feitas de panos, na testa dos bichos) e fazem apostas, muitas apostas.
Dia seguinte, ao se despedir, Batistão explicou que irá criar na sua casa o “queixadinha” debaixo de grande segredo, até o dia da festa; ao ser abraçado pelo “Grande Chefe” este lhe presenteou com algo que realmente iria definir a corrida a favor do Batistão; leve, disse ele, este “ferrãozinho” que retirei do rabo de uma arraia; na hora da largada, “cutuca” o traseiro do queixada com ele, faça somente na hora certa, porque o efeito é de imediato.
Ao embarcar na canoa, houve o famoso e tradicional “bota-fora”, todos se postaram as margens do rio cantando a conhecida valsa” Quem parte, leva saudade...”; podia-se ver o Batistão chorando copiosamente e gritando – Faz isto comigo não gente boa, acho que vou morrer de saudade “doceis” tudo.
No ano seguinte o Deracino contou o epílogo da história, Batistão, cuidou do “queixada” como se fora um filho, deu-lhe inclusive um nome ”ventania” e parece que o bichinho até entendia ao ser chamado; às vezes Batistão se levantava de madrugada, ia ao chiqueiro e trazia o “porquinho” para sua cama, como isto estava ficando cada vez mais frequente, sua mulher pediu “arrego” e sumiu no mundo.
No entanto ele cometeu um erro que foi fatal para suas pretensões, não seguiu corretamente as instruções do “Grande Chefe”; faltando uma semana para o dia da corrida, Batistão estava ficando cada vez mais agoniado e resolveu testar o “ferrãozinho” antes da hora que lhe havia sido, sabiamente, aconselhado.
Trouxe o “queixada” para a porta da sua casa, mandou o compadre Marrequinho ficar a uma distância de mais ou menos 200 metros e marcar no relógio o tempo gasto entre a largada e a chegada.
- Atenção compadre Marrequinho, fica esperto, gritou ele e incontinente deu uma “picada” no traseiro do queixada; não preciso dizer o que aconteceu:
- Nunca mais viram o Ventania, deve estar correndo até o dia de hoje!

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