MINHAS CRÔNICAS

segunda-feira, 22 de abril de 2013

CHARLES DICKENS E SEUS PERSONAGENS ASMÁTICOS



 
               O escritor inglês Charles Dickens que viveu no século 19 (1812/1870) é considerado, por muitos apreciadores da literatura, o maior novelista da época vitoriana e provavelmente, ao lado de Shakespeare, o mais popular escritor da língua inglesa de todos os tempos.
                Viveu grande parte da sua vida em Londres, em plena época da revolução industrial, quando o ar era carregado de fumaça e “fog”, portanto prejudicial à saúde, principalmente às pessoas suscetíveis a problemas respiratórios, que era o seu caso, pois sofria de asma desde a infância.
                Dickens foi um inovador na literatura, foi o pioneiro no gênero de história (novela) semanal, cujos capítulos eram publicados em fascículos, em jornais de grande circulação e com uma inovação, aliás, seguida hoje pelos autores de novelas da televisão, ele acompanhava a reação do público aos seus personagens e, de acordo com isto, ele modificava as suas ações.
                Conta-se que sua esposa, ao acompanhar pelo jornal a desenvoltura da personagem Miss Mowcher no romance “David Coperfield” que apresentava problemas físicos que não melhoravam no desenrolar da trama e por ser ela, a sua esposa, uma quiroprática (especialidade que se propõe a tratar de problemas físicos com ginástica), provavelmente sentiu que ele estava fazendo propaganda contra a sua profissão. A partir desta intervenção, Miss Mowcher criou melhor desenvoltura física.   
                Dickens conviveu com a asma durante quase toda sua vida, e nas correspondências que mantinha com amigos e parentes, o tema era recorrente; citava as noites em que ele não conseguia dormir pela constante tosse e para tanto usava doses excessivas de opiáceos, que era o remédio popularmente utilizado no tratamento desta doença, naquela época.
                Para deixar claro o quanto este problema de saúde o incomodava, Dickens costumava acometer alguns de seus personagens com esta doença; o mais emblemático deles é o Sr. Omer, presente no seu livro autobiográfico – David Coperfield.
                A cena ocorreu quando o narrador (no caso Dickens) foi para a cidade de Yarmouth e lá se encontrou com o proprietário de um shopping (Sr. Omer) quando travaram o seguinte diálogo: (tradução livre, resumida).
                “Eu pude ver, dentro do shop, a figura de senhor Omer fumando um cachimbo, no salão perto da porta; entrei e perguntei-lhe como estava passando.
                Agradeço pela minha vida e pela minha alma, disse ele, acrescentando - como vai você? Tome uma cadeira; o fumo não lhe desagrada, eu espero! De maneira alguma, disse, eu gosto de ver pessoas fumando.
Por que não usa você mesmo? Após dizer estas palavras o senhor Omer começou a rir; você tem razão, é um mau hábito para um jovem. Eu fumo para minha asma.
        O senhor Omer manteve-se atencioso para comigo, ele agora estava sentado respirando profundamente, aspirando o cachimbo como se nele estivesse o  suprimento necessário para viver e sem o qual ele provavelmente morreria.
        Veja-me. Meu vento pode acabar a qualquer momento e eu não gostaria disto; eu sei para onde meu vento irá e quando ele consegue fazer isto é como um par de foles insuflando o ar”.
                Outro personagem  de Dickens que era asmático é Mr. Sleary, na novela “Hard Times”; este senhor, já idoso e etilista, era proprietário de um circo, tinha um gênio agradável e comunicativo e adotava uma interessante filosofia de vida: - A vida não pode ser somente para o trabalho e nenhuma diversão.
        Dickens, ao descrevê-lo, disse: -  Mr. Sleary, que tinha problemas com a  asma e cuja respiração parecia ser muito grossa e pesada, vinha lá do fundo, emitindo um som semelhante ao que acontece quando se pronuncia a letra S.
        As pessoas que fazem crítica literária, muitas vezes nos surpreendem pelas suas análises; conseguem perceber detalhes que o leitor comum na alcança; meu confrade da AGL, Prof. José Fernandes, um dos melhores críticos literários da nossa região, ao analisar o livro “Maya”, de autoria do nosso outro confrade Dr. Ursulino Leão, revelou-nos alguns detalhes intrigantes da trama que o autor havia escondido nas entrelinhas.
        Vez por outra, alguns destes críticos também exageram nas “descobertas”, não consigo me lembrar do nome do autor que “viu” na famosa frase - Por favor, senhor, eu preciso de um pouco mais! - proferida pelo pequeno herói de um dos melhores livros de Dickens (Oliver Twist), a revelação de uma crise asmática do autor.
        Segundo aquele crítico, o menino (no caso, Dickens), estava precisando de ar e não, mais comida, que era o que o menino (Oliver) estava pedindo ao cozinheiro do orfanato onde ele estava morando!
 
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