MINHAS CRÔNICAS

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Discussão sobre crônicas (Parte II)


Alguns de meus personagens
 

Na ultima semana, dentre os muitos tópicos que foram discutidos sobre crônicas, lembro-me que chamei a atenção dos leitores quanto ao uso de personagens (fictícios ou não) para facilitar a empatia de quem está lendo o texto com o seu autor.

Costumo, com muita frequência, utilizar personagens fictícias nas minhas crônicas, algumas delas até de maneira repetitiva; acredito que esta é uma boa estratégia, tendo em vista a repercussão (cartas, e.mail’s) que a movimentação destas figuras nos textos costuma atingir os meus leitores.

Não faz muito tempo tive que esclarecer, ao final da narrativa de uma das costumeiras “artes” do Batistão, que o mesmo era um personagem de ficção, acrescentando: “O Batistão nunca existiu, o lugar onde ele mora, se é que ele mora em algum lugar, nem sei se existe, porém, tudo o que ele faz e diz é verdade”. Entenderam?

Como cultuo muito a literatura regionalista, utilizo em minhas crônicas e contos personagens “oriundas” do meio rural, algumas delas representam a justaposição de duas ou mais figuras que conheci no passado e que deixaram marcas indeléveis nas minhas reminiscências.

Muitas vezes, ao iniciar uma crônica, sinto que a personagem, a qual estou me referindo, toma conta da escrita e dirige, sem que eu perceba, toda a trama; com isto estou tentando dizer que ao escrever uma crônica que envolve apenas um personagem, o narrador precisa, até para “segurar” o leitor ao texto, descrevê-lo, as vezes algumas poucas caracterizações são suficientes, porém que estas sejam definidoras do seu biótipo, seu caráter e, sobretudo, sua onipresença na trama que será urdida. Cito alguns exemplos da minha lida:

MARIA JURUEMA, (Deixe-me contar enquanto me lembro, 2009) 

                        “Naquele domingo ela estava mais bonita do que o costume; o véu cobria-lhe a face, porém, não escondia os seus tentativos olhos negros, seus lábios, rebocados com muita discrição por um batom vermelho pálido, movimentava-se em silêncio, no compasso da reza; “adispois” aqueles cabelos no estilo pega-caboclo, cheios de cachos tentando encobrir-lhe a fronte, aqueles remelexos meio barulhentos que ela usava no braço, tudo isto transmitia, para ele, certa melúria”.

 

BATISTÃO (Alma do Sertanejo, 2011)·.

                      Batistão era bem moreno, magro, barba rala, sem bigode, porém com um par de costeletas enormes, dispostas à maneira de um triângulo de ápice superior, atingindo, na sua base alargada, até as imediações dos maxilares.  Sorriso de boca fechada, mãos calejadas e pés enfiados naquelas chinelas de borracha que são presas no vão dos dedos”.

 

AMOR DE VIUVA (Alma do Sertanejo, 2011).

                         “... Para ir à igreja na sua companhia, ela vestia aquelas roupas de chita estampadas, muito rodadas, fazendo “fru-fru” quando ela caminhava, o ombro, como convinha, era quase que descoberto, seu pescoço, modelarmente torneado, sustentava um rosto lindo e inocente; quando ria, o riso era leve, sem rumor, tal qual moça de família. E seu andar? Parecia o pisar de uma garça com a intenção de ser caçoísta com o companheiro: exagerava um pouco, porém sem excesso, o requebro do quadril.

                             Seu olhar? Ai meu Deus de misericórdia, quanta doçura! Deixava a moçada alvoroçada e com o coração em constante “bate-bate”; não lhe tiravam os olhos como se fossem jacarés chocando ovos, pareciam gaviões andando de um lado para o outro, comendo com os olhos aquela avezinha sem defesa; porém, ficavam somente na vontade porque aquela rolinha tinha dono”.

                           

                            Se o cronista, o contista ou mesmo o romancista quiser ser lido, precisa prender a atenção do leitor na primeira página do texto, às vezes na primeira sentença; uma boa descrição do personagem muitas vezes é o suficiente.

                            Gosto muito desta ultima descrição que transcrevi acima e acho que consegui agradar muitos dos meus leitores, pela constante troca de correspondência (internet); o maior elogio é a afirmação de um leitor que disse, textualmente: “deu-me vontade de conhecê-la pessoalmente e, sobretudo vê-la desfilar pelas ruas do lugarejo”.

                   Esta personagem que agradou meus leitores não era a que deu o título à crônica!

 

 

 

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