MINHAS CRÔNICAS

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

BATISTÃO E EÇA DE QUEIROZ



Eça de Queiroz
            
Semana passada, em uma das minhas investidas na biblioteca, encontrei um livro que há muito não folheava “A correspondência de Fradique Mendes, Eça de Queiroz, Editora Lello, Porto, 1933”; ao ler a carta que ele escreveu de Paris para seu amigo Ramalho Ortigão, deparei-me com uma passagem que me levou ao meu amigo Batistão.
            Sei que meus leitores não estão compreendendo esta ligação entre estes dois personagens com personalidades tão díspares, porém, peço-lhes paciência e leiam, inicialmente o resumo do que Eça diz ao seu amigo Ortigão e depois ouçam o que o Batistão me disse e vejam se não tenho razão em fazer a esdrúxula comparação.
            Eça, na companhia de dois outros amigos, tomava café em um daqueles famosos ambientes de Paris (café de La Paix) , quando se aproximou da mesa um argentino que era conhecido de um dos seus amigos, era o Sr. Mendibal.
            Com a maestria que lhe era peculiar, Eça consegue transpor para o papel o que o Sr. Mendibal falou a respeito da sua esposa (dele, Mendibal) e, principalmente os seus cuidados (dela) para com a mãe do Mendibal,  antes disto tudo ele explica a razão de aquele assunto entrar na roda de discussão na mesa.
            Com o fino humor que lhe caracterizava a escrita, ele diz “Mendibal, tendo posto ao lado sobre uma cadeira, com cuidados devotos, o ramo de cravos, desfiava as virtudes e os encantos de Madame”; “ Sentia-se ali uma d’essas admirações efervescentes, borbulhantes, que se não podem retrair, que transbordam por toda a parte, mesmo por sobre as mesas dos cafés””;  “onde quer que passasse, aquele homem iria deixando escorrer a sua adoração pela mulher, como um guarda-chuva encharcado vai fatalmente pingando água”; “O prazer que ele repuxava mais para fora o caroço da garganta, revelou que madame Mendibal era francesa”; e assim por diante até se dirigir, especialmente a Eça, para falar dos predicados de Madame, como nora. 
            “Sim, positivamente, não havia outra em Paris! Por exemplo, o carinho com que ela “cuidava da mamã (da mamã dele, Mendibal), senhora de grande idade, cheia de achaques! Pois era uma paciência, uma delicadeza, uma sujeição... De cair de joelhos! Então nos últimos dias a mamã andara tão rabujenta!... Madame Mendibal até emagrecera”.
            Até comecei, diz Eça, a simpatizar com o argentino, por compreendê-lo e não poderia haver nada mais sinceramente grotesco e tocante do que ouvi-lo, pois então continuemos a fazê-lo: “Neste domingo lhe pedi que se fosse a Versallhes, onde a mamã dela, madame Jouffroy, habitava por economia; pois senhores, todo o dia em Versalhes, a santa criatura estivera com cuidado na sogra, cheia de saudades da casa, n’uma ânsia de recolher! A maior parte da tarde e uma tarde tão linda gastara-a a reunir aquele esplêndido ramo de cravos amarelos para lhe trazer, a ele”.
            “É verdade! Veja o senhor! Este ramo de cravos! Até consola. Eu não sei se o senhor é casado. Perdoe a confiança. Mas se não é, sempre lhe direi, como digo a todo mundo: - Case com uma francesa, case com uma francesa!”.
            Na verdade o Batistão, até pela sua cultura machista arraigada na sua natureza, embora possa ser carinhoso (ao seu jeito) com a sua esposa Narandinha, não podemos dizer que ele tenha os rompantes de galanteios semelhantes aos do argentino de Eça de Queiroz; ele a ama a seu modo (desde que ela se adapte ao seu!).
            A prova disto passo a lhes contar: - Em uma tarde, à beira do curral, após soltarmos as últimas cabeças do gado, encostamos debaixo de um Ipê que sombreava um toco de angico, onde sentamos para tomar um pouco de água e, nem sei por que, começamos a falar sobre o relacionamento familiar, especificamente entre marido e mulher.
- Olha!  “Dotor”, mulher para viver junto com mais eu, debaixo do meu teto, deve ser igual à água do córrego que desce da serra, escorregando por cima das pedras, às vezes levando lambadas nos barrancos, porém não foge do rumo que foi determinado por Deus: chegar até o rio, com a cor branquinha e sossegada.
Num gosto de mulher novidadeira, mexeriqueira, destas que pegam a fuxicar com o que acontece na casa de fulana, sicrana e beltrana; devagar vai perdendo o rumo e desguarita para fora do leito, igual ribeirão que na curva apertada, perde o rumo e descamba pro varjão.
Quanto ao seu relacionamento com a sogra mereceria um capítulo à parte, porém, como o espaço é pequeno para relatar em detalhes o que sei, posso dizer que infelizmente o Batistão, depois de muitas discussões, que começaram após a mãe de Narandinha vir morar com o casal, apelou para a ignorância.
- Os finalmente ocorreram justamente no dia em que eu tava com “má intenção” com a Narandinha, conta ele, piscando um dos olhos com um sorriso de galhofa: o sol estava quase que escondendo por detrás do morro, era o lusque-fusque do dia, avistei a “marvada” na janela, enfeitada com uma flor de margarida amarela no cabelo que brilhava na briga com as faíscas do sol, que também clareava sua feição; Ai, Deus! Ao chegar à soleira da porta ela veio me receber com a alegria da mulher do canarinho da terra que encontra a companheiro.
Quando encostamos as duas caras um no outro, escuto a “cascavel” da minha sogra falar cheia de razão: - Está faltando mistura para fazer o jantar, homem de Deus, faça sua obrigação e vá buscar!
Não vou contar em detalhes o que aconteceu!
Foram embora as duas, este é o problema de morar com sogra, parece que viram “irmãos filipes”; uma não fica sem a outra; dois meses depois, voltaram as DUAS!


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