MINHAS CRÔNICAS

domingo, 22 de setembro de 2013

Cartas de Amor que escrevi

                 Dias destes, como fazemos a cada 15 dias, fui almoçar com um confrade (o advogado Dr. Eurico Barbosa) da Academia Goiana de Letras, unicamente para nos reencontrar e discutir, com prioridade, tertúlias literárias.
                      Lá pelas tantas, Eurico traz à baila o assunto “internet”, com todas as suas implicações, principalmente o seu uso exagerado pelo público jovem, por intermédio das “redes sociais”.
                      Eurico chama a atenção para o fato de que a juventude está de tal maneira envolvida com esta parafernália que chega a lhe preocupar; preste atenção, diz ele, “ na sua própria casa, as crianças e os adolescentes, dificilmente sentam-se com os adultos, mesmo com os parentes, para conversarem – preferem o magnetismo do telefone celular conectado à internet”.
                     O estilo de escrita que eles usam, falo eu, poderá ser até ininteligível para quem não está acostumado; a grande maioria das palavras são grafadas por abreviaturas (rs-sorriso; rsrsrs-gargalhada; tb-também) etc. 
                     Este fenômeno está acabando com a “carta” coloquial, tão ao gosto da população até há poucos anos; hoje em dia, quando queremos nos comunicar com um amigo, utilizamos o correio eletrônico (e.mail) que, por comodidade na hora de se digitar, são resumidos, desaparecendo, por completo, os enfeites literários nas frases; o romantismo das cartas de amor que originariamente foram escritas manualmente, só são encontradas, hoje em dia, em antigos livros, escondidos nos “sebos”.
                     Não sei se é verdade, nunca havia visto esta citação atribuída a Einstein - meu grande medo, teria dito ele, é a possibilidade da tecnologia avançada isolar as pessoas no futuro; esta citação é ilustrada com uma fotografia onde se vê cerca de 15  jovens sentados ao redor de uma mesa, todas elas vivendo seus mundos particulares, com os olhos e os dedos grudados no “smart fone”, parece que desconhecendo a presença dos seus possíveis amigos.
                     Ao voltar para casa, ainda bem presente o eco daquela discussão, procurei a gaveta onde arquivo as cartas coloquiais que recebi ou enviei aos amigos; deparei-me com a que transcrevo no texto e convido os amigos leitores a lerem comigo; antes disto, preciso informar que o Prof. Basileu era meu amigo de muitos anos (infelizmente já é falecido),  morava perto da minha residência e, de vez em quando, escrevia-lhe cartas e, ao invés de enviá-las pelo correio, entregava pessoalmente para o porteiro do seu prédio.
                   Permitam-me, também, que explique um pouco mais a razão desta carta; havia chegado de uma viagem à Turquia, onde tive a oportunidade de conhecer Éfeso, cidade onde viveram e pregaram o cristianismo, Paulo de Tarso e João Evangelista e, ao comentar com ele este episódio, mostrou-se interessado em saber mais detalhes; observem que o obriguei, pela curiosidade que deverei  lhe ter despertado, a procurar, por si mesmo, mais informações a respeito do assunto, além, de “viajar” na sua companhia para o ambiente que ele tanta gostava, a natureza!

Ao mestre, com carinho!
Prof. Basileu Toledo França

                   Infelizmente, por motivos alheios à minha vontade, não pude estar presente na solenidade de lançamento do seu  livro “Velhas Escolas”.
                   Gostaria, no entanto, de ressaltar que mesmo distante  (estava em Cuiabá naquela oportunidade), pensei no senhor, com carinho e muita admiração. Goiás deve muito à sua pena inteligente e lúcida.
                   Parabenizo-o com sinceridade!
                   Semana passada estive novamente na Santa Tereza, lembrei-me muito do senhor; pelo milagre da telepatia, “conversamos” sobre vários assuntos, alguns deles prazerosos para mim, como as suas dissertações sobre a história de Goiás, em outros, somos irmãos de sentimentos:
- O mundo da natureza!
                   Chovia, chuva miúda, porém constante; sentamos à varanda, estiramos as pernas com comodidade; por alguns instantes, permanecemos calados, somente ouvindo o som da natureza. De repente o céu tornou-se mais escuro, o vento começou a açoitar as árvores, no inicio com delicadeza, depois se tornou mais agressivo, vergando o caule dos eucaliptos, até com alguma selvageria. A natureza das suas raízes suporta este açoite com galhardia e obstinação.
           Daqui, de onde “estamos”, pode-se ver, ao fundo, uma fileira de árvores, dispostas como se fossem as garbosas e seculares colunas de “Mercantile Agora”, erigidas no século 1º da nossa Era, em Éfeso, na Turquia.
                   Certamente, estas nossas arvores não serão perenes como aquelas, porém o simples fato de permitirem que desfrutemos hoje da sua companhia valeu a pena terem sido plantadas. Se, no futuro, ficar apenas o registro das suas presenças no pretérito, desejaríamos que estas lembranças fossem comparáveis, pelo menos no plano temporal, à famosa Coluna de Artemis que, embora isolada do contexto das ruínas do Império de Píndaro, permanece imponente, informando aos curiosos que ali foi erigido um templo.
A chuva diminui de intensidade, gradativamente vai cessando;
alguns pássaros reiniciam seus diálogos que haviam sido interrompidos; uma rosa balança no canteiro bem perto da nossa casa, a brisa que passa rasante ao seu caule, movimenta-a com delicadeza.
Um perfume suave chega até onde estamos!
          Volto a sintonizar com o meu mundo real, obrigando-me a interromper nosso “diálogo”.
 Ficou a certeza da sua possibilidade.
         Seu amigo Hélio Moreira




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