MINHAS CRÔNICAS

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

DEIXE-ME CONTAR ENQUANTO ME LEMBRO
(janeiro de 1998)

PESCARIA NA COMPANHIA DOS PEÕES
Semana passada estive na Fazenda de Edéia, fui com Batistão; diverti-me bastante com as suas estórias.
Quando começou o lusco-fusco da tarde resolvemos, Batistão, Nandinho e eu, irmos pescar lá para as bandas do pasto sucuri, em um poço feito pelo ribeirão Fala a verdade e cevado pela dupla, nas “horas vagas”, como me afirmam.
Enquanto eram ultimados os preparativos (colocar linha, anzol, chumbada, arrancar minhocas) a conversa que rolava era a respeito de pescarias anteriores naquele lugar.
- Uma vez peguei uma traíra soberba, tinha quase dois palmos, infelizmente não consegui tirá-la para fora d’água porque a linha arrebentou, por isto, daquela época em diante, só uso linha sacudida.
- Batistão, também não é preciso exagerar, linha 80 é para pegar filhote!
- Prefiro pecar por sobra do que por falta seu Dotô!
O único medo que tenho daquele poço é da tar de sicuri, diz o receoso Nandinho, acho que ela mora por lá, pois, já vi rastro dela no capim que rodeia o córrego.
Dotô, o senhor vai a pé? Pergunta, a até agora calada Didalva, esposa do Nandinho, para em seguida sentenciar: o senhor não tem costume e o capim está batendo na cintura do cidadão e acho perigoso.
- É só uns trechos que estão assim, não tem perigo não seu Dotô, é prosaria desta mulher implicante!
Por via das dúvidas e, principalmente, para não ser descortês com a observação da dama, mandei arrear um cavalo, de preferência o mais alto deles, com a desculpa, para não parecer que estava “fugindo da rinha”, de que na volta o capim estaria molhado e não gostaria de pegar um resfriado...
Se a justificativa me absolveu não sei, mas que consegui ver um discreto ar de riso no rosto da conselheira Didalva, isto eu vi!
Na beira do poção, como era de se esperar, a conversa correu solta, centrada, principalmente, na vida do bom Nandinho.
- Como é, ocê tem furado o queijo?
- Tem melhorado um pouco, uma vez a cada quinze, vinte dias, porém, ainda não está do meu gosto.
- Ocê tem que dar um jeito homem, arranja outra mulher.
Aqui preciso dizer, embora sem muita convicção, que estou achando que o Batistão está com uma mensagem cifrada, acho que ele está querendo empurrar uma cunhada dele, como veremos no final da história, para cima do Nandinho.
- Batistão, foi bom você tocar no assunto, você sabe que a Nilda me mandou uma carta e que a guardei no vão das telhas lá da sua casa?
Apenas por ingênua curiosidade, quis saber os dizeres da mesma e a razão do inusitado esconderijo, até porque, a partir do momento em que você toma conhecimento de um segredo, passa a ser participe do mesmo.
- Uma porção de coisas seu Dotô! Muitas coisas não consegui entender direito, não sei se é por causa do meu estudo que não é muito bom ou a letra dela que é muito “garranchada”. Ela fala até uns palavrões.
- Palavrão?
- Diz que está louca para transar comigo, me matá de sofreguidão, nem sei o que é isto?!
- Nandinho, uma vez, antes de você juntá os trapos com a Didalva, a minha comadre Nilda me disse que achava que ocê não era de nada, ela disse que foi na sua casa, te espremeu num canto do quarto, te agarrou e nada...
- Também pudera Batistão, como eu poderia fazer alguma coisa, sabendo que o marido dela estava por perto?
- Bobage sua, o marido não queria nem saber dela e ela o achava meio vinte-e-quatro.
- É, pode ser que ele fosse meio frescão, mas só de olhar para aquele morenão com dois metros de peito, qualquer um assusta, não é mesmo? Depois, meu irmão me preveniu para não me enroscar com ela, porque é “chifre” na certa.
- Agora ela está bem mais calma, casou com um catatau meio estrangolado, arengueiro feito ele só, porém, bravo que nem um baguá bulindo as orelhas.
- Mas ela continua frequentando o bailão que estava acostumada?
- De jeito nenhum, o baixinho não a deixa por os pés para fora de casa!
- E a Tereza Batistão, já arranjou home?
- Ainda não, anliás, ela tá que manda recado para você (aqui, no meu entender, começam as manobras do Batistão...)
- É, ela é muito gostosa!
- Só isto? Ela é gostosa e fogosa! E os olhos tiranos que ela tem? Se eu fosse você, largava esta sua mulher e amarrava as trouxas com a Tereza.
- Você sabe que tenho vontade de fazer isto Batistão, mas estou achando difícil largar esta mulher, já dei todas as indiretas e diretas e nada. A ultima vez que brigamos, foi por causa de sexo, ela agora quer que eu use camisinha!
- Por que camisinha, você está com AIDS?
- Deus me livre, esconjuro! O medo dela é eu passar a minha diabetes para ela!
Sei que os leitores devem estar curiosos para saber se pegamos algum peixe.
Nenhum!



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