MINHAS CRÔNICAS

sábado, 10 de outubro de 2009

A MOÇA MAIS BONITA DE CATALÃO

Lendo o Diário da Manhã, chama-me a atenção uma discussão que vem se mantendo há varias semanas: o concurso para musa dos times de futebol profissional do nosso Estado.
Não querendo percorrer as raias do preconceito, observo que o enfoque, como deve ser natural em um certame com este desiderato, é todo dirigido para as qualidades físicas das concorrentes.
Discordo, se é que posso “meter minha colher de pau ” no assunto, o fato de o enfoque ser exclusivo para a discussão sobre as qualidades das pernas, dos bumbuns, dos seios, etc.; chama a atenção as minientrevistas das candidatas: “minha fantasia sexual é fazer sexo debaixo de uma cachoeira”, “ transar em uma ilha deserta”, “gostaria de posar nua, aliás, não completamente nua, expor apenas algumas partes intimas do meu corpo” etc..
Cabe a pergunta: as senhoritas candidatas não possuiriam outros predicados?
Não é intuito fazer um comparativo, porém, para curiosidade, repercuto um acontecimento ocorrido na cidade de Catalão no inicio do século XX e que foi publicado no jornal “O Araguary” de Araguari, no Triângulo Mineiro.
. Antes de entrar no assunto, propriamente dito, transcrevo os versos ingênuos de um poeta apaixonado, escritos na mesma época do fato a que me proponho contar.
Qui moça bunita / Meus olhu inxergô,
Saiu nu salão / I num bancu assentô,
U meu corpu tremeu / Meu coração parô,
As corda da viola / Di alegre chorô.
Um adeus de namorados – Pascoal Baer Guimarães, 1929.
Foi justamente neste ano de 1929 que a cidade de Catalão promoveu um concurso para eleger a mais bela senhorita da cidade. A razão deste concurso era a necessidade de se escolher a representante do municipio para o certame que seria realizado na capital do Estado, aonde a vencedora iria disputar, com as representantes dos outros municípios, o título de Miss Goyaz.
O Intendente Municipal informava, por meio de edital, “que as despesas desta viagem, ida e volta, seriam às expensas do município e a candidata que fosse escolhida como a mais bela do estado, ainda faria jus ao premio de 1:500$000 a ser oferecido pela redação do jornal “O Democrata” e as despesas da viagem, ida e volta, ao Rio de Janeiro, seriam custeadas pela redação do jornal “A Noite”.
Finalmente, informava ainda o edital, “caso ocorresse que a candidata vencedora estivesse impossibilitada de ir, pessoalmente, à capital de Goyaz, a mesma se obrigaria a enviar à redação do jornal “O democrata” uma fotografia, para que pudesse ser julgada pela Comissão Central do concurso”.
No dia 17 de fevereiro de 1929, segundo informa, ipsis verbis, o citado jornal “na sala do Paço Municipal de Catalão, com a presença do Senhor Major Antonio de Paiva, Intendente Municipal, senhores Luiz Alcântara de Oliveira e Diocles Gomes Barbo de Siqueira, procedeu-se a apuração dos votos.
Aberta a urna, constatou-se 265 cédulas, devidamente assinadas pelos respectivos votantes, cuja apuração, de acordo com as instruções da Comissão Central do Estado, indicou o seguinte resultado:
Dália Sampaio 173 votos, Flora Sylvia Victor Rodrigues 33 votos, Floracy Artiaga 13 votos, Gloria Porto Guimarães 4 votos, Marieta de Melo 3 votos, Dhalia Branca do Brazil 2 votos, Hilda Margon 2 votos,Amélia Kotnick 2 votos, Ignácia Guimarães 1 voto, Astréa Bretas 1 voto, Maria da Rocha 1 voto, Helena Paranhos 1 voto. Deixaram de serem apurados 25 votos por não preencherem os requisitos exigidos para o concurso.
À vista do resultado acima obtido, a Comissão proclamou a senhorita Dália Sampaio a mais bela deste município, do que, para constar, mandou-se lavrar ata, que foi assinada pela Comissão e extraída duas copias, que serão remetidas, uma à senhorita mais votada e a outra à Comissão Central da Capital.
O documento, após constatação de que foi transcrito fielmente, foi assinado pelos membros da Comissão e pelo secretário da Intendência, senhor Rômulo Costa que, também, o datilografou”.
Aconteceu o previsto, a família de Dália não permitiu que a mesma viajasse para a capital para participar do certame estadual; não consegui a informação se ela mandou ou não a fotografia, porém, tudo leva a crer que sim, pois os compromissos eram para serem honrados.
Quando afirmo que aconteceu o previsto, levo em consideração as condições sociais da mulher naquela época, quando era muito arraigado o preconceito contra o sexo feminino.
Até o final dos seus dias Da. Dália, minha sogra, continuou sendo uma linda mulher; sua elegância no vestir, em se portar em publico, até a maneira de se sentar em uma cadeira, a distinguia das demais em um salão.
Trajava-se com discreta elegância, rosto liso, sem rugas, olhos vivos e atentos aos movimentos do interlocutor, cabelos absolutamente brancos e bem cuidados; ao beijá-la, como costumeiramente fazíamos, sentia-se um discreto perfume (Fleur de Rocaille era o seu preferido), que levávamos como lembrança da sua presença afirmativa e bondosa.
Parece que ainda hoje, toda vez que alguém toca a campainha da nossa casa, temos a sensação de que ela está de volta, com o mesmo sorriso, com a mesma alegria, sempre disposta a contar-nos coisas da sua vida passada, inclusive sobre o concurso que ela ganhou, porém, não foi buscar o prêmio.
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