MINHAS CRÔNICAS

sábado, 10 de outubro de 2009

O que é pior, picada de cobra ou ferroada de marimbondo?

Foi aqui, nas imediações do rio Paranaíba, que tivemos o primeiro acidente com picada de cobra; um dos peões que auxiliava o nêgo Tabaco na vigilância da tropa, descuidou-se e pisou em uma enorme cascavel. Ouvimos um grito ensurdecedor, seguido de uma correria de gente para o local; o pobre homem se retorcia, tinha a face desfigurada pela dor ou provavelmente pela angústia de ter sido ferido por animal de peçonha tão difícil de ser tratada.
Sr.João Catalão, o curador da comitiva, chegou ao local primeiro do que a maioria dos peões; de longe já se escutavam suas ordens, sendo dadas com voz autoritária:
- Busca no meu embornal, sem nenhuma demora, um pedaço de casco de tatu que esta enrolado nuns trapos; Antonio Martins, vai depressa e coloca ele prá ferver, só me traga aqui quando ficar gosmento; me empresta sua faca prá móde eu lancetá o local; preciso de alguém de vanceis que não tem dente locado e sem pinguela, pra móde chupar a ferida; vai cortando o fumo de rodela; alguém mija aqui nesta caneca; Antonio Martins, trais correndo um pouco de sal, vancê aí que esta olhando, faça as misturas destes ingredientes, prá móde eu esfregá na ferida; mataram a peçonhenta? Não deixem ela escapar, pra móde não comprometer o resultado do tratamento.
Antonio Martins, quando ficar pronto o escaldado que vancê está fazendo, dá uma colher, das grandes, para o homem beber de hora em hora, mais, presta atenção pra móde ele num pinchá o produto fora, senão não faz efeito.
Daqui prá frente, seja o que Nossa Senhora da Abadia reservar prá nóis e pro pobre coitado! Nossa Senhora da Abadia nunca falta pros povos pobre e trabalhador, acumo esse homem azarado; nóis somos iguais a formiga cabeçuda, tem respirador pra tudo quanto é banda.
- Eu acredito que vai ficar bom, diz o chefe Vital com confiança e com a voz de trovão característica, já vi caso pior que este, caso do indivíduo ficar com o veneno nos corpo por três dias e, um outro curador, igual ao Seu João Catalão, deu jeito.
Para dizer a verdade, não é da cobra peçonhenta que tenho mais medo hoje em dia, porque para esta danada nóis já tem solução, porém, pros marimbondos nóis num tem; parece que o ferrão do malvado fica encravado nos nosso corpo e vai azedando digavar. Uma vez fui picado por um bando destas avezinhas que quase me deixou doido, a história aconteceu assim: fui tentar tirar um mel de abelha europa em um emaranhado de assapeche, quando infiei minha mão na arapuca que elas fizeram, veio um bando de marimbondos que escureceu inté o semblante do sol, tentei correr, mais fiquei engarranchado no sapezal, a primeira coisa que as danada fizeram foi acertar a corcóva dos meus olhos, fiquei ceguinho da silva e sem rumo nem beira, varei no peito tudo quanto é moita que encontrei pela frente até encontrar um córrego que me salvou, pulei de ponta...
Fiquei inchado uns cinco dias, quase que não enxergava nada, meus beiço ficou com parecença de ser uma tromba de elefante. Usei toda espécie de remédio que me ensinaram, mais num deu resultado.
- Pra estes casos o melhor a fazer é pegar uma folha verde de qualquer planta, apertar ela no dente e adispois colocar ela distrais das orelhas, agaranto que num deixa inchá de jeito maneira.
- Eu fisso isso Seu Catalão, só que dei azar, no desispero mordí na folha de urtiga, queimou minha boca igual se tivesse sido provocado por uma taturana preta, o inchaço do corpo desapareceu primeiro que o alejume da boca.
Hoje em dia fiquei velhaco, corro as léguas destes bichos!

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