MINHAS CRÔNICAS

sexta-feira, 25 de junho de 2010

LONDRES – DEMOLIRAM A CASA DO BANQUEIRO!

No livro “Couto de Magalhães – O Último desbravador do Império” relato um jantar na casa dos Waring, um dos últimos acontecimentos sociais de que o General Couto de Magalhães participou em Londres, antes de retornar ao Brasil, já no final do ano de 1880.
Os leitores que me honraram com a leitura do meu citado livro, devem se lembrar que Waring era o engenheiro que ajudou o General no encaminhamento do seu pedido de empréstimo junto aos banqueiros de Londres para a construção da ferrovia Rio a Minas Gerais, cuja concessão lhe havia sido concedida por Dom Pedro II.
Durante o café da manhã, Hélio Junior e eu consultamos nossos mapas à procura da
Grosvenor Square, 17 (Quadra Grosvenor), local onde residiu o Dr. Charles Waring, como adrede sabíamos; a localização do hotel Intercontinental, onde estávamos hospedados, nas imediações do Hyde Park Corner, permitiria que fossemos caminhando, aliás repetindo, praticamente, parte do mesmo trajeto que havia sido feito por Couto de Magalhães, ao se deslocar da sua casa na Marylebone Road, com uma única diferença: ele utilizara, naquela oportunidade, uma carruagem Victoria puxada por dois cavalos.
É interessante a vida urbana de Londres; naquela época este sitio estava localizado em local onde residiam pessoas de altas posses pecuniárias; um dos guias que havia comprado em um sebo em Londres, O Baedecker de 1911, continuava confirmando esta informação; ainda hoje os atuais guias repetem que naquela zona se concentram as mais caras corporações imobiliárias de Londres.
Devo confessar que fiquei um pouco decepcionado com as mudanças que ocorreram na Grosvenor Square; a descrição do local, como narrei no livro, não correspondia ao que via agora; não existem casas, como aquela onde morou Waring e que descrevi com tantos detalhes, apenas prédios de apartamentos.
Procurei me inteirar o que ocorrera e descobri:
Quando surgiu a idéia de contruir as casas que iriam compor aquela quadra (final do século 18) a intenção era causar grande impressão e principalmente trazer privacidade para os moradores; cada casa obedecia, na sua arquitetura, os desejos dos futuros moradores; integrando o conjunto, foi construído um enorme jardim no centro das construções, para uso exclusivo daqueles moradores; seria como em nossos condomínios fechados de hoje em dia.
Não é preciso enfatizar que os moradores daquela “quadra” eram pessoas possuidoras de alto poder aquisitivo e a maioria delas possuía vivendas fora de Londres e usavam aquele “condomínio” apenas por alguns meses do ano.
Houve grande transformação; praticamente todas aquelas casas foram demolidas durante o século 20, principalmente após a segunda guerra mundial, e substituídas por prédios de apartamentos, hotéis e algumas embaixadas de países, como o Canadá e os Estados Unidos; o jardim central foi transformado em jardim público e é mantido pela municipalidade de Londres.
É a lei natural da vida; é preciso ter em conta a expectativa dos que vão chegando, fazendo a fila seguir em frente; os dias, anos e até os séculos passam com muita rapidez, escorregam pelos vãos dos dedos, deixando-nos impotentes; o tempo, sob esta óptica, parece um instante; Montaigne, escritor e pensador francês, escreveu “Devemos viver sem perder de vista aqueles que vão chegando, com seus sonhos, suas esperanças e suas ilusões”.
Aquele ambiente, seguramente tão resguardado na era Vitoriana, traz alguma desolação para alguém que procurasse elos que levassem ao passado; as pontes que faziam a ligação entre o hoje e o ontem foram destruídas.
Oscar Wilde, magistral escritor, poeta e teatrólogo, que viveu em Londres na mesma época daqueles acontecimentos vividos pelo Dr. Waring, deixou registrado para a posteridade seu irônico menosprezo pelos habitantes da Grosvenor square do final do século 19.
Na sua última e, para muitos críticos, a mais notável peça teatral, intitulada “A Importância de ser prudente”; com a qual, em quatro atos, o autor, com a sua aguda inteligência e refinado humor, mostrou que a necessidade da comicidade tem como fonte a realidade ridicularizada.
No desenvolvimento da trama da peça ele encarou as coisas fúteis com seriedade, e todas as coisas sérias da vida com sincera e estudada futilidade, Wilde parodia sua própria tendência de busca de contradições, transformando o sério personagem Jack no frívolo Ernest.
O trecho que gostaríamos de realçar, concernente à citação da quadra Grovesnor por um dos personagens (Lady Bracknell), ocorre quando ela interroga o personagem Jack, pretendente à mão da sua filha.
- Boa idade para se casar; eu tenho a opinião de que um homem que deseja se casar deve saber sobre tudo ou não saber de nada. O que você sabe?
- Eu não sei nada Lady.
- Fico feliz de ouvir isto; a ignorância é como uma fruta exótica, se você a toca perde o gosto. Felizmente, na Inglaterra a educação não produz nenhum efeito. Se produzisse, causaria sério perigo para a classe alta e provavelmente levaria a atos de violência na Grosvenor Square.

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial