MINHAS CRÔNICAS

quarta-feira, 4 de maio de 2011

ASCENSÃO DO NAZISMO! O POVO ALEMÃO NÃO PERCEBEU?

É um fenômeno recorrente, a multidão é sempre arrastada, inconscientemente, ao encontro das idéias de grandes líderes ou mesmo, de correntes de idéias sociais da lavra de alguns deles; outro dia, lendo aqui no Diário da Manhã o texto “Reflexões sobre um tempo”, aliás, muito bem redigido, do Professor de História Marcantônio Dela Côrte, fiz uma interface com alguns trechos do livro que publiquei em 2001 ”Entre o Sonho e a realidade, do Brasil dos anos 60 à Rússia dos anos 90”.

Relato naquele meu livro, entre outras coisas, as peripécias que a juventude estudantil dos anos de 1960 enfrentou, nos sonhos do idealismo próprio dos jovens, muitas vezes sem entender, por completo, o fenômeno que nos arrastava, como um turbilhão, para as ideias socialistas; vejo similaridade entre alguns daqueles “meus” acontecimentos e os narrados pelo Prof. Marcantônio.

Hoje, vivendo na planície da minha existência e, modestamente, escudado no aprimoramento intelectual que hauri durante minha caminhada pela vida, acho que posso, modestamente, entender um pouco mais aquele fenômeno a que me referi.

Não faz muito tempo tive acesso a um livro, cuja leitura me permitiu sedimentar um pouco mais estas minhas ideias e passo aos meus leitores as conclusões a que cheguei; trata-se de “Adeus a Berlim” escrito pelo inglês Christopher Isherwood, em 1939.

Na verdade, o livro é uma coletânea de seis contos, cuja narrativa é continua pela interligação dos vários protagonistas de cada um deles, onde o autor narra na primeira pessoa, (dando o próprio nome ao “eu”) traça o perfil da cidade e dos habitantes de Berlim nos anos de 1930, onde seus personagens vivem os sintomas da inquietação política e social que agitava o país naquela época, culminando, como sabemos, com o nascimento do pesadelo nazista; só para curiosidade, um destes contos “Sally Bowles” serviu de base para o roteiro do famoso filme musical norte-americano ”Cabaret”, estrelado por Liza Minnelli.

O escritor Isherwood tinha vinte e seis anos de idade quando chegou à Berlim em 1930 com a intenção de aprender o alemão e, para se sustentar, dava aulas de inglês, tendo ali permanecido até 1934, quando viajou para Londres para fugir da repressão nazista; sua narrativa é um monumental documento social da época, principalmente, por ser estrangeiro captava as movimentações sem se envolver, como ele mesmo disse logo no inicio. “eu sou uma câmara fotográfica com o obturador aberto, bem passiva, que registra, não pensa”.

É interessante acompanhar o relato das histórias e ir notando a evolução das reações das pessoas, à medida que o tempo ia passando e a situação política ia-se modificando; no primeiro conto, escrito em 1930, vamos encontrá-lo se instalando em um apartamento familiar (Fraulein Schroeder, a proprietária), onde se hospedam outros quatro inquilinos (dois homens e duas mulheres); Isherwood parece se divertir ao descrever as atividades de cada um deles (um barman, uma garota de programa, um caixeiro viajante e uma cantora de cabaré que tem idéias nazistas).

Cada um destes personagens e mais alguns outros que foram sendo incorporados à narrativa, apresentam suas próprias idiossincrasias; segui-los pela linha do tempo é um exercício de incorporação de conhecimento social muito interessante; à medida que a ideologia nazista ia ganhando força dentro da sociedade alemã, não se percebe, em quase todos eles (exceção do narrador), qualquer sinal de preocupação com os rumos políticos do país; a luta era pela sobrevivência pessoal e, para tanto, iam se adaptando de acordo com a necessidade.

A personagem Frl. Schoroeder por exemplo, “foi rica e que ficou quase que na miséria após a superinflação desencadeada pela primeira guerra mundial, hoje, para se sustentar, dorme em um pequeno sofá na sala, para sobrar mais um quarto para alugar (...) agora é parte da classe pobre, como é a maioria da população alemã (...) ela aceita isto porque não tem escolha e, também, acredita que este estágio social é necessário para alcançar, segundo as promessas dos governantes, outro degrau social”

Estas ideias levavam a outra personagem (cantora de cabaré) a achar que os alemães eram superiores a outras raças, principalmente os Judeus, levando-a, inclusive, a aplaudir a famosa noite das “vidraças quebradas”, quando agitadores nazistas apedrejaram todas as lojas pertencentes a Judeus; por outro lado a “garota de programa” não se preocupava com o que Hitler fazia ou deixava de fazer, seu problema eram os homens e o dinheiro que possuíam.

Interessante que mesmo alguns Judeus ricos não percebiam esta transformação; o autor foi professor de uma moça (Hippi), filha da família Bersteins e ela contou-lhe que seu pai não deixava a esposa ir às compras utilizando o carro, porque corria o risco de apedrejarem –no, levando-o a ter prejuízo para consertá-lo (!!!); outra família Judia, proprietária de uma grande loja de departamentos, a “Landauer”, cuja filha (Natalie) tornou-se grande amiga de Isherwood e, por seu intermédio, ele se aproximou dos mesmos.

Antes de a fúria nazista ter levado-os à falência (com a presença de nazistas uniformizados nas portas da loja, impedindo que o povo entrasse para comprar, repetidos quebra-quebras de vitrines, além de inúmeros bilhetes oriundos dos nazistas, ameaçando-os de morte); parece que viviam em outro mundo, com evidente ostentação de riqueza.

Como curiosidade, é bom que se diga que a “Landauer” foi fundada em 1865 por Simon Landauer e, após a segunda guerra mundial, os seus descendentes (hoje na 4ª. geração) deram continuidade ao negócio e é possível encontrá-la em vários países da Europa e nos EE.UU., especialmente no estado de Nova York.

Um dia perguntei a um médico alemão, meu amigo: - por que o povo alemão não se indignava com as ocorrências cotidianas do regime nazista, principalmente a perseguição aos Judeus? Olhou-me nos olhos e disse: - A maioria não sabia disso!

“As pessoas podem duvidar do que você fala, mas acreditam no que você faz”

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