MINHAS CRÔNICAS

quarta-feira, 4 de maio de 2011

ESCREVER UM ROMANCE! PARECE SIMPLES, PORÉM...

O leitor, normalmente, não tem conhecimento das dificuldades que o escritor enfrenta quando resolve escrever uma obra ficcional (romance); alguns, segundo sei, costumam desenvolver todo o enredo da história na sua imaginação antes de passar para o papel; outros preferem fazer um diagrama, onde elaboram a participação dos principais personagens que serão utilizados, dentro do enredo que programaram.

O segundo passo é definir quem será o narrador, o próprio autor do livro ou um dos personagens? Poderá ser utilizada a estratégia que Machado de Assis usou em “Dom Casmurro” onde o personagem (Bentinho) é, também, o narrador da história? Como definir o herói ou a heroína principal, para dar-lhe maior relevo?

Outro dia, conversando com o acadêmico Dr. Eurico Barbosa, disse-me ele que tem o costume de escrever um texto, guardar na gaveta por algum tempo (adormecer) e só então, às vezes anos depois, voltar a enfrentar o desafio de continuar o que havia começado, agora sob a vigilância da autocensura mais aguçada e, também, possivelmente com maior experiência narrativa.

O escritor Inglês Colm Toibin afirma na sua resenha sobre “A importância dos tios nas novelas do século 19” que a figura da mãe está quase sempre ausente nas novelas escritas naquele período, estão “mortas” ou “desaparecidas”, são representadas apenas por memórias, ao invés de uma real presença, apesar da ênfase que a tradicional família inglesa daquela época, dava à posição da mãe no seio da família.



O escritor americano, depois naturalizado inglês no último ano de vida, Henry James, fez, em 1894, um rascunho do que seria o livro “As asas da Pomba”, publicado em 1902; o romance, em resumo, é a história de uma jovem que possuía uma doença incurável e que desejava viver pelo menos mais um pouco, quando conhece um jovem que já era namorado de outra jovem, cujo pai e “sua família” não aceitavam o casamento deles. A mente fértil de Henry James consegue, com artifícios da ficção, que as duas mulheres se conheçam e passem, as duas, a disputar o jovem.

O que chama atenção na trama é que em nenhum momento, como poderia acontecer, Henry James introduziu a figura da mãe de qualquer uma das duas personagens, como eu seria tentado a fazê-lo, para participar destas discussões e, provavelmente, tomar o partido da filha, principalmente da que estava doente.

Durante o tempo que Henry James maturou o enredo deste romance, mais ou menos seis anos, ele deve ter concentrado seus esforços narrativos para definir o que seria esta imagem “sua família” que, juntamente com o pai, não aceitava o casamento da filha, sem colocar na berlinda a figura na mãe.

Ainda segundo Colm Toibin, na maioria das grandes novelas de Henry James não existe a presença da mãe, quase sempre substituída pela figura de uma tia; o que poderá facilitar o entendimento deste seu procedimento (“matar” as mães e substituí-las por tias) é o fato de ele ser muito ligado à sua mãe e a uma sua tia de nome Kate, que vivia com eles; um dia ele resolve mudar-se para a Europa, provavelmente, para “fugir” da sua mãe, pois sentia estar muito dependente da mesma.

De longe ele continuava a devotar grande devoção filial e a morte dela foi um grande choque para ele; provavelmente esta sua relação tão próxima com ela tenha sido uma das razões dele “apagar” tantas mães nos seus melhores romances e substituí-las por tias, em alusão a sua tia Kate a que já nos referimos, consubstanciando um desvio de conduta a necessitar da ajuda da psicanálise.

A escritora inglesa Jane Austen também costuma colocar como heroína dos enredos dos seus romances uma personagem feminina órfã, possivelmente com o intuito de facilitar que a sua personalidade possa emergir com maior intensidade durante a narrativa.

No maravilhoso romance “Orgulho e Preconceito” verificamos, que apesar de haver a figura da mãe na trama, a autora colocou, também, duas tias, mostrando com isto, a sua genialidade, pois, ao invés de negar o poder e a influência da mãe sobre a personagem Elizabeth, como ela, Austen, provavelmente, desejava, neutraliza esta força colocando as duas tias, figuras cômicas e obtusas, para “contracenar” com ela.

É bom que se lembre que neste livro, Austen mostra, mais uma vez, seu estilo inconfundível; descreve seus personagens com ironia, caçoando das moças da sua geração (final do século 18) que investiam, como meta de vida, no casamento, tendo em vista que ela advogava uma educação liberal e independente para a mulher.

Em “Emma” e principalmente em “Orgulho e Preconceito” ela coloca na boca de algumas personagens esta sua posição: “Disse a Srta. Bingley, Eliza é uma dessas mocinhas que procuram chamar para si a atenção do outro sexo, menosprezando o seu próprio” ou “A imaginação das mulheres é muito veloz; salta da admiração para o amor, do amor para o matrimônio num piscar de olhos”.

É interessante, ao ler um livro, entender um pouco da personalidade do autor.

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