MINHAS CRÔNICAS

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O FASCINIO DOS PRODUTOS DE BELEZA

Há cerca de três anos, Marília e eu andávamos, descuidadamente, pelas ruas de Londres, quando deparamos com uma loja na Bond Street que chamou a nossa (da Marília principalmente) atenção: era uma loja da Rimmel, marca de produtos cosméticos tão conhecida do público feminino; não preciso dizer que minha cara metade fez a festa!
Semana passada deparei-me com um artigo no jornal “London Review of Books” que me levou de volta àquela nossa viagem; a articulista (Bee Wilson) fez uma resenha do livro “A history of the global beauty industry – Geoffrey Jones - História da globalização da indústria da beleza”, que tomo a liberdade de resumir para meus leitores.
Em 1916, de acordo com o autor do citado livro, apenas 1/5 da população norteamericana usava algum produto cosmético ou de toalete, isto quer dizer que 4/5 dos americanos não usavam pasta de dente, xampu, desodorante, batom ou algum tipo de gel para os cabelos; em 1914 o faturamento da indústria de produtos de beleza (excluindo o sabão de banho) era, ao preço de hoje, 380 milhões de dólares; em 2008, apenas uma indústria (Proctor & Gamble) faturou 26 bilhões de dólares e o total de gastos com fragrâncias, cosméticos e produtos de toalete no mundo, gira ao redor de 330 bilhões de dólares ao ano.
Estas cifras falam por si mesmas, a indústria de cosméticos, a partir do século 20 vem, cada vez mais, investindo na propaganda para convencer as mulheres, principalmente as do mundo ocidental e, também os homens, sobre a necessidade de se usar, diariamente, cremes e poções para diminuir o suor, para colorir os lábios e amaciar as mãos e perfumar-se.
O perfume foi o primeiro setor do “mercado da beleza” a se tornar uma indústria global, segundo consta, pelas mãos do Italiano Johann Farina que em 1709, produziu a Água de Colônia (homenagem à cidade de Colônia, Alemanha, onde ele morava) que, diga-se de passagem, não era, originariamente, um produto de beleza, mas sim para tratamento de dor no estômago e tratamento de verminoses.
Tudo mudou quando Eugène Rimmel abriu no ano de 1834 uma loja de perfumaria na charmosa Bond Street em Londres, conhecida até os dias de hoje como “House of Rimmel- Casa de Rimmel”; a marca Rimmel é hoje uma das preferidas pela juventude Londrina, principalmente após passar a contar com a maravilhosa “top model” Kate Moss como sua divulgadora exclusiva.
Rimmel com a idade de 24 anos já era considerado um visionário no mundo dos cosméticos, descobrira o que fazer para vender seus produtos para todo o mundo; primeiramente ele viu que a embalagem (caixa, desenho das letras e figuras) do produto era tão ou mais importante do que o próprio produto; foi o primeiro a produzir catálogos dos seus produtos e a propagá-los nos programas dos teatros e finalmente, ele vendeu a idéia de que beleza deveria estar sempre ligada a duas cidades, Londres e Paris, “quartel das perfumarias do mundo“, como ele anunciava.
Outro grande triunfo de Rimmel foi conseguir divulgar a idéia de que seus produtos eram os preferidos por muitas famílias reais da Europa; seus perfumes eram “O perfume da Realeza”; foi ele, também, quem criou a primeira máscara, não tóxica, para aumentar o volume dos cílios e, com isto, realçando o olhar e mesmo a feição dos rostos femininos; esta invenção tornou-se tão popular que hoje é confundida, em muitos países, com o próprio nome da marca Rimmel, semelhantemente ao que ocorre com o nome da lâmina de barbear da marca Gilete.
Apesar da grande divulgação dos produtos cosméticos, assinale-se que na época da 1ª. guerra mundial havia resistência para o uso de maquiagem coloridas, pois os rostos coloridos eram associados aos das prostitutas, porém, por ocasião da 2ª guerra o batom colorido tornou-se de uso universal; em 1960, cerca de 90% das garotas americanas com idade entre 14 e 17 anos usavam batons.
Muito cedo Rimmel descobriu que os consumidores, principalmente as consumidoras, não gostam de produtos baratos e nem tão pouco dos acessíveis para toda a população; a venda do “Chanel número 5” despencou quando passou a ser encontrado em farmácias nos EEUU, recuperou seu prestigio (vendas) quando voltou a ser vendido em casas especializadas em perfumes; baseado nestas evidências entende-se por que alguém seja capaz de gastar 500 dólares por um pequeno pote de creme “Clé de Peau Beauté”, considerado o mais caro do mundo e de efeito tão efêmero.
Quando escrevia este texto resolvi folhear a coleção de revistas e jornais do começo do século 20 que possuo em meus arquivos e deparei- me com algo inusitado: em 1913 a revista francesa “L´Illustration” em edição recheada de discussões sobre a guerra eminente, estampa, para aproveitar o espaço da mídia, uma bela propaganda de perfumes “Bois-Charmant”; em maio de 1944, um mês antes do desembarque das tropas aliadas na Normandia, a revista Inglesa “The Sphere” trazia, com destaque na sua capa, propaganda de produtos cosméticos.
Em abril de 1934 o jornal mais importante do triângulo mineiro, “O Araguari”, propagava, em página inteira, a “Casa Annibal” daquela cidade, que vendia, dentre outras coisas (produtos agropecuários, principalmente), artigos de perfumaria, aliás, com bastante destaque para este item.

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