MINHAS CRÔNICAS

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

QUAL LIVRO VOCÊ LEVARIA PARA UMA ILHA DESERTA?

No final do ano de 1941, em plena 2ª. guerra mundial, com Londres recebendo ataques aéreos quase todos os dias, um programador da radio BBC de nome Roy Plomley, procurava uma maneira de trazer entretenimento para a população, de modo a aliviá-la um pouco do estresse provocado pela situação.

A idéia surgiu, segundo ele conta em suas memórias, quando em uma tarde estava descansando em sua casa ouvindo uma seleção de músicas que previamente selecionara; imediatamente a encaminhou para a direção da emissora e a mesma foi aceita; o formato era muito simples, consistia em convidar figuras conhecidas da política, das letras e das artes em geral, para escolherem oito musicas que, se pudessem, no caso de um naufrágio, levariam na sua bagagem, para uma hipotética ilha absolutamente deserta.

Para não haver dúvida quanto à exequibilidade do projeto, era colocado na mochila do náufrago, também, um gramofone

O primeiro programa, já então denominado “Desert island discs – discos em uma ilha deserta” foi gravado nos estúdios da BBC no dia 27 de janeiro de 1942 e foi ao ar dois dias depois, diretamente dos estúdios da “defesa britânica”, tendo em vista que a emissora havia sido bombardeada dias antes.

O primeiro convidado foi o comediante austríaco, naturalizado Inglês, de nome Vic Oliver, cuja escolha não foi por acaso, pois, por se tratar de um novo programa, precisava atrair audiência e Vic gozava na época, de enorme prestigio, e sua presença ao vivo no programa, certamente atrairia audiência, por ser realmente muito bom na sua atividade e também, por ser genro de Winston Churchill.

Sua escolha, “Étude No. 12 in C.minor, de Chopin” parece que foi, também, adrede estudada, pois, esta peça tem grande conotação histórica com o momento que a Inglaterra estava vivendo, segundo vemos em Wikipédia “É conhecida, também, como estudo revolucionário e que Chopin a teria composto em prantos, sob os ecos do bombardeio russo sobre Varsóvia e é, também, sabido que foi a última música a ser executada pela rádio livre da Polônia, antes de ser invadida pela Alemanha, no começo da segunda guerra mundial”.

Somente em maio de 1942 Roy apareceu no programa para dirigi-lo, e só deixou de fazê-lo quando morreu em 1985; de 1946 a 1951 o programa ficou fora do ar e, de lá para cá, até os dias de hoje, nunca mais deixou de ser exibido, todas as semanas, as 5ª. feiras, em horário nobre.

A partir daquele ano de 1951, foi introduzido mais um questionamento para o entrevistado; além da musica, ele deveria responder, também, que livro levaria.

Ao fazer uma pesquisa nos arquivos daquele programa, pude observar que durante muito tempo, os entrevistados só escolhiam musicas clássicas, tais como Chopin, Litz, Grieg, Schubert, Gounod, Tchaikovsky, dentre outros e que somente a partir do final do século passado, passaram a ser citados autores de musicas mais populares.

Quanto aos livros, pode-se observar que alguns autores e seus livros são constantemente repetidos pelos entrevistados, sobressaindo o livro de Marcel Proust - A procura do tempo perdido e depois, livros de Charles Dickens, Leo Tolstoi e Oscar Wilde.

Recentemente um site de venda de livros sediado nos Estados Unidos resolveu aproveitar aquela idéia e lançou um projeto denominado “desert island reads – leitura em uma ilha deserta”, cujo formato segue os mesmos passos do original inglês, como uma diferença, a escolha é dirigida somente para livros.

A dinâmica, também, é um pouco diferente, os entrevistados são, na sua maioria, escritores famosos, incluindo dentre eles, o brasileiro Paulo Coelho, que, aliás, escolheu Oscar Wilde, e os livros mais escolhidos foram Moby Dick (Herman Melville), George Bernard Shaw (coletânea), F. Scott Fitzgerald (Gatsby), Jorge Luiz Borges (obra completa), John Milton (Paraíso Perdido), Historias Árabes - 1001 noites e Charles Dickens (obra completa), dentre outros.

O site resolveu, também, entrevistar pessoas comuns, não famosas, da comunidade e o resultado foi, para mim, surpreendente, pois, com exceção de Guerra e Paz de Leon Tolstoi e O Mestre e Margarida de Mikhail Bulgakov, os demais livros escolhidos eram, na sua maioria, do gênero auto-ajuda, tais como: Como convencer os amigos e influenciar pessoas do autor Dale Carnegie, livros ensinando divertimentos com cartas de baralho, livros espirituais e o famoso livro de Daniel DeFoe – Robinson Crusoé’.

Recentemente, visitando meu amigo Prof. Joffre Marcondes de Rezende, amante da boa música de Mozart, Chopin e outros clássicos, falei-lhe sobre este texto; disse-me ele, com uma ponta de nostalgia: como o mundo vem mudando, no que diz respeito à cultura; é uma pena, emendou ele, que naquela primeira “enquete” não tenha sido abordada, também, as preferências de leitura dos entrevistados e, principalmente, não tenha sido investigado o que pensava a comunidade no que diz respeito aos livros.

Será que teríamos surpresas?

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