DIÁRIO DO MÉDICO – Paciente terminal
O medico chegou ao hospital, como sempre fazia durante todos
estes anos, antes dos demais membros da equipe; enquanto caminhava pelos
corredores rumo à enfermaria para a “visita aos pacientes” ainda teve tempo de
conversar alguns minutos com a enfermeira-chefe para se inteirar das
ocorrências da noite anterior.
- As noticias não são
boas; a Sra. Doroty, paciente do leito 18, faleceu pela madrugada e ainda está
no leito aguardando os preparativos para removê-la para a capela.
Embora estivesse
“acostumado” a conviver com o imponderável durante toda a sua vida, o médico
recebeu a informação com um misto de impotência e tristeza - Como isto
aconteceu? Ainda ontem ela estava tão bem, fez-nos acreditar na sua
recuperação!
Ele apressou o passo e
ao entrar na enfermaria, deparou-se com a cena a que nenhum médico se acostuma;
aquele corpo antes tão cheio de vida, agora estirado imóvel no leito, com a
face parcialmente coberta pelo lençol modesto e amarrotado; ao lado do leito
estava postada a filha a quem, no dia anterior, o médico havia transmitido
mensagem de otimismo quanto à recuperação da mãe.
- Deus tenha pena da sua
alma, disse a enfermeira tentando consolar o inconsolável; ela teve uma morte
tranquila, sem sofrimento, morreu feliz!
O mobiliário da
enfermaria era compatível com o momento, pobre e triste, nenhum narrador seria
capaz de embelezá-lo tampouco modificar o ambiente daquele momento com
palavras; instalou o silêncio para dar
lugar às introspecções que não
precisariam ser ditas. São sentidas!
O que você está pensando
minha querida? Perguntou o médico à filha da morta, mais com o intuito de
desanuviar um pouco o ambiente; a maneira como você cuidou da sua mãe durante
todo este tempo aqui no hospital, leva-me a dizer-lhe que você não tem nada com
que se recriminar; sou testemunha da sua constante presença ao seu lado, dias e
dias, cedo, tarde e noites.
- Penso nas suas ultimas
palavras, disse a filha com os olhos dágua, “Agora poderei navegar sobre as
águas”.
- Por que ela disse
isto?
- Estou procurando
entender, porém ela sempre dizia-nos que gostaria de navegar para longas
distancias e ir ao encontro de outras pessoas que ela nunca viu; ao tocar a mão
da paciente o médico observou que ela a mantinha fechada e ao abri-la teve uma
surpresa: ela retinha uma miniatura de navio e ao pegá-la exclamou para espanto
de todos:
- É um pequeno navio de
cristal!
O objeto brilhava na sua
mão; de repente resplandeceu com uma miríade de cores; ainda atônito pela
surpresa, voltou a colocar a miniatura de navio na mão da paciente e emocionado
disse:
- Provavelmente ela já
deve ter iniciado a viagem para sua nova morada, navegando neste pequeno
navio.
Ao chegar a sua casa o
médico isolou-se na biblioteca e voltou a folhear o livro que estava lendo já
há alguns dias (A linguagem de Deus, Francis S.. Collins, 2007), rapidamente
encontrou o trecho que procurava e que tinha similitude com o caso daquela paciente
que acabara de falecer.
“A mulher com quem me
preocupei quando era estudante de medicina e que desafiou meu ateísmo com uma
aceitação gentil da sua doença terminal, viu, no capítulo final de sua vida,
uma experiência que a aproximou de Deus, em vez de afastá-la ainda mais´”.
Durante o tempo em que o
médico acompanhou Da, Doroty na enfermaria observou sua fé inabalável no
Criador; parecia que vivia em paz definitiva, estava pronta para aceitar os
desígnios do Supremo, seja neste mundo ou no outro, apesar do sofrimento
terrível que a doença lhe causava, não reclamava!
O médico evitava pensar
no episódio da “miniatura de navio”; como harmonizar o sobrenatural com o seu
mundo, o mundo científico?
Teria
sido uma ilusão? Teria sido um acontecimento
sobrenatural? Muitos de nós médicos
costumamos depreciar a alusão a acontecimentos sobrenaturais, muitos de nós
médicos preferimos, diante de acontecimentos semelhantes a este que o médico
presenciou, tocou e ouviu o relato da filha que antecedeu o acontecimento
preferimos, ainda assim, dizer que nossos sentidos não são infalíveis.
Alguns
médicos e muitos cientistas criticaram o Presidente Bill Clinton que ao
discursar na cerimônia realizada na Casa Branca para revelar as conclusões do
maior e mais importante projeto cientifico já produzido pela humanidade
“Projeto Genoma Humano”, afirmou: “Hoje estamos aprendendo a linguagem com a
qual Deus criou a vida. Ficamos ainda mais admirados pela complexidade, pela
beleza e pela maravilha da dádiva mais divina e mais sagrada de Deus; é um dia
feliz para o mundo. Chego a ficar pasmo ao perceber que apanhamos o primeiro
traçado de nosso manual de instruções, anteriormente conhecido apenas por
Deus”.
A crítica
pariu do lado dos que acham antagonismo entre o cientifico e o espiritual; será
que o cientista não pode acreditar em Deus?
Por que não dizer que aquele acontecimento, um dos momentos mais belos
da humanidade foi também um momento de veneração ao Criador?
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