MINHAS CRÔNICAS

domingo, 6 de maio de 2012

DIÁRIO DO MÉDICO – Paciente terminal


O medico chegou ao hospital, como sempre fazia durante todos estes anos, antes dos demais membros da equipe; enquanto caminhava pelos corredores rumo à enfermaria para a “visita aos pacientes” ainda teve tempo de conversar alguns minutos com a enfermeira-chefe para se inteirar das ocorrências da noite anterior.
                        - As noticias não são boas; a Sra. Doroty, paciente do leito 18, faleceu pela madrugada e ainda está no leito aguardando os preparativos para removê-la para a capela.
                        Embora estivesse “acostumado” a conviver com o imponderável durante toda a sua vida, o médico recebeu a informação com um misto de impotência e tristeza - Como isto aconteceu? Ainda ontem ela estava tão bem, fez-nos acreditar na sua recuperação!
                        Ele apressou o passo e ao entrar na enfermaria, deparou-se com a cena a que nenhum médico se acostuma; aquele corpo antes tão cheio de vida, agora estirado imóvel no leito, com a face parcialmente coberta pelo lençol modesto e amarrotado; ao lado do leito estava postada a filha a quem, no dia anterior, o médico havia transmitido mensagem de otimismo quanto à recuperação da mãe.
                        - Deus tenha pena da sua alma, disse a enfermeira tentando consolar o inconsolável; ela teve uma morte tranquila, sem sofrimento, morreu feliz!
                        O mobiliário da enfermaria era compatível com o momento, pobre e triste, nenhum narrador seria capaz de embelezá-lo tampouco modificar o ambiente daquele momento com palavras; instalou o silêncio  para dar lugar às introspecções  que não precisariam ser ditas. São sentidas!
                        O que você está pensando minha querida? Perguntou o médico à filha da morta, mais com o intuito de desanuviar um pouco o ambiente; a maneira como você cuidou da sua mãe durante todo este tempo aqui no hospital, leva-me a dizer-lhe que você não tem nada com que se recriminar; sou testemunha da sua constante presença ao seu lado, dias e dias, cedo, tarde e noites.
                        - Penso nas suas ultimas palavras, disse a filha com os olhos dágua, “Agora poderei navegar sobre as águas”.
                        - Por que ela disse isto?
                        - Estou procurando entender, porém ela sempre dizia-nos que gostaria de navegar para longas distancias e ir ao encontro de outras pessoas que ela nunca viu; ao tocar a mão da paciente o médico observou que ela a mantinha fechada e ao abri-la teve uma surpresa: ela retinha uma miniatura de navio e ao pegá-la exclamou para espanto de todos:
                        - É um pequeno navio de cristal!
                        O objeto brilhava na sua mão; de repente resplandeceu com uma miríade de cores; ainda atônito pela surpresa, voltou a colocar a miniatura de navio na mão da paciente e emocionado disse:
                        - Provavelmente ela já deve ter iniciado a viagem para sua nova morada, navegando neste pequeno navio.  
                        Ao chegar a sua casa o médico isolou-se na biblioteca e voltou a folhear o livro que estava lendo já há alguns dias (A linguagem de Deus, Francis S.. Collins, 2007), rapidamente encontrou o trecho que procurava e que tinha similitude com o caso daquela paciente que acabara de falecer.
                        “A mulher com quem me preocupei quando era estudante de medicina e que desafiou meu ateísmo com uma aceitação gentil da sua doença terminal, viu, no capítulo final de sua vida, uma experiência que a aproximou de Deus, em vez de afastá-la ainda mais´”.
                        Durante o tempo em que o médico acompanhou Da, Doroty na enfermaria observou sua fé inabalável no Criador; parecia que vivia em paz definitiva, estava pronta para aceitar os desígnios do Supremo, seja neste mundo ou no outro, apesar do sofrimento terrível que a doença lhe causava, não reclamava!
                        O médico evitava pensar no episódio da “miniatura de navio”; como harmonizar o sobrenatural com o seu mundo, o mundo científico?
              Teria sido uma ilusão?  Teria sido um acontecimento sobrenatural?  Muitos de nós médicos costumamos depreciar a alusão a acontecimentos sobrenaturais, muitos de nós médicos preferimos, diante de acontecimentos semelhantes a este que o médico presenciou, tocou e ouviu o relato da filha que antecedeu o acontecimento preferimos, ainda assim, dizer que nossos sentidos não são infalíveis.
            Alguns médicos e muitos cientistas criticaram o Presidente Bill Clinton que ao discursar na cerimônia realizada na Casa Branca para revelar as conclusões do maior e mais importante projeto cientifico já produzido pela humanidade “Projeto Genoma Humano”, afirmou: “Hoje estamos aprendendo a linguagem com a qual Deus criou a vida. Ficamos ainda mais admirados pela complexidade, pela beleza e pela maravilha da dádiva mais divina e mais sagrada de Deus; é um dia feliz para o mundo. Chego a ficar pasmo ao perceber que apanhamos o primeiro traçado de nosso manual de instruções, anteriormente conhecido apenas por Deus”.
            A crítica pariu do lado dos que acham antagonismo entre o cientifico e o espiritual; será que o cientista não pode acreditar em Deus?  Por que não dizer que aquele acontecimento, um dos momentos mais belos da humanidade foi também um momento de veneração ao Criador?

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