MINHAS CRÔNICAS

sexta-feira, 29 de junho de 2012

BATISTÃO RECLAMA DA ESPOSA

                                          Em uma das "tardes-quase-noite” na fazenda São Pedro, localizada nas furnas da serra de Monte do Carmo no estado do Tocantins, estava fazendo o que mais gosto na convivência com os funcionários: Conversando “fiado”.
                                               Hélio Junior providenciou duas doses de um bom “scoth on the rocks-wisky com pedras de gelo”, Da. Naranda, sempre pressurosa, serviu-nos algumas fatias de salaminho e queijo; fizemos um brinde à vida e passamos a ouvir as estórias do Batistão que, para não nos deixar sozinhos (companheiro é companheiro, palavras dele) sorvia uma boa cervejinha gelada. 
                                               Antes de dar a palavra ao meu amigo Batistão, gostaria que meus leitores se situassem no ambiente onde se localiza a Fazenda São Pedro e o ambiente onde estamos reunidos, sentados em tamboretes ao redor da churrasqueira, aguardando...
                                               Não sei se conseguirei descrever o que sinto ao ultrapassar a porteira que dá acesso a estes nossos gerais; como se fora um passo de mágica, me desvinculo do bulício das ruas onde vivo; meu sentido da audição, sem que me aperceba, coloca-me em contato com o sussurro da natureza, os últimos vestígios do som provocado pelo rodar estrepitoso dos carros sobre o asfalto da minha cidade são substituídos pela sensação de calmaria indescritível.  
                               Provavelmente muitos dos meus leitores citadinos não acreditam nas histórias que lhes conto a respeito do Batistão, no entanto posso assegurar que são verdadeiras e se as narro não é com o interesse de apenas mostrar sua faceta hilariante, mas sim para deixar  registrados alguns acontecimentos da vida das pessoas que vivem na roça, cujas estripulias dificilmente chegam aos ouvidos dos moradores das cidades; aliás,  para que não fique nenhuma dúvida, gostaria de dizer que o Batistão nunca existiu, o lugar onde ele mora, não existe, porém tudo o que conto a respeito dele e do lugar onde ele viveria é verdadeiro.
                Feitos estes esclarecimentos, vamos aos fatos.
                               - Dotor, existe obrigação de o marido pagar os compromissos que a mulher faiz?
                               - Depende do compromisso Batistão, porém, o marido tem obrigação de, no mínimo, dar apoio à sua esposa, principalmente se ela estiver em alguma dificuldade.
                               - Mesmo se a gente avisar pra ela parar com o que estava fazendo e ela continua?
                               - Conte-me o acontecido, só assim poderei dar uma opinião mais abalizada.
                               A minha mulher é metida a sabidona, como o senhor bem sabe; quando compramos uma televisão, o sinal era muito fraco, tínhamos que modificar a posição da antena toda hora, pois a cada minuto caia a imagem e ela ficava dentro de casa dando as orientações, enquanto eu subia no telhado para cumprir as ordens que ela dava: “mais para a direita; agora para a esquerda, menos um pouco homem de Deus; segura nesta posição para ver se o sinal segura...”; às vezes eu passava o tempo todo no telhado e só ela assistia a novela.
                               A fama que ela  criou correu as redondezas, todos os vizinhos vinham pedir ajuda para arrumar a antena, até porque a distância para levar o aparelho até a cidade era muito grande e, além disto, ela não cobrava nada; com isto ela ficou “antipática” começou a dar palpite em outras coisas que não funcionavam na televisão; como estava aumentando a freguesia, chamei-lhe a atenção – Uma hora destas você queima o aparelho de alguém, e vai dar problema, espera pra ver!
                               Um dia eu a ouvi dizer para a mulher do Senhor Pipoca: - Acho que o problema do seu aparelho não é antena, acho que está faltando fio terra, sem ele e com a ajuda da Celg que não segura a energia no prumo, começa a aparecer descarga elétrica na placa. O senhor acredita que a “sabidona” deu um jeito na tal de placa? O problema é que a fama cada vez aumentava mais, tinha semana dela dar “palpite” em dois, três aparelho. Eu só avisando: - para com isto!
                                “Não coloque vaso de flores em cima do aparelho, a água que escorre da regação, vai direto para a placa, atrapalha a ligação com a antena e ai começa a dar fantasma na tela; vige Maria, não pode jogar repelente de inseto na tela, vai dar o mesmo problema na placa; outra vez que a televisão desligar sozinha, antes de me chamar, aperte o botão “não sei o que, time” (sleep timer); o controle não funciona? Troca a bateria! Já trocou? É porque você não está mirando no rumo daquela luzinha que existe bem na frente da TV, você fez isto e mesmo assim não funciona? Então é problema da placa.
                               Até que um dia ela resolveu tentar consertar esta desgraça de placa que estava enguiçada em quase todos os aparelhos que ela examinava; o senhor acredita que a “sabidona” resolveu abrir um aparelho, logo da mulher mais encrenqueira que existe na superfície da terra, a Da. Juriti. Na verdade o nome dela devia ser cascavel, pois a pomba juriti é de paz, enquanto que ela...
                               Não deu outra, abriu a portinhola traseira da TV, mexeu em vários parafusos, levou um bruto de um choque, virou o branco do zoio prá riba, cambeteou e deu um arranque no aparelho que espatifou no chão!
                               Agora a cascavel da Juriti quer que ela compre outro aparelho e ela quer que eu aguente o repuxo, tem base?   ..   





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