Cartas de Amor que escrevi
Dias destes, como fazemos a
cada 15 dias, fui almoçar com um confrade (o advogado Dr. Eurico Barbosa) da
Academia Goiana de Letras, unicamente para nos reencontrar e discutir, com
prioridade, tertúlias literárias.
Lá pelas
tantas, Eurico traz à baila o assunto “internet”, com todas as suas
implicações, principalmente o seu uso exagerado pelo público jovem, por
intermédio das “redes sociais”.
Eurico
chama a atenção para o fato de que a juventude está de tal maneira envolvida
com esta parafernália que chega a lhe preocupar; preste atenção, diz ele, “na
sua própria casa, as crianças e os adolescentes, dificilmente sentam-se com os
adultos, mesmo com os parentes, para conversar – preferem o magnetismo do
telefone celular conectado à internet”.
O estilo
de escrita que eles usam, falo eu, poderá ser até ininteligível para quem não
está acostumado; a grande maioria das palavras são grafadas por abreviaturas (rs
- sorriso; rsrsrs - gargalhada; Tb -também) etc.
Este
fenômeno está acabando com a “carta” coloquial, tão ao gosto da população até
há poucos anos; hoje em dia, quando queremos nos comunicar com um amigo,
utilizamos o correio eletrônico (e.mail) que, por comodidade na hora de se
digitar, são resumidos, desaparecendo, por completo, os enfeites literários nas
frases; o romantismo das cartas de amor que originariamente foram escritas
manualmente, só são encontradas, hoje em dia, em antigos livros, escondidos nos
“sebos”.
Não sei se
é verdade, pois nunca havia visto esta citação atribuída a Einstein - meu
grande medo, teria dito ele, é a possibilidade da tecnologia avançada isolar as
pessoas no futuro; esta citação é ilustrada com uma fotografia onde se vê cerca
de 15 jovens sentados ao redor de uma
mesa, todas elas vivendo seus mundos particulares, com os olhos e os dedos
grudados no “smart fone”, parece que desconhecendo a presença dos seus
possíveis amigos.
Ao voltar
para casa, ainda bem presente o eco daquela discussão, procurei a gaveta onde
arquivo as cartas coloquiais que recebi ou enviei aos amigos; deparei-me com a
que transcrevo no texto e convido os amigos leitores a lerem comigo; antes
disto, preciso informar que o Prof. Basileu era meu amigo de muitos anos
(infelizmente já é falecido), morava
perto da minha residência e, de vez em quando, escrevia-lhe cartas e, ao invés
de enviá-las pelo correio, entregava pessoalmente para o porteiro do seu
prédio.
Permitam-me, também, que explique um pouco mais a
razão desta carta; havia chegado de uma viagem à Turquia, quando tive a
oportunidade de conhecer Éfeso, cidade onde viveram e pregaram o cristianismo,
Paulo de Tarso e João Evangelista e, ao comentar com ele este episódio,
mostrou-se interessado em saber mais detalhes; observem que o obriguei, pela
curiosidade que lhe deverei ter despertado, a procurar, por si mesmo, mais
informações a respeito do assunto, além, de “viajar” na sua companhia, em certo
trecho da carta, para o ambiente que ele tanta gostava, a natureza!
Ao mestre, com carinho!
Prof. Basileu Toledo França
Infelizmente,
por motivos alheios à minha vontade, não pude estar presente na solenidade de
lançamento do seu livro “Velhas
Escolas”.
Gostaria,
no entanto, de ressaltar que mesmo distante (estava em Cuiabá naquela
oportunidade), pensei no senhor, com carinho e muita admiração. Goiás deve
muito à sua pena inteligente e lúcida.
Parabenizo-o
com sinceridade!
Semana
passada estive novamente na Santa Tereza, lembrei-me muito do senhor; pelo
milagre da telepatia, “conversamos” sobre vários assuntos, alguns deles
prazerosos para mim, como as suas dissertações sobre a história de Goiás, em
outros, somos irmãos de sentimentos:
- O mundo da
natureza!
Chovia, chuva miúda, porém
constante; sentamos à varanda, estiramos as pernas com comodidade; por alguns
instantes, permanecemos calados, somente ouvindo o som da natureza. De repente
o céu tornou-se mais escuro, o vento começou a açoitar as árvores, no inicio
com delicadeza, depois se tornou mais agressivo, vergando o caule dos eucaliptos,
até com alguma selvageria. A natureza das suas raízes suporta este açoite com
galhardia e obstinação.
Daqui, de onde “estamos”, pode-se
ver, ao fundo, uma fileira de árvores, dispostas como se fossem as garbosas e
seculares colunas de “Mercantile Agora”, erigidas no século 1º da
nossa Era, em Éfeso, na Turquia.
Certamente, estas nossas
arvores não serão perenes como aquelas, porém, o simples fato de permitirem que
desfrutemos hoje da sua companhia valeu a pena terem sido plantadas. Se, no
futuro, ficar apenas o registro das suas presenças no pretérito, desejaríamos
que estas lembranças fossem comparáveis, pelo menos no plano temporal, à famosa
Coluna de Artemis que, embora isolada do contexto das ruínas do Império de
Píndaro, permanece imponente, informando aos curiosos que ali foi erigido um
templo.
A chuva diminui de intensidade, gradativamente vai
cessando;
alguns
pássaros reiniciam seus diálogos que haviam sido interrompidos; uma rosa
balança no canteiro bem perto da nossa casa, a brisa que passa rasante ao seu
caule, movimenta-a com delicadeza.
Um perfume suave chega até onde estamos!
Volto a sintonizar com o meu mundo
real, obrigando-me a interromper nosso “diálogo”.
Ficou a certeza da sua possibilidade.
Seu amigo Hélio Moreira
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