MINHAS CRÔNICAS

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

O CÉREBRO E A CONSCIÊNCIA – UM ENÍGMA A SER DESVENDADO



                  Recentemente o neuro cientista português, Antonio Damásio, publicou um maravilhoso livro “E o cérebro criou o homem, 2011”, confesso que tem sido, para mim, um grande desafio tentar acompanhar, pelas páginas deste livro, um assunto que foge do universo do meu mundo de leituras, tanto da área cultural como da medicina, tendo em vista o seu hermetismo.
               Desafiado pelas proposições formuladas pelo autor:  desvendar o funcionamento do cérebro e sua capacidade de racionar e sentir emoções, consegui apreender com esta leitura novos ensinamentos do mundo da neurociência; procurarei, dentro das minhas limitações intelectuais, passar para o leitor um resumo do que aprendi com Damásio.
                   Está claro que não entrarei nas minúcias das discussões médicas de ordem anatômica, neurológica e fisiológica como o autor faz, pois poderia espantar o leitor não iniciado neste assunto; tentarei apenas, após uma rápida incursão nestas searas, sintetizar o pensamento de Damásio sobre a mente e a consciência do individuo.
                   O cérebro possui pouco mais de 1 quilo de peso, contém cerca de 100 bilhões de células nervosas que se comunicam entre si através de 100 trilhões de intercomunicações que formam pequenos circuitos que, combinados, formam circuitos maiores, até completarem as complexas redes ou sistemas; apesar da sua importância vital, não sabemos ainda como ele funciona, mas sabemos que é a máquina mais complexa de todo o universo, pois cada batida do coração, cada movimento respiratório, cada emoção, cada movimentação que o corpo executa, até mesmo os involuntários, são controlados, direta ou indiretamente pela ação do sistema nervoso, sendo o cérebro a peça principal.
                   Podemos dizer, então, que o cérebro humano é uma máquina de enorme complexidade e que alguns quiseram compara-lo a mais complexa delas: o computador digital!  O grande diferencial é o fato de que o cérebro é uma máquina biológica; enquanto que as operações (algoritmo) do computador são independentes do material que o produziu (silício, metal e plástico) e funcionam por um determinismo (acionando uma tecla haverá uma resposta esperada) frente a um mesmo estímulo, o cérebro responderá de maneira diferente em cada individuo e muitas vezes no mesmo individuo.
                        Damásio discute com a tranquilidade dos que sabem o que estão dizendo, um dos grandes enigmas da humanidade – a consciência – e a define como sendo um estado mental no qual o individuo tem conhecimento da sua própria existência e da existência do mundo circundante, portanto só temos consciência quando estamos acordados; este estado mental ou a mente, não é autônomo, pois é comandado por um protagonista que comanda a sua existência e que ele a chamou de self, também denominado por alguns como “ego” ou “eu”; esta “entidade” possibilita a nós mesmos nos reconhecer como os comandantes das nossas ações.
                        A mente humana é produzida a partir da atividade dos neurônios, cujo funcionamento difere das demais células do corpo, pois são sensíveis a mudanças a seu redor, são excitáveis e podem enviar sinais a outras células, outros neurônios, às vezes localizados a grandes distancias.
             O grande mistério a ser desvendado é saber em qual lugar do cérebro se localiza o self ; segundo Damásio, boa parte dos cientistas e ele próprio acreditavam que o self estaria no córtex cerebral, camada mais externa do cérebro, rica em neurônios e responsável pelas atividades mais complexas, como memória, interpretação e processamentos simbólicos.
                         Por meio de reflexões teóricas e com auxílio, sobretudo, de imagens do crânio humano captadas por equipamentos sofisticados de ressonância magnética, ele mudou de ideia e passa a defender que o self  “nasce” em uma região mais ‘primitiva’ (ou primordial) do cérebro: o tronco cerebral, responsável pela regulação das funções do interior do corpo, como frequência cardíaca, pressão arterial e movimentos dos músculos involuntários, dentre outros.
                        Um dos grandes mistérios da vida é que podemos observar as ações das pessoas, o que elas dizem ou escrevem e, a partir disto, fazermos suposições sobre o que elas pensam, porém, jamais poderemos ver suas mentes, embora saibamos onde ela esta alojada.
            Para entender um pouco mais o que vem a ser consciência fica mais fácil entender o que é - não ter consciência -;quando dormimos ou somos submetidos à anestesia, perdemos o controle das vigas mestras da consciência: mente e  self; neste período (sono), a pessoa não tem consciência que está vivendo, quanto mais saber quem ela é e o que ela mesmo pensa.
            Como o cérebro constrói a mente consciente? Pergunta intrigante, porém, devido ao espaço que me é reservado no jornal, não poderei discutir todo o pensamento de Damásio; sugiro a leitura do livro e ali os leitores irão encontrar respostas a muitas outras questões que nos inquietam, tais como: o que é a homeostase e quem a controla?  O por quê das plantas não possuírem movimentos (caminhar) e, principalmente, a função do neurônio na manutenção da consciência.
                  É preciso que se diga que muitas das hipóteses apresentadas no livro são originais, surgindo com isto, alguns conflitos com outros estudiosos do assunto; levando ainda em consideração o fato de Damásio ser um assumido materialista, algumas das suas posições-assertivas irão provocar reações de desagrado por parte de muitos filósofos da mente e, principalmente dos teístas. 
            Gostaria, para provocar os leitores, que lessem esta afirmativa (materialista) da criação do homem, feita por Damásio: “Na história da evolução, há 3,8 bilhões de anos, apareceu a primeira forma de vida na terra, cerca de 2 bilhões de anos depois, surgiram as bactérias (seres unicelulares com núcleo), capazes de viverem de maneira independente ( a ameba é o exemplo típico). Este organismo unicelular é uma amostra-caricatura  do que viria a ser o homem ( o seu núcleo seria o cérebro, o seu citoesqueleto de sustentação seria o nosso esqueleto ósseo, o citoplasma, o interior do nosso corpo, a membrana celular, a nossa pele, os cílios, cuja movimentação combinada permite que elas nadem, seriam os nossos membros.   


Cada célula do nosso corpo tem um tipo de atitude não consciente, será que nosso desejo de viver não começou com um agregado das incipientes vontades de todas as células do nosso corpo?.


0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial