O CÉREBRO E A CONSCIÊNCIA – UM ENÍGMA A SER DESVENDADO
Recentemente o neuro cientista português,
Antonio Damásio, publicou um maravilhoso livro “E o cérebro criou o homem,
2011”, confesso que tem sido, para mim, um grande desafio tentar acompanhar,
pelas páginas deste livro, um assunto que foge do universo do meu mundo de
leituras, tanto da área cultural como da medicina, tendo em vista o seu
hermetismo.
Desafiado
pelas proposições formuladas pelo autor:
desvendar o funcionamento do cérebro e sua capacidade de racionar e
sentir emoções, consegui apreender com esta leitura novos ensinamentos do mundo
da neurociência; procurarei, dentro das minhas limitações intelectuais, passar
para o leitor um resumo do que aprendi com Damásio.
Está claro que não entrarei nas minúcias
das discussões médicas de ordem anatômica, neurológica e fisiológica como o
autor faz, pois poderia espantar o leitor não iniciado neste assunto; tentarei
apenas, após uma rápida incursão nestas searas, sintetizar o pensamento de
Damásio sobre a mente e a consciência do individuo.
O cérebro possui pouco mais de 1 quilo
de peso, contém cerca de 100 bilhões de células nervosas que se comunicam entre
si através de 100 trilhões de intercomunicações que formam pequenos circuitos
que, combinados, formam circuitos maiores, até completarem as complexas redes
ou sistemas; apesar da sua importância vital, não sabemos ainda como ele
funciona, mas sabemos que é a máquina mais complexa de todo o universo, pois
cada batida do coração, cada movimento respiratório, cada emoção, cada
movimentação que o corpo executa, até mesmo os involuntários, são controlados,
direta ou indiretamente pela ação do sistema nervoso, sendo o cérebro a peça
principal.
Podemos dizer, então, que o cérebro
humano é uma máquina de enorme complexidade e que alguns quiseram compara-lo a
mais complexa delas: o computador digital!
O grande diferencial é o fato de que o cérebro é uma máquina biológica;
enquanto que as operações (algoritmo) do computador são independentes do
material que o produziu (silício, metal e plástico) e funcionam por um
determinismo (acionando uma tecla haverá uma resposta esperada) frente a um
mesmo estímulo, o cérebro responderá de maneira diferente em cada individuo e
muitas vezes no mesmo individuo.
Damásio
discute com a tranquilidade dos que sabem o que estão dizendo, um dos grandes
enigmas da humanidade – a consciência –
e a define como sendo um estado mental no qual o individuo tem conhecimento da
sua própria existência e da existência do mundo circundante, portanto só temos
consciência quando estamos acordados; este estado mental ou a mente, não é
autônomo, pois é comandado por um protagonista que comanda a sua existência e
que ele a chamou de self, também denominado por alguns como “ego” ou “eu”; esta
“entidade” possibilita a nós mesmos nos reconhecer como os comandantes das
nossas ações.
A mente humana é produzida a partir
da atividade dos neurônios, cujo funcionamento difere das demais células do
corpo, pois são sensíveis a mudanças a seu redor, são excitáveis e podem enviar
sinais a outras células, outros neurônios, às vezes localizados a grandes
distancias.
O grande mistério a
ser desvendado é saber em qual lugar do cérebro se localiza o self
; segundo Damásio, boa parte dos cientistas e ele próprio acreditavam que
o self estaria no córtex cerebral, camada mais externa do
cérebro, rica em neurônios e responsável pelas atividades mais complexas, como
memória, interpretação e processamentos simbólicos.
Por meio de reflexões teóricas e com auxílio, sobretudo, de
imagens do crânio humano captadas por equipamentos sofisticados de ressonância
magnética, ele mudou de ideia e passa a defender que o self “nasce” em uma região
mais ‘primitiva’ (ou primordial) do cérebro: o tronco cerebral, responsável
pela regulação das funções do interior do corpo, como frequência cardíaca,
pressão arterial e movimentos dos músculos involuntários, dentre outros.
Um
dos grandes mistérios da vida é que podemos observar as ações das pessoas, o
que elas dizem ou escrevem e, a partir disto, fazermos suposições sobre o que
elas pensam, porém, jamais poderemos ver suas mentes, embora saibamos onde ela
esta alojada.
Para
entender um pouco mais o que vem a ser consciência fica mais fácil entender o
que é - não ter consciência -;quando dormimos ou somos submetidos à anestesia,
perdemos o controle das vigas mestras da consciência: mente e self; neste período (sono), a pessoa não tem
consciência que está vivendo, quanto mais saber quem ela é e o que ela mesmo
pensa.
Como o
cérebro constrói a mente consciente? Pergunta intrigante, porém, devido ao
espaço que me é reservado no jornal, não poderei discutir todo o pensamento de
Damásio; sugiro a leitura do livro e ali os leitores irão encontrar respostas a
muitas outras questões que nos inquietam, tais como: o que é a homeostase e
quem a controla? O por quê das plantas
não possuírem movimentos (caminhar) e, principalmente, a função do neurônio na
manutenção da consciência.
É preciso que se diga que
muitas das hipóteses apresentadas no livro são originais, surgindo com isto,
alguns conflitos com outros estudiosos do assunto; levando ainda em
consideração o fato de Damásio ser um assumido materialista, algumas das suas
posições-assertivas irão provocar reações de desagrado por parte de muitos filósofos
da mente e, principalmente dos teístas.
Gostaria, para provocar os leitores,
que lessem esta afirmativa (materialista) da criação do homem, feita por
Damásio: “Na história da evolução, há 3,8 bilhões de anos, apareceu a primeira
forma de vida na terra, cerca de 2 bilhões de anos depois, surgiram as
bactérias (seres unicelulares com núcleo), capazes de viverem de maneira
independente ( a ameba é o exemplo típico). Este organismo unicelular é uma
amostra-caricatura do que viria a ser o
homem ( o seu núcleo seria o cérebro, o seu citoesqueleto de sustentação seria
o nosso esqueleto ósseo, o citoplasma, o interior do nosso corpo, a membrana
celular, a nossa pele, os cílios, cuja movimentação combinada permite que elas
nadem, seriam os nossos membros.
Cada célula do nosso corpo tem um tipo de atitude não
consciente, será que nosso desejo de viver não começou com um agregado das
incipientes vontades de todas as células do nosso corpo?.
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