MINHAS CRÔNICAS

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

O ESCRITOR E A POLÍTICA


                

                   
  Existem muitas discussões a respeito da necessidade das pessoas envolvidas com a cultura, especialmente o escritor, assumirem posições diante de temas sociais e principalmente políticos.
                        É praticamente impossível conviver em sociedade e não se envolver com assuntos que afetam o dia-a-dia das pessoas, uma vez que ninguém conseguirá ser uma ilha dentro do contexto onde se vive.
                            Recentemente, ao ler o livro  “ A Primeira Guerra Mundial, Lawrence Sondhaus, Editora Contexto, 2011” deparei-me com um tópico que despertou minha atenção; o autor procurava dar uma explicação da razão da eclosão daquela que foi uma das mais violentas guerras que a humanidade  já presenciou .
                            Não pretendo entrar no mérito de outros detalhes  históricos e políticos que foram discutidos pelo autor e que  tiveram  influência decisiva na gênese daquele acontecimento, principalmente a posição belicista da Alemanha que desejava a guerra e o  assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do Império Austro-austríaco, em Sarajevo em junho de 1914, que foi o estopim que se precisava para iniciar o conflito.
                            Gostaria, tão somente, de restringir esta discussão ao que delineei no primeiro parágrafo deste texto: participação na política de pessoas envolvidas com a cultura; para cumprir este desiderato peço aos leitores que me acompanhem em uma pequena viagem que faremos na história.
                                      O século XIX assistiu  uma grande transformação política no ideário dos povos que habitavam o continente  europeu; evoluiu do nacionalismo cultural da era romântica, para o nacionalismo racial e xenófobo, cujo desfecho vimos, no século seguinte, com o surgimento da Alemanha nazista.
                                      Na metade daquele século (1859) Charles Darwin publicou um livro “A origem das espécies” para expor  suas descobertas inacreditáveis, dentre elas a sua conceituação  lapidar: “Na natureza, o mais apto na luta pela existência, sempre sobreviverá”.
                            Alguns destes conceitos foram aproveitados por  adeptos do nacionalismo racial agressivo, principalmente após a fatídica decisão de Darwin de usar imagens e vocabulário bélico para conceituar fenômenos naturais e biológicos e, também, após as teses de Francis Galton (primo de Darwin) que estendeu estes conceitos  à sociedade, com o intuito de promover “melhorias hereditárias”; Darwin chegou a concordar com algumas das  teses de Galton, tais como “talento e genialidade” em humanos eram,  provavelmente, herdados e acreditavam que a hereditariedade deveria ser levada em consideração na escolha dos cônjuges.
                            O  pensamento militar pré-guerra, já contaminado pelo  espírito nacionalista e racial da época,  foi contagiado pelos conceitos de Darwin; um livro, “ Da guerra” de autoria de Carl Von Clausewitz e publicado em 1832,  tinha no seu prefacio, escrito por um Coronel,  um parágrafo que corrobora o que estamos afirmando – “O que Darwin conquistou para a biologia em termos gerais, o autor fez para a história da vida das nações quase meio século antes dele, pois ambos provaram a existência da mesma lei em cada caso - A sobrevivência do mais apto”.

                            É preciso que se diga que não foram somente os militares que “encontraram” na teoria de Darwin apoio ao que pensavam, também isto aconteceu com muitos intelectuais europeus,  principalmente os envolvidos com a literatura, que passaram a desenvolver nos seus escritos, temáticas com mais realismo e naturalismo, com enfoque, inclusive em aspectos de hereditariedade, isto é, passaram a utilizar a literatura cientifica; o que escreviam não era somente imaginativo, parece que utilizavam o microscópio para identificar seus personagens, dando mais realismo as suas vidas.
                              Emile Zola, um dos mais importantes escritores do século XIX, acompanhou, nos seus escritos, algumas das ideias defendidas por Darwin, ao seguir a escola do realismo e do naturalismo; seus personagens, principalmente na novela “Germinal”, são descritos com os episódios, as vezes cruéis,  das suas vidas no  cotidiano (pobreza, ciúmes, doenças, alcoolismo,prostituição) enfim, expõe o lado negro da vida dos homens, inclusive aspectos das suas hereditariedades.
                                      Juntando o que os militares aproveitaram das teorias de Darwin  para seus projetos belicistas, com o que  Emile Zola declarou em 1891: 
                            “A guerra é a própria vida! Na natureza, nada existe que não tenha nascido, crescido ou se multiplicado por meio do combate. É necessário comer ou ser comido para que o mundo possa viver. Somente as nações guerreiras prosperaram;uma nação morre assim que se desarma!”
                              Podemos compreender o espírito favorável a guerra que envolveu a população Austríaca nos momentos que antecederam a 1ª. Guerra Mundial.


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