O ESCRITOR E A POLÍTICA
Existem muitas
discussões a respeito da necessidade das pessoas envolvidas com a cultura,
especialmente o escritor, assumirem posições diante de temas sociais e
principalmente políticos.
É praticamente impossível conviver em
sociedade e não se envolver com assuntos que afetam o dia-a-dia das pessoas,
uma vez que ninguém conseguirá ser uma ilha dentro do contexto onde se vive.
Recentemente,
ao ler o livro “ A Primeira Guerra
Mundial, Lawrence Sondhaus, Editora Contexto, 2011” deparei-me com um tópico
que despertou minha atenção; o autor procurava dar uma explicação da razão da
eclosão daquela que foi uma das mais violentas guerras que a humanidade já presenciou .
Não
pretendo entrar no mérito de outros detalhes históricos e políticos que foram discutidos
pelo autor e que tiveram influência decisiva na gênese daquele
acontecimento, principalmente a posição belicista da Alemanha que desejava a
guerra e o assassinato do arquiduque
Francisco Ferdinando, herdeiro do Império Austro-austríaco, em Sarajevo em
junho de 1914, que foi o estopim que se precisava para iniciar o conflito.
Gostaria,
tão somente, de restringir esta discussão ao que delineei no primeiro parágrafo
deste texto: participação na política de pessoas envolvidas com a cultura; para
cumprir este desiderato peço aos leitores que me acompanhem em uma pequena
viagem que faremos na história.
O século
XIX assistiu uma grande transformação
política no ideário dos povos que habitavam o continente europeu; evoluiu do nacionalismo cultural da
era romântica, para o nacionalismo racial e xenófobo, cujo desfecho vimos, no
século seguinte, com o surgimento da Alemanha nazista.
Na metade
daquele século (1859) Charles Darwin publicou um livro “A origem das espécies”
para expor suas descobertas
inacreditáveis, dentre elas a sua conceituação
lapidar: “Na natureza, o mais apto na luta pela existência, sempre
sobreviverá”.
Alguns destes
conceitos foram aproveitados por adeptos
do nacionalismo racial agressivo, principalmente após a fatídica decisão de
Darwin de usar imagens e vocabulário bélico para conceituar fenômenos naturais
e biológicos e, também, após as teses de Francis Galton (primo de Darwin) que
estendeu estes conceitos à sociedade,
com o intuito de promover “melhorias hereditárias”; Darwin chegou a concordar
com algumas das teses de Galton, tais
como “talento e genialidade” em humanos eram,
provavelmente, herdados e acreditavam que a hereditariedade deveria ser
levada em consideração na escolha dos cônjuges.
O pensamento militar pré-guerra, já contaminado
pelo espírito nacionalista e racial da
época, foi contagiado pelos conceitos de
Darwin; um livro, “ Da guerra” de autoria de Carl Von Clausewitz e publicado em
1832, tinha no seu prefacio, escrito por
um Coronel, um parágrafo que corrobora o
que estamos afirmando – “O que Darwin conquistou para a biologia em termos
gerais, o autor fez para a história da vida das nações quase meio século antes
dele, pois ambos provaram a existência da mesma lei em cada caso - A
sobrevivência do mais apto”.
É
preciso que se diga que não foram somente os militares que “encontraram” na
teoria de Darwin apoio ao que pensavam, também isto aconteceu com muitos
intelectuais europeus, principalmente os
envolvidos com a literatura, que passaram a desenvolver nos seus escritos, temáticas com mais
realismo e naturalismo, com enfoque, inclusive em aspectos de hereditariedade,
isto é, passaram a utilizar a literatura cientifica; o que escreviam não era
somente imaginativo, parece que utilizavam o microscópio para identificar seus
personagens, dando mais realismo as suas vidas.
Emile Zola, um
dos mais importantes escritores do século XIX, acompanhou, nos seus escritos,
algumas das ideias defendidas por Darwin, ao seguir a escola do realismo e do naturalismo;
seus personagens, principalmente na novela “Germinal”, são descritos com os
episódios, as vezes cruéis, das suas
vidas no cotidiano (pobreza, ciúmes,
doenças, alcoolismo,prostituição) enfim, expõe o lado negro da vida dos homens,
inclusive aspectos das suas hereditariedades.
Juntando o que os
militares aproveitaram das teorias de Darwin
para seus projetos belicistas, com o que
Emile Zola declarou em 1891:
“A guerra é a
própria vida! Na natureza, nada existe que não tenha nascido, crescido ou se
multiplicado por meio do combate. É necessário comer ou ser comido para que o
mundo possa viver. Somente as nações guerreiras prosperaram;uma nação morre
assim que se desarma!”
Podemos compreender o
espírito favorável a guerra que envolveu a
população Austríaca nos momentos que antecederam a 1ª. Guerra Mundial.
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