TRADIÇÕES E ESQUISITICES DOS INGLÊSES
Os
ingleses são considerados um dos povos que mais cultuam suas tradições,
algumas até estranhas, diga-se de
passagem, para não dizer esquisitas, sob o ponto de vista de nós brasileiros.
Só para lembrar, uma delas é o fanatismo com que o Inglês observa o horário das
suas atividades, às vezes até as comesinhas do seu dia-a-dia.
O Hyde
Park, famoso jardim londrino, como todos os parques e jardins, são de
“propriedade” da Rainha ou do Rei de plantão; naquele logradouro há um espaço
“Hyde Park Corner” onde, aos domingos, junta uma multidão para ouvir os famosos
“speakers”(oradores) que, por qualquer
motivo, sobem em um caixote e fazem discursos a favor ou contra, sobre todas as
coisas (movimento gay, partidos políticos, enchente no Paquistão, etc.)
Existe apenas uma
objeção: não se pode falar mal da “proprietária(o)” do Parque; porém, esta
proibição somente vigora se o orador estiver com os pés no chão, se subir em um
caixote, pode falar à vontade e o que quiser; como goiano cabe a pergunta, tem
base?
Além de serem aferrados às
suas tradições, ou talvez por isto, algumas coisas só acontecem com os
ingleses; recentemente li o livro “Curiosities of Literature, John Sutherland,
2009) e um dos assuntos enfocados pelo autor chamou-me a atenção pelo inusitado
do acontecimento; falava ele sobre o famoso poeta e novelista inglês Thomas Hardy,
considerado como o “último dos grandes Vitorianos”, alusão ao tempo da Rainha
Vitória.
Hardy
nasceu em Dorset (Stinsford) no ano de 1840 e morreu em 1928; foi casado por
duas vezes (Florence Dugdale e Emma Gifford) e a temática dos seus textos era
carregada de pessimismo; existe hoje uma sociedade que leva e cultiva o seu
nome - “Thomas Hardy Society” fundada em 1968, com intensa programação
cultural, inclusive com publicação de um jornal, que conta com a colaboração de
expoentes da literatura da Inglaterra.
Pois
bem, nosso herói foi protagonista de um episódio até hoje ainda não
completamente esclarecido; para dizer a verdade, ele não foi o culpado,
literalmente falando, da ocorrência, pois isto se deu depois da sua morte; na
evolução da narrativa os leitores entenderão a razão da expressão
“literalmente falando” que utilizei
acima.
Tudo
começou alguns anos antes da sua morte.
Hardy escreveu um documento informando, a quem pudesse interessar, que
ele desejava, depois de morto, é claro, ser enterrado em sua cidade natal,
local onde ele sempre foi homenageado e,
principalmente, queria permanecer ao lado da sua primeira esposa, que foi o
grande amor da sua vida.
No
entanto, baseado no que os costumes convencionavam (aliás, por tradição os Ingleses
não possuem uma constituição escrita) o pároco encarregado do possível
sepultamento, achou melhor perguntar a Sra. Emma Gilfford (a segunda esposa de
Hardy) se ela estava de acordo com o que queriam fazer com o corpo do seu
falecido esposo.
Aqui
peço permissão para utilizar aquela expressão que mencionei no inicio deste
texto (literalmente); os leitores hão de convir comigo que Hardy deveria saber
que esta sua vontade (ser enterrado ao lado da primeira esposa) deveria causar
manifestação de desagrado na segunda. Foi o que ocorreu, a Sra. Emma não
aceitou de maneira alguma este fato e, para não dizerem que estava com ciúmes,
ela apelou para o renome nacional do falecido – Ele era considerado o grande
poeta e escritor da época, era um nome nacional e não apenas regional e
merecia, portanto, ser enterrado na Westminster Abbey, ao lado dos grandes
poetas da pátria.
Finalmente,
depois de muita discussão, adotou-se a solução salomônica: retiraria o seu
coração (que seria enterrado na sua terra natal) e o seu corpo foi cremado e as
cinzas levadas para a catedral de Westminster, onde ali continua, como Emma
desejava.
Não
precisa se dizer que o acontecimento (retirada do coração do morto) provocou
enorme reboliço no seio da sociedade Inglesa, alguns considerando isto um
sacrilégio e mesmo um barbarismo, semelhantemente ao que faziam os Mayas.
O
mais hilário (se é que se podem definir estes acontecimentos como hilários)
foram os disse-me-disse que passou a circular no meio da população: após a retirada
do coração, este foi removido da sua casa pelo seu médico pessoal e guardado em
uma lata de biscoitos a qual o gato de estimação do Sr. Hardy teve acesso e
como estava com fome, resolveu come-lo; dia seguinte, ao verificarem que a lata
de biscoito estava vazia, sem nenhum comentário, torceram o pescoço do gato e
levaram a lata para ser enterrada, sem o conteúdo precioso: o coração de Hardy.
Para
tentar dar um fim neste falatório, a Hardy Society resolveu fazer uma
investigação séria sobre o assunto e concluíram com um comunicado: nenhuma
destas versões são verdadeiras, pois qual gato seria tão grande para conseguir comer um coração humano e
principalmente, como ele conseguiria abrir a lata de biscoito? Algumas
testemunhas foram arroladas e depuseram que o cobweb (era a raça do gato)
sobreviveu por muitos anos após estes acontecimentos.
Outra
prova cabal apresentada pela Hardy Society foi a fatídica lata de biscoito que
foi encontrada, provavelmente em escavações, em 1960, juntamente com um bilhete
do Sr. Bertie (era o nome do jardineiro de Hardy) onde dizia que aquela lata
continha, realmente, o coração do seu patrão; foram encontradas algumas gotas
de sangue nas suas bordas, cujo estudo de DNA comprovou a afirmativa do
Sr.Bertie.
Não
falei de outra faceta da personalidade do inglês: sua capacidade de fazer
ironia diante de situações adversas; desta vez foram as descrições dos dizeres
da lata de biscoito que continuaram a circular entre a população – Em cima da
tampa da lata e nas suas laterais, havia vários desenhos de gatinhos, incluindo
um deles, retratado em movimento de captura de um pássaro.
Daqui
para frente é serviço para a Scotland Yard, teriam dito os diretores da “Thomas
Hardy Society”, entregando os pontos!
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