MINHAS CRÔNICAS

terça-feira, 20 de julho de 2010

BATISTÃO, Da. NARANDINHA E O JACARÉ

Batistão, como disse na semana passada, pareceu-me estar passando por uma boa fase na sua atribulada vida; mais gordo, trajando vestimenta de “ir à missa” como costuma dizer, apesar de ter mudado de religião sob influência do seu compadre Marrequinho, que, por sinal, voltou para a igreja católica, decepcionado com o rigor da disciplina religiosa do templo que frequentava.
- Acho Dotô, que na verdade, o problema dele foi a proibição de ver televisão!
Meu genro Dr. Antonio Leite, que estava na varanda quando da chegada do Batistão, pediu-lhe que confirmasse, ou por outra, voltasse a contar algumas das suas “estórias”, principalmente aquela do jacaré na nossa represa.
Era o “mote” que faltava; Batistão contou-nos esta e muitos outros acontecimentos da sua vida em nossa companhia aqui na Fazenda Santa Tereza; para não deixar meus leitores muito curiosos, vou narrar-lhes o que aconteceu com Batistão, Da. Narandinha e com o jacaré, segundo informações do próprio personagem, com algumas intromissões deste narrador.
Era uma tarde, daquelas que somente a Santa Tereza pode proporcionar; o sol estava quase que se escondendo por detrás do arvoredo, com alguns raios procurando os vãos dos galhos, com a intenção, segundo penso, de despedir do dia e imitar o caminhante que passa na beira da estrada: não se identifica, mas deixa a lembrança da sua passagem.
Batistão havia terminado a lida do dia; sentou-se em um pedaço de tronco de aroeira que imitava um banco, localizado bem na porta da sua casa, espichou as pernas, tirou o chapéu da cabeça e colocou-o no seu joelho, como se utilizasse de um cabide, olhou mais uma vez para a represa e chamou, com voz impositiva, Da. Narandinha que estava na cozinha preparando um café.
- Muié, você sabia que na represa do Dotô tem jacaré?
- Você tá é bestando seu besta, mentira sua e das maiores, de onde pode ter vindo este jacaré hôme de Deus!
- Não sei, nem quero esquentar minha pensa, mais que tem, isto tem!
Aqui, fazendo um pequeno interregno, preciso dizer que o Batistão era um homem muito medroso; vivia às voltas com o nosso cachorro; se via uma vaca nelore com bezerro aos pés, dava voltas homéricas.
Certa feita pedi-lhe que tirasse os búfalos da capineira, pois estavam destruindo-a; Batistão foi atender a recomendação, porém, com um medo incrível.
- Não tenha medo Batistão, disse-lhe com a intenção de acalmá-lo; embora estes animais tenham má fama, são muito mansos; não acreditou muito na minha informação, mas como recebera uma solicitação, teria que cumpri-la.
No primeiro grito que ele deu, os animais assustaram e correram; Batistão nem esperou para ver o que acontecia, saiu numa disparada de dar inveja aos corredores de olimpíadas; sua camisa, estendida ao vento, daria para jogar baralhos, na falta de uma mesa; atirou-se por debaixo de uma cerca de oito fios de arame farpado, sem ficar com um arranhão. O que ele não viu é que, enquanto corria para um lado, os búfalos corriam para o outro.
Voltando ao assunto do jacaré, ouçamos a continuação do diálogo do casal:
- Narandinha, você quer ir ver o jacaré? Ainda agorinha eu estava pescando, trepado naquele pau de guarandi caído sobre a represa, como se fosse uma pinguela, quando vi o bicho.
- Batistão, você tá é com mentira para mim.
- Tô não muié, vamos lá que eu te mostro.
A mulher, segundo voz popular, é mais curiosa do que o homem; Da. Narandinha não fugia à regra; pensou um pouco e resolveu acompanhar o marido até a beira da represa.
- Daqui nós não vamos enxergar, vamos ter que caminhar em cima aquele guarandi e aproximar um pouco mais, porém, temos que fazer silêncio.
Batistão foi à frente e deu a mão, com toda gentileza, a Da. Narandinha; os passos eram titubeantes, necessitando manter o equilíbrio no pau roliço e molhado; via-se que ela se divertia com o momento, pareciam dois namorados trocando juras de amor, de mãos dadas.
- Óia lá muié, já estou vendo o olho dele!
- Onde Batistão?
- Vamos chegar um pouco mais perto e, se você não enxergar, tá precisando de óculos!
Ali, olha a cabeça dele, está olhando para nós; talvez Da. Narandinha estivesse até fingindo que não estava vendo, divertindo-se com a situação.
- Vou jogar um pedaço de pau perto dele e então ele vai nadar e você vai vê-lo!
Batistão fez o que prometera e o jacaré levou um grande susto; deu uma rabanada e mergulhou com grande agitação na água; com o barulho Batistão já pensou que o jacaré estava vindo na direção deles; só teve tempo de gritar:
Sai do caminho muié que lá vem o bicho!
Como Da. Narandinha estava na sua frente, Batistão não teve dúvida, deu-lhe uma “peitada”, jogando-a dentro da represa e, em dois segundos, ele estava sentado no barranco, gritando:
- Banca velhaca muié, senão o jacaré morde a tua perna!
- Não consigo sair daqui Batistão, minha chinela grudou no barro do fundo
- Deixa a chinela ai, muié.
- Me dá a mão Batistão!
- Segura neste pau que vou te arrastar, mas fica velhaca!
Deste episódio, o que deixou Da. Narandinha mais contrariada foi a perda da chinela, presente do Walto...

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