MINHAS CRÔNICAS

quinta-feira, 15 de julho de 2010

QUEM É VIVO SEMPRE APARECE, BATISTÃO APARECEU!

Se existe um ditado popular cheio de sabedoria é o que dá título a esta crônica; quando menos esperamos, acontece o reencontro, como o ocorrido no último sábado na Fazenda Santa Tereza.
Estava cuidando de umas roseiras plantadas bem em frente da nossa casa quando chega, na garupa de uma motocicleta, o meu amigo Batistão; - Já que a montanha não vai até Maomé, Maomé vai até a montanha, disse ele, saltando com a moto ainda em movimento, dando-nos um grande susto, porque ele deu uma desequilibrada, tropeçou e quase caiu por cima de mim e da minha roseira.
- Ficou doido Batistão, você não é mais menino para fazer estas estripulias, homem de Deus!
- É por causa do senhor não conhecer esta praga ruim de meu sobrinho que me deu carona, seu Dotô; só me trouxe com a promessa de um descer com a moto andando.
- Gente, não estou entendendo a razão deste desafio!
- É uma história muito comprida que não vale a pena repetir, porém, tudo começou com o fusca que eu possuía e que não tinha freio; esta praga estava comigo e o desgramado do carro desembestou por uma ribanceira abaixo e, nós dois, tivemos que abrir as portas e pular fora.
Ele e eu esfolamos tudo quanto é pele que o corpo tem; porém, a Narandinha, tia dele, que estava no banco traseiro não teve jeito de pular fora; depois disto os dois ficaram com raiva de mim, pois ela levou uma pancada na cabeça e ficou meio “zaranzada” da cuca.
Só agora, muito recente, nós dois fizemos as pazes e quando fui pedir para ele me trazer aqui, para eu ver o senhor, ele quis vingar daquele acontecimento passado, achando que eu ia cair de maduro na sua frente; no entanto, o baiano velho continua duro na chincha.
Embora possa parecer impossível tal acontecimento, peço ajuda aos leitores que têm alguma intimidade com pessoas iguais ao Batistão, para salvarem minha credibilidade; a realidade deles é muito diferente da nossa, parece que vivem em outro mundo diferente daquele em que vivemos.
Antes de apresentar o Batistão preciso dizer que a Narandinha que estava naquele “carro desembestado” é a sua esposa, da qual Batistão já se separou e voltou a “juntar os trapos” muitas vezes.
- É castigo de Deus seu Dotô, ela é muito brava com tudo o que eu faço; o senhor conhece o nhambu? Tente se aproximar do seu ninho pra ver o que tem dentro, ele apronta uma gritaria e uma arrufação do bedéu; sabe que não tem força para enfrentar o perigo, porém, não foge. Igual a Narandinha, pequenina e encrenqueira, quando nervosa fica estabanada; o que a diferencia do nhambu são seus olhos grandes e meio pidões, caminhar ligeiro, às vezes requebrativo e a fala vagarosa, carregada de melúria... (a reticência é por conta da piscada de olho que ele deu)
Batistão, que eu não via há uns cinco anos, aparentava boa disposição física, apesar dos cabelos que já teimavam, pela sua maioria de cor branca, em mostrar a onipresença do tempo; camisa de manga curta e solta sobre a calça, botina rangedeira aparentando ser nova, barba bem feita e a indefectível e larga costeleta.
Já que estou fazendo a apresentação do meu amigo Batistão, preciso dizer que ele foi funcionário da fazenda em várias oportunidades; para que entendam a expressão “várias oportunidades” penso que preciso tomar um pouco de tempo dos meus possíveis leitores e explicar melhor.
Tudo começou nos idos anos de 1990 quando um outro antigo funcionário pediu-me que arranjasse emprego para um primo recém-chegado da Bahia; feitas as apresentações, foi amor à primeira vista: - Batistão, sua mulher Narandinha e suas três filhas, passaram a fazer parte da nossa vida, com várias intercorrências ditadas pelo destino (destino era o seu hábito, segundo dizia “determinado pelo Criador”, de consumir umas e muitas outras cachacinhas).
Lembro-me com certeza de que, em pelo menos três oportunidades, nós dois tivemos que “separar os trapos” por minha iniciativa; Batistão estava exagerando, fugindo do trato que fizemos dele só marcar “encontro com o destino” nos finais de semana; afinal, dizia ele, “preciso desafogar meus sofrimentos causados por um mau casamento”.
Durante a semana seu desempenho na lida da fazenda era muito bom, além de ser uma pessoa honesta e de inteira confiança da nossa família; porém, gradativamente os seus finais de semana estavam ficando maiores, pois, muitas vezes ele incluía a sexta feira como tal, portanto...
Ficamos bastante satisfeitos, tanto ele como eu, pelo reencontro depois de tanto tempo; Batistão estava bastante falador, parecia que tinha muitas coisas para me contar, relembrar, como disse, “nossos tempos passados”, quando então, sentávamos no alpendre da casa da fazenda e ele, depois de tomar algumas cervejinhas, “despencava conversa fora”.
Relembramos de algumas destas passagens; prometo, se meus leitores tiverem paciência de ouvirem, contá-las a partir da próxima semana!



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