MINHAS CRÔNICAS

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Tempestade, tornado e a fraternidade universal

De vez em quando somos surpreendidos com o questionamento: tenho duas notícias, uma boa e outra ruim, qual delas você quer saber primeiro?

Estou com o mesmo dilema frente aos meus leitores; gostaria de contar-lhes sobre a viagem que fiz há cerca de 10 dias ao Canadá, transcrever os acontecimentos vivenciados pelo viajante e escritor atento aos fatos, à geografia, aos costumes e, principalmente, falar-lhes sobre alguns recantos de inacreditáveis belezas, às vezes pouco notados ou mesmo visitados pelo turista.

Tomei a decisão de contar-lhes a segunda parte do questionamento, mesmo porque, ainda estou sob o impacto da emoção que vivemos, Marília, minha mulher e eu, na viagem de volta para o Brasil e, em outra oportunidade, voltarei ao assunto da primeira parte (fiz uma espécie de diário das nossas movimentações, cuja consulta será facilitada, quando for necessário).

Nosso programa de vôos previa a seguinte escala: Vancouver/ Dallas /São Paulo; nosso primeiro trajeto estava programado para chegarmos a Dallas (Texas) às 19 horas, onde faríamos uma conexão apertada, pois o vôo para o Brasil seria às 20 horas e teríamos que alcançar o nosso portão de embarque em local distante de onde desceríamos.

Ao aterrissarmos na terra de George Bush começaram nossos problemas; quando preparávamos para pegar nossas bagagens de mão, ouvimos o comandante dizer, com voz impositiva, que os passageiros deveriam evacuar a aeronave com a máxima urgência possível; dei-me conta de um possível real perigo quando, ao tentar pegar nossa segunda bagagem de mão, ter sido literalmente impedido pela aeromoça que passava quase que correndo pelo corredor, dando instruções de como desembarcar rápido, porém, sem atropelos.

Não sei se existe alguma possibilidade diante de um aviso desta natureza, que cerca de 200 pessoas enjauladas dentro de um compartimento sem janelas e com apenas duas portas de saída, possam agir com calma e sem atropelos; salvem-se quem puder!

Para aumentar a tensão, a partir daquele momento passamos a pensar e acredito que a maioria das pessoas deve ter pensado como nós: deve ser algum terrorista tentando explodir o avião, tendo em vista que não havia qualquer outra informação sobre os motivos daquela emergência; aliás, me parece ser norma de segurança nestas eventualidades: dar o menor número possível de informações, apenas dizer o que fazer.

Inacreditável o que o medo faz com as pessoas; acredito que se alguém, por qualquer motivo, impedisse o caminho, seria atropelado sem dó nem piedade; como estávamos mais próximos da porta não sabemos se isto ocorreu lá no final do corredor, mas pelos gritos que ouvíamos podemos, infelizmente, fazer esta intuição.

Ao sairmos do avião e adentrarmos no corredor de embarque foi que percebemos, através das paredes envidraçadas daquele dispositivo de comunicação entre a sala de embarque e o avião, pelo volume da chuva (torrencial volume de pedras, vento com velocidade inacreditável que nos balançava e jogava-nos de encontro à parede) que estava havendo forte chuva de granizo e , provavelmente, um tornado!

Não preciso dizer que a partir daí, já com maior espaço para movimentação, todo mundo corria rumo à plataforma de embarque; ali nos deparamos com enorme quantidade de pessoas sentadas no chão, encostadas às paredes, correndo para os banheiros (diziam ser ali o local mais seguro nestas situações!)

Em resumo, cerca de dez mil pessoas ficaram presas no aeroporto que é considerado um dos maiores do mundo, aguardando a evolução do processo e torcendo

para que a tormenta passasse, a fim de continuarem as suas respectivas viagens; aliás, todos os vôos, a partir dali foram cancelados e teríamos que remarcar nossas passagens para outra oportunidade.

Verdadeira via crucis nos aguardava, imaginem esta multidão tentando, ao mesmo tempo, resolver seus próprios problemas: embarcar em novos vôos, o mais rápido possível; tarefa impossível, pois, segundo normas que regulam o tráfico aéreo, se um vôo é cancelado será necessário seguir normas burocráticas muito rígidas (receber nova autorização de rota a ser concedida pelo país destinatário, para dizer o mínimo); o mais fácil (?) será acomodar todo mundo nos próximos vôos que estavam previamente programados (será que cabe todo mundo?).

As filas, felizmente bem organizadas, eram enormes e a paciência dos atendentes maior ainda - “O senhor terá que ir para a cidade de Tampa amanhã à tarde, de lá pegar outro avião para Miami e, de lá, outro para Bogotá”; este trajeto não me serve, ouvimos de longe o rapaz dizer com nervosismo, “é pegar ou largar”, disse-lhe o agora não tão paciente atendente.

Vi, de longe, que um dos atendentes (um senhor de pele negra, baixo e gordo) poderia ser meu conhecido (não me perguntem por que, nem eu mesmo sei); quando chegou a nossa hora (eram quase três horas da madrugada), escolhemos ser atendidos por ele (deixamos duas pessoas passarem à nossa frente), aproximei-me e me “apresentei” como membro de uma das mais antigas e honoráveis sociedades ligadas à fraternidade existentes no mundo; estabeleceu-se a empatia com um cordial aperto de mãos.

Viajamos felizes de volta para o Brasil, no melhor horário de vôo possível!

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial