MINHAS CRÔNICAS

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

ADVOGADO DESILUDIDO COM O AMOR FAZ RETRATAÇÃO

Semana passada fui honrado pelo Dr. Orimar Bastos, meu amigo de longa data, ao solicitar minha licença (petição inicial?) para contar um fato “verídico” acontecido com um possível colega de minha profissão; o detalhe intrigante é a não revelação do seu nome.

Como tentei falar com ele várias vezes para obedecer ao que ele me sugeria, sempre sem sucesso (vou cobrar-lhe o preço das ligações) resolvi escrever, também, um fato ocorrido com um colega dele; quando encontrarmos trocaremos “figurinhas”, com revelações recíprocas dos respectivos nomes. Combinado Dr. Orimar?

Este advogado é muito conhecido, principalmente do Dr. Orimar, por isto, também, não posso revelar o seu nome que se inicia com a letra G.

Doutor “G” teve um caso de amor que não deu certo e, para encerrá-lo, utilizou-se de artifício não usual nestes casos, mandou uma carta para sua ex-amada no formato jurídico, transcrevo ipsis verbis a dita cuja, embora um pouco contrariado por algumas agressões à “última flor do Lácio” perpetradas pelo magoado advogado.

“Prezada senhorita D

Face aos acontecimentos de nosso relacionamento, venho por meio desta, na qualidade de homem que sou, apesar de Vossa Senhoria não me deixar demonstrar, uma vez que não me foi permitido devassar vossa lascívia, retratar-me, formalmente de todos os termos até então empregados à sua pessoa, o que faço com superdâneo (sic) no que segue na inicial má fé de Vossa Senhoria.

1 – Considerando que nos conhecemos na balada e que nem precisei perguntar seu nome direito, para logo chegar te beijando;

1-2 – Considerando seu olhar de tarada enquanto dançava na pista esperando eu me aproximar;

1-3 – Considerando que com beijos nervosos que trocamos naquela noite, Vossa Senhoria me induziu a crer que logo estaríamos explorando nossos corpos, em incessante e incansável atividade sexual. Passei, então, a me encontrar com Vossa Senhoria.

B – Dos prejuízos experimentados

2 –1 – Considerando que fomos ao cinema e fui eu quem paguei as entradas, sem se falar no jantar após o filme;

2-2 – Considerando que já levei Vossa Senhoria em boates das mais badaladas e caras, sendo certo que foi eu, de igual sorte, quem bancou os gastos.

C – Das razões de ser do Presente

3 - 1 – Considerando, ainda, que até a presente data, após o longínquo prazo de duas semanas, Vossa Senhoria não me deixou tocar, sequer na sua panturrilha;

3-2 – Considerando que Vossa Senhoria ainda não me deixou encostar a mão na sua cintura, com a alegaçãozinha barata de que sente cócegas.

D – Decido sobre o nosso relacionamento o seguinte:

4– 1 – Vá ficar com aquela mulher de vida atirada, que também é a progenitora de Vossa Senhoria, pois eu não sou mais um ser humano do sexo masculino que usa calças curtas e a atividade sexual não é para mim, um lazer, mas sim, uma necessidade premente;

4 – 2 – Não me venha com “colóquios flácidos para acalentar bovinos” (Conversa para boi dormir) de que pensava que eu era diferente;

4 – 3 – Saiba que vou processar Vossa Senhoria por me iludir aparentando ser a mulher dos meus sonhos, e, na verdade, só me fez perder tempo, dinheiro e jogar elogios fora, além de me abalar emocionalmente.

Sinceramente, sem mais para o momento, aceite minha cordial saudação: - vá... (aqui me recuso a repetir o que Doutor “G” disse, pois tenho certeza que ele não repetiria esta expressão escatológica em juízo, onde se cultiva a terminologia advocatória)

Dou assim por encerrado o nosso relacionamento, nada mais subsistindo entre nós, salvo o dever de indenização pelos prejuízos causados a minha pessoa.

Atenciosamente

Dr. G, seu ex-namorado”

Coincidentemente estive lendo neste final de semana um livro sobre Eça de Queiroz (O espírito e a graça de Eça de Queiroz – Luiz O. Guimarães, Lisboa, 1945); conta aquele autor que em 1866, logo após se formar em direito, Eça montou sua banca de advocacia à Rua do Rocio, em Lisboa. A sua primeira causa deu-lhe um grande desgosto; um marinheiro assassinou a amante e Eça foi defendê-lo e a estratégia que ele armou era a seguinte: havia sido o excesso de paixão que levara o assassino a cometer o crime.

Para isto o réu teria que confessar, singelamente, em pleno tribunal o ato que praticara; o resto era com ele, Eça de Queiroz; chegou o dia do júri, o marinheiro interrogado pelo juiz, negou terminantemente o crime; todo o plano da defesa ruiu naquele momento, como um castelo de cartas. O homem foi condenado!

Que bruto este marinheiro! Comentava depois Eça de Queiroz, enfurecido – Estragou tudo, mentindo!

É por estas e outras que não descuido com advogados, meu pai sempre dizia: com estes profissionais o máximo que você consegue, em uma discussão, é empatar.

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial