MINHAS CRÔNICAS

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Batistão caça onça com zagaia no Tocantins. Será?

Esta história teria que ser, como foi, protagonizada pelo Batistão; o ambiente onde ocorreu o encontro é o mesmo que muitos dos meus leitores já conhecem: peonada reunida ao redor da churrasqueira depois de mais um dia de labuta na Fazenda Santo Antonio em Edéia.

Sem mais nem menos o Leãozinho trouxe para a roda de discussão a figura do preto tio Zaroio que vive ou, pelo menos vivia, lá pras bandas das serras do Monte do Carmo no estado do Tocantins, em local um pouco afastado da Fazenda São Pedro, porém, com a mesma topografia da região: cerrado, intercalado com algumas terras de cultura, alguma planície e bastantes serras que formam gargantas estreitas, deixando-se ver, lá no fundo, como se fora precipícios, vales formados pelas erosões das águas que se acumularam no cume e desceram morro abaixo, com força de enxurradas.

Zaroio, como diz o Leãozinho, vivia praticamente sozinho em uma casa rústica localizada na beira do ribeirão Piabanha que banha com suas águas movimentadas e bastante caudalosas, várias propriedades da região, inclusive a nossa fazenda; a bem da verdade, ele nem sempre viveu sozinho, pois tinha como companhia sua esposa que merecerá ir para o céu quando desencarnar (palavras textuais do narrador), tendo em vista o péssimo costume do tio Zaroio de viver, seca e verde, na cachaça.

Antes de o Leãozinho terminar de descrever o personagem, Batistão entrou na conversa, na tentativa de defender, segundo penso, o “amigo de tertúlias”:

- Acho que há um pouco de exagero nesta prosaria, se eu fosse ele, eu também estaria desafogando na “branquinha” as magoas de viver com uma jararaca como aquela mulher, muié brava e feia, não tem a mínima paciência, verdadeiro nojo de gente; qualquer perda de controle ela já abre a matraca e não para de falar; nem as pílulas de vida do Dr. Ross conseguem curar a azia que ela provoca.

Na verdade, a intenção desta minha narrativa não é a de “esculachar” a mulher do tio Zaroio, mas sim contar-lhes mais uma das encrencas vividas pelo meu amigo Batistão, portanto, deixemos que ele nos conte.

- O tio Zaroio pode ser tudo isto que o Leãozinho está dizendo, porém, posso garantir que ele é homem muito valente, para não dizer aguerrido, falo isto porque já presenciei uma caçada de onça que ele fez, “anliás” nós dois fizemos, que é de tirar o fôlego de qualquer valentão.

Tudo começou quando nós dois estávamos sentados na beira do Piabanha, dando “banho na minhoca” e jogando conversa fora e, nos intervalos da falta de peixe, experimentávamos uma pinguinha “para ti” temperada no açafrão, invenção do tio Zaroio; era o inicio do escurecer e a lua já despontava atrás da serra, quando um tal Coronel Osvaldinho apareceu e puxou prosa.

Tio Zaroio, disse ele, hoje é o dia de você pegar aquela onça que lhe falei “trosdia”; não faz muito tempo, pois vi sangue fresco no rastro, ela pegou um bezerro lá em casa e acompanhei a batida do capim e sei que ela se escondeu naquela caverna do boqueirão; de imediato observei que os zóios do tio zaroio ficaram estatelados igual ao da coruja.

Batistão, você vai comigo? Disse-me ele, já se levantando de um pulo e caminhando no rumo da sua casa; não tive nem tempo de pensar, de repente já estava ajudando-o a arranjar os apetrechos da caçada, na verdade fazia isto sem entender direito qual seria a sua intenção, pois, em hora nenhuma ele fez menção em pegar a espingarda.

Muié, gritou ele, onde você guardou o facão Jacaré? Ajunta os cachorros onceiros, prende a mariposa, pois, cachorra fêmea está proibida de ir comigo nesta empreitada; Batistão me ajude a amarrar a faca na ponta deste pau; dê duas voltas na embira para a zagaia ficar bem firme na hora da precisão.

Batistão, sua função é segurar a lanterna e mirar para o olho da bichana na hora que ela ficar acuada e, quando a bicha saltar pra riba de nóis dois, foca a luz bem na barriga dela para eu poder chuchar a zagaia no vão das duas patas dianteiras e acertar o alvo do coração. Para dizer a verdade, até àquela hora eu não sabia que tomaria parte naquela empreitada. (aqui, para que os leitores entendam o significado destas últimas palavras do Batistão, preciso informar que nunca vi pessoa mais medrosa na minha vida, de mula sem cabeça a sapo, tudo descontrola os nervos do meu amigo Batistão).

Não tive muito tempo para decidir, continua na sua narrativa o Batistão, de repente já estava na boca da caverna recebendo as ultimas instruções do tio Zaroio: - Você fica nas minhas costas, encosta a lanterna no meu ombro e só acende quando eu mandar, ou melhor, quando eu der uma piscada para você; - não tive nem tempo de pensar com a minha pensa – piscá para que lado, se está escuro e o homem é zaroio!

Antes que acontecesse uma desgraça tive o tirocínio de sair correndo e gritando: - Tio Zaroio, não sou biruta amalucado, você pode arranjar outro companheiro, se depender de mim, esta onça vai comer todo o gado desse tal de Coronel Osvaldinho!

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial