MINHAS CRÔNICAS

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

DESINFORMAÇÕES “PLANTADAS” PELA MIDIA DURANTE A 2ª. GUERRA MUNDIAL


Sempre que tenho oportunidade, gosto de adquirir revistas e jornais antigos (quando falo em antigo, estou considerando, no mínimo, 50 anos atrás); o lugar ideal para encontrá-los são aquelas pequenas bancas (bouquins) de jornais, revistas e livros antigos localizadas nas alamedas ao lado do rio Sena, em Paris

Quantas vezes, sempre na companhia de Marília, minha mulher, me esqueci do tempo percorrendo aquele logradouro; o prazer de “bouquinar” (expressão cunhada por Alceu Amoroso Lima, provavelmente em 1958, no seu livro “Cartas do pai” e que é o aportuguesamento, segundo ele, de “bouquins” e que quer dizer, folhear livros e revistas antigas) é difícil de expressar, parece que num passe de mágica nos transportamos para as datas das suas publicações e, forçosamente, somos levados a comparar as noticias (no caso de jornais e revistas) que foram publicadas naquela época, com alguns acontecimentos posteriores, principalmente os históricos.

Semana passada, aqui na biblioteca da Santa Tereza, resolvi folhear um exemplar da revista Time, como sabemos, uma publicação norteamericana; tratava-se do número de fevereiro de 1945, cuja capa ostentava a figura (desenho) do líder nazista Heinrich Himmler, criador da Gestapo, Ministro do Interior e Ministro da Defesa do Reich e criador das temíveis guardas de elite encarregadas da proteção de Adolfo Hitler, conhecidas pela sigla SS.

Pela data da publicação e pela capa, fica claro que quase todo o exemplar é dedicado aos assuntos da segunda guerra mundial, naquela época, quase que no seu final, pois estava se aproximando a queda de Berlim, último bastião da defesa alemã.

É curioso observar algumas notícias divulgadas por aquela revista, principalmente quando é destacada a figura que foi estampada na sua capa (Himmler); provavelmente, como arma de guerra (propaganda tendente a dividir o inimigo) sua imagem é desenhada com força superior a de Goebbels (Ministro plenipotenciário para todos os esforços de guerra do Reich), nominando-o, inclusive, de assistente de Himller.

Noticias oriundas da Suíça e da Suécia dão-nos conta, diz o repórter da revista “que Himmler foi ao quartel geral de Hitler e disse, na sua presença, impropérios contra os Generais da Wehrmacht (ocorrência, como se sabia na época, inaceitável por Hitler)”, este mesmo repórter informa que no atentado sofrido por Hitler em julho de 1944, “Himmler percebeu com antecedência a trama e colocou um sósia no lugar de Hitler para sofrer o trauma para depois descobrir quais eram os conspiradores e substituí-los por oficiais leais a ele” , porém, adianta o repórter, com a clara intenção de dar maior veracidade ao que estava dizendo, “esta versão não é corroborada por informações de três padres jesuítas que chegaram a Roma, vindos da Áustria, quando disseram que Hitler estava bastante ferido em um monastério localizado nas vizinhanças de Salzburgo, apresentando-se completamente apático e até com idéias avariadas”. Se a situação alemã já estava complicada, imagine o clima de desconfiança que deve ter surgido após estas informações cruzadas; se o chefe supremo estava “ apático e com idéias avariadas”, não teria, está querendo dizer o repórter, condições de continuar comandando a nação.

Provavelmente, a mais intrigante “informação” da revista é a de que Himmler estava preparando uma guerra de guerrilhas para o caso dos aliados ocuparem a Alemanha; esta informação estaria baseada, inicialmente, nas palavras do próprio Secretário Britânico das Relações Exteriores, Mr. Eden, que disse no Parlamento Britânico, no mês de setembro de 1944 “Himmler está fazendo preparativos para organizar uma resistência contínua durante a possível ocupação da Alemanha pelos aliados”

A revista envenena um pouco mais o texto com as seguintes informações adicionais : “Himmler usa muito do seu tempo arregimentando nazistas fanáticos para a guerra de guerrilha, já contando com mais de 500.000 voluntários e os planos já estão estruturados; os guerrilheiros iriam se esconder nos Alpes, onde armazenariam imenso estoque de comidas e munições e de lá desceriam para as cidades e se esconderiam nos túneis dos metrôs, pois ali, tinham algumas vantagens, dentre elas o apoio da população que vive do lado de fora”; como se vê, este é um plano mirabolante para desacreditar a liderança Alemã perante a sua população e, sobretudo, deixá-la insegura quantos aos rumos da guerra, pois já se planejavam ações pós-derrota.

No entanto, para mim, a mais estapafúrdia noticia (se compararmos com o que aconteceu depois), foi o plano, segundo informação da revista, que estava sendo atribuído aos Soviéticos, especificamente a Stalin, e que envolvia a figura do Marechal Alemão, Von Paulus.

Para que os leitores possam entender um pouco mais do que estamos falando, gostaria de dizer que o Marechal Von Paulus foi um militar de carreira que lutou, também, na 1ª. guerra mundial e na época da segunda guerra era o comandante do 6º. Exército alemão e nesta posição era muito admirado por Hitler, tendo, inclusive, recebido deste, a medalha de herói da pátria alemã.

No final do ano de 1942 ele chegou a ocupar 90% de Stalingrado, porém, devido à luta inacreditável da população em defesa da cidade, ele acabou por se render e foi preso em janeiro de 1943, tendo sido, antes disto, recebido sugestão de Hitler para se suicidar, o que ele se recusou a fazê-lo.

Apesar destes acontecimentos, era um homem muito respeitado pelas tropas e principalmente pelos seus pares, os oficiais; em 1944 ele descobriu que os oficiais, alguns deles seus amigos, que perpetraram o atentado contra Hitler (julho de 1944), foram condenados à morte; a partir daí ele passa a apoiar um movimento que já existia dentro da Alemanha contra Hitler, dando entrevistas antinazistas, pedindo aos oficiais que desertassem e não obedecessem as ordens Hitler.

Pois bem, a revista Time, em um “furo de reportagem” informa que Von Paulus fazia parte, devido à sua liderança, dos planos de Stalin para conquistar a Alemanha; ele deveria convencer as forças armadas e o povo alemão a derrubar Hitler!

Ao analisar a sequência daqueles acontecimentos e, como observador atento da história das guerras, há de pairar, sempre, alguma dúvida a respeito das noticias que são veiculadas pela imprensa, restando repetir a frase tão conhecida: A história é sempre contada pelos vencedores!

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