MINHAS CRÔNICAS

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O MÉDICO É O VILÃO, NO BRASIL, DO CAOS NA ASSISTÊNCIA MÉDICA

A questão da saúde pública no Brasil sempre tem sido um problema que se arrasta por muitos anos e não vejo, sinceramente, solução à vista.

Há cerca de uma semana esteve no Brasil o Dr. Ezekiel Emmanuel, diretor dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH); nesta oportunidade ele deu algumas declarações, no mínimo polêmicas, para dizer o mínimo.

Não vou entrar no mérito do tema, provavelmente o mais angustiante da sua manifestação, ou seja, o problema da eutanásia, pois exigiria, só esta temática, uma discussão mais abrangente, inclusive sobre a bioética, que foge ao interesse deste texto.

Gostaria de discutir alguns aspectos da questão financeira da saúde nos Estados Unidos que foram por ele abordados e que não são exclusividade daquele país, mas sim do mundo todo, provavelmente mais agudo no Brasil, pela inserção na nossa constituição de que “A saúde é um direito de todo cidadão e um dever do estado prover este direito”.

Recentemente, durante viagem que fiz ao Canadá, tive oportunidade de discutir com um médico americano a respeito desta problemática; afirmou-me ele que os Estados Unidos gastam em saúde cerca de cinco bilhões de dólares POR DIA (governo e a população), e o que é mais inquietante, à medida que o tempo passa, com o envelhecimento progressivo da população e, principalmente, pelo uso de medicamentos e aparelhagens cada vez mais sofisticados, tanto para diagnóstico como para tratamento das doenças, estes valores tendem a aumentar de maneira assustadora.

Contou-me que no Hospital onde ele trabalha (Hospital Universitário), instituição que recebe a população que não consegue pagar os planos de saúde (seriam os nossos indigentes sociais) o problema está causando sérios transtornos para o seu corpo diretivo, pois que aumenta, cada vez mais, a pletora de pessoas que estão enquadradas nesta situação (preço dos planos de saúde cada vez mais caros, desemprego e, principalmente, a presença avassaladora, na sua região, do imigrante irregular).

Dados atuais revelam que cerca de quarenta milhões de pessoas estão incluídas neste manancial de dependentes exclusivos do governo americano; resultado, naquele hospital onde trabalha este meu amigo, as filas de pacientes aguardando vaga para tratamento são inacreditavelmente longas; há casos de até um ano de espera para se submeter a uma cirurgia de vesícula; estes fatos lembram-nos o que vemos aqui no Brasil.

Não há reclamação? A imprensa não divulga estes dados? O povo não grita?

Candidamente ele me responde: - não há reclamação, porque a maioria destas pessoas, na minha região, é constituída de imigrantes irregulares, portanto, ao denunciarem pela imprensa, correm o risco de exporem sua condição de morador com situação irregular.

Em 1972, quando fazia meu curso de pós-graduação em um hospital de Londres, o sistema de saúde da Inglaterra era considerado uma das referências mundiais na assistência médica à população; os ingleses, independentemente da sua classe social, tinham acesso, gratuitamente, à medicina de altíssima qualidade, tanto técnica como profissional.

Foi justamente por esta época que apareceram na famosa Harley Street (Rua Harley) algumas das mais sofisticadas clínicas privadas de Londres; via, quase que diariamente, durante o atendimento ambulatorial do hospital, que alguns pacientes pediam ao meu professor chefe, o endereço do seu consultório particular.

Certa feita perguntei-lhe: por que ocorre isto, se, pelo que vejo aqui no hospital, dificilmente o paciente teria melhor atendimento em qualquer outro lugar; olhou-me de cima para baixo e com um sorriso meio irônico (marca registrada dos ingleses), disse-me:

- O doente imagina que se pagar, usarei alguma “mágica” que não uso com os que não pagam.

Hoje a assistência médica na Inglaterra está desafiada, aquele hospital que frequentei na juventude foi fechado, por falta de verbas!

Não faz muito tempo, em um domingo, levei a esposa de um funcionário da nossa chácara para um atendimento de urgência em um Pronto Socorro; confesso, pela minha longa ausência dos plantões, que fiquei embasbacado com tanta gente na sala de espera aguardando atendimento médico; de longe avistei o médico plantonista, meu ex-aluno e pedi-lhe socorro, pois minha amiga estava fazendo um infarto agudo do miocárdio.

No meio daquela multidão de pessoas, algumas aflitas, outras nervosas e muitas outras agredindo com palavras quem estivesse por perto, meu amigo ex-aluno corria para todo lado, sem saber a quem dar prioridade de atendimento; permitiu-me que o auxiliasse, até porque estava envolvido com dois outros casos muito graves.

Felizmente tudo correu bem, minha amiga, depois do atendimento adequado, foi encaminhada para um hospital de Goiânia, onde deu seguimento ao seu tratamento; voltei para casa e fiz muitos questionamentos a respeito daquele episódio.

O Brasil terá condições de garantir o que a constituição manda fazer (Assistência médica universal gratuita)?; É desumana a carga emocional e laborativa que o nosso atual sistema de saúde submete o médico dos hospitais públicos, jogando sobre seus ombros a responsabilidade que não lhe cabe, afrontando-o com o tacão da justiça e submetendo-o ao escárnio público através da imprensa por situações imponderáveis

Peçam a um engenheiro para fazer os cálculos estruturais de várias pontes, nas frações de tempo que é dado ao médico para decidir sobre dezenas de casos urgentes, cada um deles exigindo soluções que muitas vezes não dependem da sua ação (vagas em hospitais, aparelhagens adequadas, medicamentos necessários, etc.)

Estou exagerando? Convido os leitores a passarem, pelo menos, uma hora dentro de um hospital de emergência; depois disto não saiam culpando somente os governos, os médicos e o sistema, façam uma reflexão e ajudem a encontrar o caminho adequado para, pelo menos, diminuir o problema, porque solucionar, acho que não se conseguirá, pois a saúde é muita cara e nem os países ricos o conseguiram.

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