MINHAS CRÔNICAS

terça-feira, 12 de julho de 2011

WOLFGANG AMADEUS MOZART E A MAÇONARIA

O crítico musical Arthur Nestrovski no seu livro “Notas musicais, do barroco ao jazz, 2.000”, diz, textualmente, ao se referir a Mozart: “Se a memória fosse uma musa mais generosa, cada um de nós lembraria quando ouviu a sinfonia no. 40 pela primeira vez”; acho que Nestrovski poderia repetir a mesma citação para qualquer uma das obras do compositor.

Felizmente, ao abanar as cinzas, a memória me socorre; a data não me lembro (anos de 1980), porém, o local foi Salzburgo (Austria), durante o festival que a cidade realiza anualmente, desde 1920, em homenagem a Wolfgang Amadeus Mozart que ali nasceu; dentre todas as programações daquele ano (concertos, sonatas, óperas, música de câmara, corais) havia uma especial que Marilia e eu não poderíamos perder: a apresentação da ópera “A Flauta Mágica”, pelo simbolismo que esta obra já representava, naquela época, para minhas movimentações no mundo da Arte Real.

Salzburgo é considerada, por muitos, uma das cidades mais bonitas da Europa; incrustada nos Alpes, localizada perto da fronteira com a Alemanha, dá-nos a impressão de estar espremida no meio de um vale; é cortada ao meio pelo rio Salzach que é alimentado pelas águas das geleiras das montanhas que rodeiam a cidade.

Visão contínua de igrejas, palácios e residências seculares, embelezados por jardins em quase todos os cantos; respira-se poesia no ar, a movimentação extraordinária de gente nas ruas provoca-nos a sensação agradável de podermos estar ali, caminhando pelas mesmas alamedas que Mozart caminhou no século 18.

Antes de falar sobre a “A Flauta Mágica” preciso esclarecer aos meus leitores que Mozart era maçom e esta obra ele compôs em homenagem à Ordem, instituição a que ele era muito ligado, tendo tido, inclusive, a honra de iniciar seu pai.

Um poeta e ator teatral de nome Schinkaneder, também pertencente à maçonaria, autor de um livreto de nome “Die Zauberflote – A Flauta mágica” solicitou a Mozart que musicasse o seu enredo, advindo desta parceria uma das mais belas páginas musicais da humanidade.

É preciso se ter em conta o fato de esta obra ter sido trazida ao público em época de grande dificuldade de relacionamento da maçonaria com os governos absolutistas da época, especialmente na Europa Central depois da revolução Francesa de 1789, pois havia o entendimento, por parte das Monarquias então imperantes, de que a Ordem havia tido grande influência na eclosão daquela efeméride; estes fatos deixam evidentes a coragem de Mozart e, sobretudo, sua convicção quanto aos ideais do movimento filosófico que abraçara.

Sentamos em uma das primeiras filas do auditório do “Salzburger Marionetten Theater – Teatro de marionetes de Salzburgo” a música, que estava a cargo da orquestra sinfônica de Viena, conseguia dar vida aos personagens, levando-nos a abstração da ausência de seres humanos como intérpretes dos papéis, substituídos que foram por bonecos; alguém já disse que a música de Mozart, que já virou adjetivo (Mozartiana) é o passaporte para a vida, ao ouví-la, digo eu, não conseguimos expressar com palavras o que sentimos; posso afiançar que o sentimento de alegria deve fazer parte de qualquer tentativa de verbalização.

O tema central desta ópera é o amor à humanidade, simbolicamente representada pelo personagem iluminista “Sarastro” e que tem como inimigo a representante da intolerância e do obscurantismo, a “Rainha da Noite” (alguns veem nesta figura a pessoa de Maria Tereza, mãe de Leopold II, que banira a Ordem Maçônica dos territórios sob seu domínio).

A peça, em síntese, prega uma rebelião contra os maus costumes, além de expectativa de consolação e esperança para os que sofrem nas mãos dos déspotas; é a eterna luta entre a luz e a escuridão, o amor e o ódio, é a tentativa secular do homem perfeito de cavar masmorras ao vício e construir catedrais à virtude.

É uma peça capaz de encantar a criança e o adulto; sempre que a ouço e faço isto com frequência (pode ser encontrada em DVD nas casas especializadas) sinto ter encontrado, novamente, encantamento nesta peça; o genial Goethe, logo após assistir a sua encenação, escreveu “A maioria dos expectadores irá gostar, os iniciados na ordem maçônica, como eu, irão entender perfeitamente o simbolismo que encerra esta peça, que representa tudo o que Mozart sentia pela Ordem”.

No último quadro do último ato Sarastro, envolvido por uma luz esplendorosa, vê a desaparição da noite e o retorno da luz; o cenário muda e todo o teatro aparece iluminado pela luz do sol; contraste cênico comumente observado nas lojas maçônicas, aliás, igual ao que foi feito na cerimônia fúnebre em honra a Voltaire em 1778.

A orquestra se acalma, Sarastro anuncia sua vitória recitando solenemente: “Os raios do sol extinguiram a noite e eliminaram o poder dos hipócritas”. Allegro final, entendido como o triunfo das três virtudes que são os pilares do templo maçônico: Força, Beleza e Sabedoria.

Meu irmão, o músico Luiz Lopes Filho é cognominado por muitos que o conhecem como um “Mestre de Harmonia” e por ser grande conhecedor da obra de Mozart, sempre o procuro na busca de ensinamentos; disse-me ele que esta ópera inicia e termina em mi sustenido maior, isto é, um semitom acima do natural, simbolizando o candidato a membro da maçonaria batendo três vezes à porta do templo, diz ainda o Luiz que os instrumentos de sopro feitos de madeira, típicos da maçonaria, são encobertos pelo timbre dos tambores, com batidas que emitem sons enarmônicos e com intensidade dramática, idêntica a usada por Mozart em “Don Giovanni”.

Nove semanas após a estréia da “Flauta Mágica” em Viena, Mozart morreu nas primeiras horas do dia 5 de dezembro de 1791, com apenas 36 anos de idade, quase que na miséria.



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