MINHAS CRÔNICAS

terça-feira, 27 de julho de 2010

BATISTÃO VOLTOU (sem a Narandinha). SERÁ?

Foi o meu funcionário Sérgio quem me lembrou:
- Doutor, esta é a quarta vez que faço a mudança do Batistão!
Realmente, o “Batistão é um caso de amor mal resolvido”, como disse, espero que sem segundas intenções, meu amigo Carlo Sacco, residente em Itapetininga-SP, ao ler, pela internet, minha última crônica aqui no Diário da Manhã; ele fica uns tempos aqui conosco, faz algumas confusões com a sua esposa Da. Narandinha e vai embora; passado algum tempo ele volta pedindo emprego.
Desta vez não foi diferente; em um sábado, já escurecendo, chegou o Batistão a cavaleiro em uma bicicleta; logo as descer da “aranha” já dava para notar que ele estava “muito falador”, portanto...; ao tentar dar uma de “playboy” (descer com a bicicleta andando) quase cai por cima da “maquina voadora”.
Aproximou-se, tirou o chapéu e abraçou-me, como era seu costume, e, com voz pausada e um pouco arrastada, foi logo dizendo:
- Dotô, o senhor é meu pai e vim aqui para pedir para voltar, aliás, eu nunca devia ter saído daqui, lugar que eu adoro!
- Por que você saiu Batistão?
- Fiz besteira, fui ouvir as conversas da muié e deu no que deu, mas agora estamos separados; aliás, para dizer a verdade, separamos só os corpos, moramos na mesma casa.
- Ela virá com você?
- De jeito nenhum, não suporto mais aquela muié, é muito encrenqueira e ciumenta até cair de costa.
- Você pode voltar, mas tem que fazer uma promessa de mudar de vida, é para seu bem e da sua família; você pode ter problemas com a sua mulher, porém, suas filhas não têm nada com isto.
Batistão levantou-se de onde estava sentado (um tronco de aroeira) e quase que num pulo veio abraçar-me, até com certa emoção; vou trazer o “Cervejinha” para morar comigo lá no retiro, o senhor autoriza? Sabia Dotô, aqui a peteca não cai, não consigo ficar longe da sua família!
- Da. Narandinha não virá, realmente?
- Deus me livre!
Já que ele está voltando, vejo-me na obrigação de apresentar aos meus leitores, o restante da sua família, uma vez que Da. Narandinha já foi introduzida na semana passada.
Antes de qualquer coisa é preciso esclarecer alguns detalhes do seu linguajar que, aliás, muitas vezes não consigo entender; usam (ele e a esposa) dar apelidos para quase tudo que os rodeiam; o cachorro, provavelmente de nome garoto, é conhecido como “garoti”; as filhas Xilibene, Serenata e Gatin, parece que se chamam Lorena, Serena e Etelene; tinha um filho adotivo de nome Ésle (parece que era Wesley) e que passou a se chamar “cervejinha”.
Passadas algumas semanas da sua volta, tive notícia que Da. Narandinha tinha vindo, na companhia da filha Gatin, passar um final de semana no retiro (veio, segundo informação do Batistão, verificar se não estava faltando nada para o Ésle); como não tinham camas em número suficiente, dormiram os três em uma só (é bom que se diga que não foi desta vez que fizeram as pazes), segundo a esposa do meu funcionário Sérgio conseguiu apurar.
- Dotô, o senhor autoriza o Sérgio ir buscar a mudança da Narandinha?
- Ela vai voltar?
- É o destino; o pior de tudo é que ela vai trazer, para aumentar o pagamento dos meus pecados, a mãe para ficar morando aqui em casa.
Aqui preciso defender o Batistão; sua resistência com respeito à vinda da sogra não está ligada a nenhum preconceito ou estigma sogra-genro, pois ele não tem estas veleidades; o problema é que a sogra perdeu, completamente, o juízo, e, o pior, diz palavrões sem parar. É preciso dizer que quando estamos falando em palavrões, não são os socialmente aceitáveis, mas sim aqueles de arrepiar os cabelos (estas últimas informações me foram prestadas por uma comadre do funcionário Sérgio, que mora perto da dita cuja, no bairro Vitória, em Goiânia).
Um dia ela esteve aqui na sede da fazenda, Da. Narandinha levava-a pelas mãos em um passeio pelo jardim; ao ver uma das esculturas do artista plástico Elifas, cuja anatomia (seios desnudos) é bem conhecida dos goianienses, a sogra do Batistão não teve dúvida em dizer em alto e bom som:
- Muié peituda dos infernos!
Felizmente, para alguns amigos que nos visitava, ela não teve tempo de continuar a dizer outros detalhes anatômicos da escultura; sua filha, Da. Narandinha, levou-a para longe dos nossos ouvidos.
Batistão observava a cena, calado, de repente olhou-me com alguma tristeza no olhar e disse:
- Quando algumas coisas me esquentam a cabeça, perco o controle da razão, digo isto e quero dizer aquilo, vou falar periquito e falo papagaio, é o diabo! Uma das coisas que está esquentando minha pensa é esta falta de luz na cabeça da minha sogra.
Em seguida ele se levantou, segurou-a pelas mãos e foram para casa; voltou a ventar, primeiro mansamente, depois com alguma fúria e até uivante; Batistão sumiu na reviravolta do caminho; começou a chover, virou tempestade; a vida continua.


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