MINHAS CRÔNICAS

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

RIO ARAGUAIA – RELATOS PARA A HISTÓRIA -II

Iniciei na semana passada uma incursão sobre a história dos acampamentos nas praias do rio Araguaia; houve várias manifestações de leitores, a maioria curiosa em saber detalhes sobre este costume dos goianos; chamou-me a atenção, particularmente, o e-mail do artista plástico goiano Di Magalhães, atualmente residindo em Curitiba.
Mensagem cheia de nostalgia ditada pela ausência da sua terra natal e, particularmente, do seu rio Araguaia; vejo-me na obrigação, antes de continuar a narrativa interrompida e, também, para aumentar o seu “banzo”, de descrever para ele como estava a lua naquela noite mágica à beira do nosso majestoso beerocan.
Não há, nestes momentos, como não admirar a majestade da lua, sobranceira e gigante; no inicio, somente sua luminosidade, refletindo nas costas da longínqua serra, dá sinalização de que ela está se preparando para aparecer. Paulatinamente, ela vai despontando sem nenhuma timidez e já clareia o cume da montanha; depois, escorrega seus raios luminosos pela encosta abaixo. Não há descrição capaz de retratar, com fidelidade, toda a imponência deste espetáculo, impossível a sua imitação; como um enorme farol aceso pelo Grande Arquiteto do Universo, ilumina não só a Terra como todo o firmamento.
Disse no texto da semana passada que o Sr. Dico (Athaide Paula de Siqueira) casou-se com a Sra. Nieta (Antonieta da Veiga Jardim), porém, esqueci de informar que ela era neta do grande escultor e pintor goiano, Veiga Vale.
Aliás, por intermédio de meus amigos Olay e Neusa Costa Campos, fiquei sabendo de um acontecimento inusitado, ocorrido com os pais da Sra. Nieta; seu pai, Sr. Joaquim Gustavo da Veiga Jardim, ficou viúvo e sempre desejou se casar, em segundas núpcias, com a Srta. Rosalinda de Melo que, no entanto, se casou com um poeta baiano; na noite de núpcias, devido, provavelmente a uma grande emoção, o indigitado vate ateou fogo na casa; ela, a noiva, fugiu apavorada e ele, o baiano, sumiu no mundo, sem consumar o casamento.
Gustavo, que esperava esperançoso, pediu-a em casamento e, desta união, nasceram quatro filhos, dentro eles a futura esposa do Sr. Dico.
O Sr. Zeca Alencastro, além de cunhado de Dico, era também o pai do Cesar Alencastro Veiga, com quem o Sr. Dico fez grande amizade e acabaram, juntos, visitando o rio Araguaia pela primeira vez em 1936, quando da inauguração da estrada de rodagem que ligava a cidade de Goiás a Aruanã, mandada construir pelo então governador, Dr. Brasil Caiado, em 1926; viajaram em uma moto equipada com caçamba (side-car).
Ainda motivados pelo entusiasmo daquela primeira viagem, em agosto de 1938 os dois amigos resolveram organizar uma caravana com os seus familiares, incluindo neste grupo o Sr. Olavo Costa Campos, casado com Da. Mariquinha, também irmã de César e pais dos meus amigos informantes desta narrativa, Olay, Omary e João, com o intuito de acamparem nas praias do rio; montaram o acampamento em uma ilha situada em frente à Aruanã, provavelmente nas imediações da confluência do rio Araguaia com o Rio Vermelho.
A travessia do rio se deu em canoa que hoje denominamos de “carajá”, rasa, inteiriça, movimentando-se com o uso de remos; ficaram acampados por 15 dias, sendo que as barracas de dormir eram construídas a partir de duas forquilhas fincadas na areia, não muito distantes uma da outra, um pau, que servia de cumeeira, atravessava de uma forquilha a outra; a cobertura era feita de um tecido conhecido como “lonita de algodão”, que apresentava um inconveniente (aos nossos olhos): não era impermeável e não possuíam os nossos, hoje conhecidos “zíper”, sendo os mesmos substituídos por botões; pescavam com linha de mão, conhecida por “linha larga” feitas de fios de algodão; havia, como há registros, uma enorme quantidade de peixes.
Em 1939 voltaram para nova temporada de 15 dias, ainda sem a companhia das crianças, agora com melhor organização; contrataram um “batelão” que era movimentado por remos e zinga, onde colocaram toda a tralha, agasalhando dentro do mesmo, também, as mulheres; os homens desciam em canoas; rodaram mais ou menos seis quilômetros, acampando nas imediações do lago Dumbazinho.
A partir de 1940 aumentaram as facilidades: compraram um motor de explosão (penta 4,5); fizeram algumas adaptações em uma canoa “ubá” onde fixaram o motor e este puxava um pequeno batelão carregado com as tralhas, comidas, mulheres e crianças.
O passeio passou a ser um pouco diferente; acamparam, inicialmente no Dumbazinho (cinco a seis dias); depois foram até o “Lago dos macacos”, mais cinco a seis dias; depois Barreira do Tibúrcio, Mata Corá, Cangas; desceram mais de 50 quilômetros de rio.
Além das tradicionais barracas, faziam, também, ranchos de sapé, que eram aproveitados na viagem de volta para Aruanã.
Paulatinamente foram adquirindo motores mais possantes (penta 24 HP), capazes de arrastar uma grande canoa de madeira, comprada em Piracicaba (SP), pilotada pelo Sr. Dico, possibilitando a descida até o rio do Peixe.

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