ROSA AMÉLIA, ALIRIO E O DESTINO
Na qualidade de narrador, confesso que não agi com a neutralidade esperada de alguém que deve se colocar, como observador dos acontecimentos, equidistante dos fatos narrados e não como aconteceu em uma das minhas últimas crônicas, a respeito do amor de Rosa Amélia e Alirio.
Não sei se estava contaminado pela leitura de “Dom Casmurro” de Machado de Assis, onde o narrador-personagem Bentinho passou aos leitores uma imagem, no mínimo destorcida, a respeito da conduta de Capitu.
Vou tentar desfazer este mal entendido, contando a sequência dos acontecimentos, segundo consegui apurar e, principalmente, tentarei evitar influenciar meus leitores no julgamento que serão tentados a fazer de Rosa Amélia.
Outras vezes, outras tardes-noite Rosa Amélia voltou para a beira do rio, com olhos grudados lá onde ele fazia sua curva, aguardando alguém que seu coração teimava em dar-lhe esperança que voltaria; em silêncio ela recordava, sem entender o significado, o ultimo verso da canção que ele cantara, praticamente sem olhar-lhe:
Um amor com tantos donos
O melhor que faço é esquecer.
Rosa Amélia ainda se lembra que após cantar, Alirio forçou a velocidade da canoa e partiu... O que teria acontecido minha Nossa Senhora da Luz! Ainda envolvida pelas recordações, nem percebeu que começava a escurecer; ela ainda viu alguma claridade lá na curva, seus olhos viam em linha reta e não conseguiram enxergar quem clareava aquela imensidão silenciosa da natureza: era o astro rei que não mais se mostrava, escondido que estava pela montanha; sua presença era apenas adivinhada!
Seus olhos se encheram de lágrimas e, sem autorização, desceram pelo seu rosto aos pares; Rosa Amélia agora chorava, choro doido, porém, benfazejo para o coração amargurado; choro de alguém que, pela primeira vez, sentia que suas forças emotivas estavam se esvaindo.
Quem teria colocado esta dúvida na cabeça de Alirio, meu Deus do céu!
Com a fuga da claridade do dia, a noite começou a ocupar o seu lugar e, com ela, o silêncio se fez presente; nestas horas o pensamento não encontra desculpa para distrair com outros acontecimentos que não sejam os que dominam as preocupações; Rosa Amélia estava preocupada com a possível perda do seu amor!
Conseguia-se ouvir, sem muito esforço porque um vento marulheiro tornava perceptível, que a brisa agitava, com suavidade, a correnteza aveludada do rio; ao longe, quase que perdida no firmamento, avistou-se uma estrela, a primeira da noite; depois outra e mais outra começaram a brilhar, clareando o céu.
Rosa Amélia falava para si mesma: Deve ter havido um desencontro, ele sabe como é querido!
Se Rosa Amélia conseguisse viajar nas asas do impossível e acompanhasse Alirio na sua volta para casa e, além disso, conseguisse entrar no seu pensamento, ela veria que o acontecido, como tudo na vida, tem uma explicação.
Foi o seu tio João Claro quem encheu sua cabeça; contou-lhe fatos com tanta convicção, que provocou comentários da sua mãe, que estava presente:
- Esta moça não serve para você meu filho, quando o povo fala é porque tem alguma verdade; não existe fumaça sem fogo!
Para sermos justos é preciso que se diga que Alirio, mesmo atingido pela possível traição da amada não aceitou, sem relutar, a versão que estava sendo exposta por interlocutores tão próximos da sua vida; durante vários dias conversava consigo mesmo na busca de um caminho a ser seguido. Debalde!
Um dia, sempre haverá, às vezes tardiamente, um dia, ele reencontrou Rosa Amélia; era uma tarde de domingo, como todas as tardes de domingo no arraial “Poleiro de Pomba”; os jovens estavam reunidos na porta da igreja; conversavam sobre tudo e sobre nada; digo-lhes porque sei, Rosa Amélia era a mais bonita de todas as moças que estavam ali.
Seu vestido era da cor do batom dos seus lábios, forte no vermelho, com alguns enfeites de rosinhas azuis e brancas nas barras da saia; no rosto se via as marcas de ruge nas duas maçãs, cabelo com duas tranças que se abraçavam no meio da cabeça.
Primeiro foi ela quem o viu, todo garboso, trajando um terno de brim mineiro, escuro com riscas brancas, parece que feitas com giz, porém, bem discretas, lenço branco no bolsinho, com algumas dobras, como era a moda, chapéu quebrado na testa, camisa branca de colarinho que dobrava sobre a gola do paletó.
Como muitas vezes acontece, o destino permitiu o reencontro, embora, sob meu ponto de vista, fora do tempo. Rosa Amélia tinha outro amor!
Mesmo assim os dois se aproximaram e houve oportunidade de Alirio dizer-lhe:
- Como eu lhe queria bem! Eu era tão seu e você era tão minha, no entanto, andamos cada qual para seu lado. Eu tive tanta saudade!
Rosa Amélia nada disse, teve vontade de abraçá-lo, porém, o tempo passou!
Quem estivesse mais perto deve ter observado que os dois choravam; por quê?
Como conheço a história, posso repetir o que Abelardo disse, no século XI, para seu amor impossível Heloisa:
“Você era feliz? As pessoas não sabem quando são felizes, pelo menos não no momento em que são”.
Não sei se estava contaminado pela leitura de “Dom Casmurro” de Machado de Assis, onde o narrador-personagem Bentinho passou aos leitores uma imagem, no mínimo destorcida, a respeito da conduta de Capitu.
Vou tentar desfazer este mal entendido, contando a sequência dos acontecimentos, segundo consegui apurar e, principalmente, tentarei evitar influenciar meus leitores no julgamento que serão tentados a fazer de Rosa Amélia.
Outras vezes, outras tardes-noite Rosa Amélia voltou para a beira do rio, com olhos grudados lá onde ele fazia sua curva, aguardando alguém que seu coração teimava em dar-lhe esperança que voltaria; em silêncio ela recordava, sem entender o significado, o ultimo verso da canção que ele cantara, praticamente sem olhar-lhe:
Um amor com tantos donos
O melhor que faço é esquecer.
Rosa Amélia ainda se lembra que após cantar, Alirio forçou a velocidade da canoa e partiu... O que teria acontecido minha Nossa Senhora da Luz! Ainda envolvida pelas recordações, nem percebeu que começava a escurecer; ela ainda viu alguma claridade lá na curva, seus olhos viam em linha reta e não conseguiram enxergar quem clareava aquela imensidão silenciosa da natureza: era o astro rei que não mais se mostrava, escondido que estava pela montanha; sua presença era apenas adivinhada!
Seus olhos se encheram de lágrimas e, sem autorização, desceram pelo seu rosto aos pares; Rosa Amélia agora chorava, choro doido, porém, benfazejo para o coração amargurado; choro de alguém que, pela primeira vez, sentia que suas forças emotivas estavam se esvaindo.
Quem teria colocado esta dúvida na cabeça de Alirio, meu Deus do céu!
Com a fuga da claridade do dia, a noite começou a ocupar o seu lugar e, com ela, o silêncio se fez presente; nestas horas o pensamento não encontra desculpa para distrair com outros acontecimentos que não sejam os que dominam as preocupações; Rosa Amélia estava preocupada com a possível perda do seu amor!
Conseguia-se ouvir, sem muito esforço porque um vento marulheiro tornava perceptível, que a brisa agitava, com suavidade, a correnteza aveludada do rio; ao longe, quase que perdida no firmamento, avistou-se uma estrela, a primeira da noite; depois outra e mais outra começaram a brilhar, clareando o céu.
Rosa Amélia falava para si mesma: Deve ter havido um desencontro, ele sabe como é querido!
Se Rosa Amélia conseguisse viajar nas asas do impossível e acompanhasse Alirio na sua volta para casa e, além disso, conseguisse entrar no seu pensamento, ela veria que o acontecido, como tudo na vida, tem uma explicação.
Foi o seu tio João Claro quem encheu sua cabeça; contou-lhe fatos com tanta convicção, que provocou comentários da sua mãe, que estava presente:
- Esta moça não serve para você meu filho, quando o povo fala é porque tem alguma verdade; não existe fumaça sem fogo!
Para sermos justos é preciso que se diga que Alirio, mesmo atingido pela possível traição da amada não aceitou, sem relutar, a versão que estava sendo exposta por interlocutores tão próximos da sua vida; durante vários dias conversava consigo mesmo na busca de um caminho a ser seguido. Debalde!
Um dia, sempre haverá, às vezes tardiamente, um dia, ele reencontrou Rosa Amélia; era uma tarde de domingo, como todas as tardes de domingo no arraial “Poleiro de Pomba”; os jovens estavam reunidos na porta da igreja; conversavam sobre tudo e sobre nada; digo-lhes porque sei, Rosa Amélia era a mais bonita de todas as moças que estavam ali.
Seu vestido era da cor do batom dos seus lábios, forte no vermelho, com alguns enfeites de rosinhas azuis e brancas nas barras da saia; no rosto se via as marcas de ruge nas duas maçãs, cabelo com duas tranças que se abraçavam no meio da cabeça.
Primeiro foi ela quem o viu, todo garboso, trajando um terno de brim mineiro, escuro com riscas brancas, parece que feitas com giz, porém, bem discretas, lenço branco no bolsinho, com algumas dobras, como era a moda, chapéu quebrado na testa, camisa branca de colarinho que dobrava sobre a gola do paletó.
Como muitas vezes acontece, o destino permitiu o reencontro, embora, sob meu ponto de vista, fora do tempo. Rosa Amélia tinha outro amor!
Mesmo assim os dois se aproximaram e houve oportunidade de Alirio dizer-lhe:
- Como eu lhe queria bem! Eu era tão seu e você era tão minha, no entanto, andamos cada qual para seu lado. Eu tive tanta saudade!
Rosa Amélia nada disse, teve vontade de abraçá-lo, porém, o tempo passou!
Quem estivesse mais perto deve ter observado que os dois choravam; por quê?
Como conheço a história, posso repetir o que Abelardo disse, no século XI, para seu amor impossível Heloisa:
“Você era feliz? As pessoas não sabem quando são felizes, pelo menos não no momento em que são”.
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