MINHAS CRÔNICAS

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

ADEUS! O RESTO É SILÊNCIO.

Nossa vida era risonha e franca, nosso mundo era limitado pelas fronteiras que nossa visão de criança alcançava, nossas expectativas de felicidade eram contempladas com quase nada.
Conhecíamos todas as pessoas de Gaspar Lopes, entrávamos em todas as casas, da sala à cozinha sem sermos convidados, sentíamos as dores dos nossos vizinhos, como se fossem as nossas dores; ficávamos alegres com as suas vitorias, como se fossem as nossas vitórias.
Um dia parti para bem longe, trouxe quase tudo o que podia carregar (era tão pouco!) ficou para trás a saudade dos meus amigos de travessuras.

Um dia parti alhures
Na esperança que talvez algures
Vivesse como outrora...

Se você pretende voltar ao passado tenha cuidado, volte com cuidado, pé ante pé; as flores que coloriram e perfumaram os caminhos dos seus dias pretéritos murcharam ou não foram replantadas.
Não conte com a certeza de reencontrar aquele seu amigo ou amiga de infância; alguns, como as flores do seu jardim, não poderão ser reencontrados, encantaram e viajaram para alguma estrela distante.
Tente conter o choro, as lágrimas poderão turvar sua visão e não permitirão que você veja que o vento açoita a árvore, enverga seus galhos e força o seu caule, suas raízes são mobilizadas na busca do último sustentáculo para se manter viva; parece que sofre, mas não se queixa, sua resignação está implícita na lei da natureza.
Precisa haver galhos e folhas balançando para que o vento não passe despercebido pelos circunstantes; depois... Depois sempre surge a calmaria, o açoite transforma-se em suavidade da brisa e esta dormita na relva.
Aqui, acolá, algumas borboletas tremulam e dançam ao redor das flores silvestres; não pensam que existe a morte. A vida é o instante presente, a morte é o por do sol que, com a sua ausência, dá lugar à escuridão da noite.
O amanhecer afasta a escuridão e volta a vida; novas borboletas tremulam ao redor de outras flores silvestres e novamente não pensam...
Ela partiu, Georgete partiu sem se despedir de muitos dos seus amigos; Wanderley Cezarini, seu sobrinho, conta-me ainda incrédulo:
- Foi num átimo, não houve tempo para o socorro; dor profunda e dilacerante!
Ela sempre foi assim, quando pensávamos que haveria alguma chance para alguém de nós, ela sorria e partia. A grande diferença entre o momento atual e aqueles tempos de Gaspar Lopes é que ali sabíamos que ela voltaria, provavelmente no dia seguinte, ainda indiferente às nossas inquietudes de meninos. Novamente sorria aos galanteios, fazia-se de desentendida e novamente partia.
Agora foi diferente, ela não voltará amanhã, seu sorriso já é uma lembrança, pálida lembrança de um passado que, a partir de hoje, está ficando para trás.
Não há como negar, Georgete, na sua inocência de criança era a nossa referência do belo; caminhava com a certeza que era observada, sublimava nossas emoções e mantinha, independente da sua vontade, a nossa expectativa otimista de sermos notados.
Quando ela passava o ar ficava perfumado, odor delicado e gentil; seguíamos, com os olhos, seus passos; um silêncio obsequioso e gentil dominava nosso ambiente. Ninguém se arriscava, nem ao menos, trocar meia dúzia de palavras, precisávamos adivinhar o seu pensamento; em que mundo ela habitava? A quem procurava?
Com a sua partida, nós, os Gasparlopenses, perdemos mais uma referência e é muito triste saber que neste jogo da vida não há substituição possível.
Daqui, de tão distante, lanço minha mensagem de saudade; apanho, no jardim da ilusão, algumas flores, possivelmente rosas vermelhas e lanço-as sobre a terra que a cobre; também, peço ao vento que leve aos seus ouvidos meu murmúrio de dor e de saudade.
O resto é silêncio!

1 Comentários:

  • Às 22 de novembro de 2010 às 17:13 , Blogger Ridamar Batista disse...

    Dr. Hélio,
    A Academia de Letras do Brasil, na pessoa de sua Presidente da Seccional Anápolis- Ridamar Batista,
    tem a honra de convidá-lo para o 2º Encontro de artistas e escritores de Goiás e Distrito federal, se realizará em Pirenópolis nos dias 4 e 5 de dezembro.
    O nosso contato: ridamarb@yahoo.es

     

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