MINHAS CRÔNICAS

quarta-feira, 6 de julho de 2011

RIO ARAGUAIA (Mata Corá). Acampamento da família Costa Campos

Estive, semana passada, mais uma vez no rio Araguaia, mais precisamente no acampamento dos meus amigos de há muitos anos, a querida família Costa Campos; estavam presentes os três irmãos: Olay, Omary e João Minhoca, com as respectivas esposas, filhos e alguns netos, Joãozinho Teixeira e Damaris na companhia de filhos e netos, além do Dutinho (cunhado do João Minhoca).

Na viagem entre Goiânia e Aruanã repetimos a mesma rotina de sempre: parada na lanchonete “Porta aberta” em Itauçu, onde discutimos com algum desconhecido para saber noticias dos peixes e, principalmente, se alguém pegou alguma coisa e em que altura do rio; embora saibamos que quase tudo é mentira de pescador, gostamos de ser iludidos, pois, na volta contaremos as mesmas coisas para outros “inocentes”.

Em Aruanã, embora tenha havido progresso na sua estrutura urbana (quase todas as ruas estão asfaltadas), o porto esteja com melhor organização, as moças que embarcam nas canoas estão exibindo mais suas silhuetas e, principalmente, suas plásticas estonteantes, ouso dizer que falta alguma coisa na sua paisagem, falta o “bar do Elpidio”.

Felizmente tenho, entre meus guardados, uma foto feita na década de 1980, em que apareço de frente àquele inesquecível recinto, empunhando um belo copo de cerveja, servido pelo lendário Milton garçom, saudando, com o gesto tradicional de erguer a mão que segurava o “reservatório do santo líquido”, o nosso querido rio Araguaia. É, o tempo passou!

Na viagem (feita na estilosa lancha do Olavo, filho do Omary) entre Aruanã e Mata Corá, senti que a Marília não tivesse podido vir, sei que ela gostaria de, também, empunhar uma latinha de cerveja, sentir o vento no rosto e observar a paisagem indescritível que se descortina às margens do rio. O tempo que passou não volta mais!

À noite, sentados em semicírculo ao redor da mesa de “peixes fritos”’acompanhados de uma boa cervejinha, vinho ou uísque (ao gosto do freguês), iniciava-se o exercício de “jogar conversa fora”, hora de confraternização, de ouvir histórias incríveis sobre acontecimentos ocorridos no rio Araguaia, algumas apimentadas, outras patéticas e, muitas outras engraçadas, porém, a maioria inventada ou por quem está contando ou por alguém que ouviu dizer que o fato ocorreu na ilha do Bananal e que a reconta como se tivesse presenciado o fato.

Um dos presentes narra-nos um fato ocorrido em Aruanã, provavelmente na década de 1930, cuja exposição, debuxada por artista da narrativa, consegue segurar a atenção de todos, principalmente pelo fato de que ele, o narrador, diz ter conhecido, pela sua longa vivência por estas bandas, um dos personagens (já falecido) que tomou parte neste enredo; ouçam comigo e tirem suas próprias conclusões:

Vivia em Aruanã, naquela época um lugarejo com pouco mais de quinhentos habitantes, um alemão de nome Henrique Hinmehachen (seria este o nome?); como a maioria dos alemães, Henrique tinha os olhos azuis; outra figura simbólica da cidade era o pároco que dava assistência religiosa à população, Frei Paulo, de descendência holandesa, cujos olhos, também, eram azuis.

Millburgues, nome não muito comum naquela época, para uma pessoa de cor preta, pescador de profissão, pertencente a uma família de pouca cultura, acabou entrando nesta história que estava sendo contada, por um acontecimento aparentemente rotineiro na sua profissão: ficava, dias e dias fora de Aruanã, envolvido com os peixes do rio Araguaia.

Em uma destas viagens, Milburgues demorou mais do que o previsível e, quando voltou, teve a grata surpresa de ser recebido por seu filho recém-nascido; apesar da alegria pelo acontecimento, um detalhe chamou-lhe a atenção, aliás, para bem da verdade, já havia chamado a atenção de todos os habitantes de Aruanã: seu filho tinha os olhos azuis.

É claro que Milburgues estranhou esta ocorrência, principalmente pelo fato de que todos seus amigos lhe pediam providências (é preciso dizer que quase toda a população correu para a porta da sua casa, esperando alguma reação); formou-se uma fila, como se fosse uma procissão de gente acompanhando o possível “chifrudo” na sua marcha rumo à casa de Frei Paulo, infelizmente com alguma fama de gostar de dar injeções nas nádegas das mulheres que precisavam da sua ajuda (era mais seguro, segundo ele dizia).

Apesar da sua fama, seria inaceitável que um fiel, naquela época, duvidasse da palavra de um Padre, ainda mais que ele, um pouco assustado com a multidão postada em frente à sua casa, lembrou-lhes que era um emissário de Deus e jurou por tudo quanto é santo, que ele não tinha nada a ver com o acontecimento.

Quem seria o outro suspeito? Rumaram, Milburgues puxando a fila, para a casa do alemão, porém, aqui a coisa seria mais difícil. Henrique era homem de estopim muito curto, saiu na “testa” com Milburgues e ainda desafiou a multidão a apresentar provas; como não as havia, restou ao chavelhudo “enfiar a viola no saco” e voltar para casa, ou melhor, ir para o boteco tentar esquecer ou procurar uma explicação para o fato.

Foi, entre uma cachacinha e outra, que seu amigo Zé traíra, lembrou-lhe que ele, Milburgues, poderia ser descendente de algum espanhol, tendo em vista o seu nome meio “estrangolado”. Quase todos os espanhóis têm os olhos azuis, lembrou-lhe o amigo, portanto…





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