MINHAS CRÔNICAS

sexta-feira, 1 de julho de 2011

WHISTLER - Pronuncia-se como se escreve: - “uístler”, com acento no i

Se pautássemos nossa vida unicamente pelo anseio de encontrar a felicidade, acredito que as viagens ocupariam um importante espaço desta demanda; sua concretização é um momento de magia que nos ensina como poderia ser a vida, sem a preocupação com o trabalho que restringe nosso horizonte de poder, tendo em vista a nossa necessidade de sobreviver.

O simples planejamento de uma viagem já nos transporta para o mundo encantado do “faz de conta”; recebemos uma pletora de conselhos instruindo-nos para “onde ir”; alguns outros justificando “porque deveríamos ir acolá”; a arte de viajar, afirma Alain de Botton (A arte de viajar, 2000), “parece sustentar uma série de perguntas nem tão simples e nem triviais; uma dúvida gira em torno da relação entre a expectativa de viajar e sua realidade”.

Estávamos, Marília e eu, na companhia dos nossos amigos e companheiros de viagem, os norteamericanos Gladys e Sokol, em Vancouver, mais precisamente na sua estação ferroviária, aguardando o trem que nos levaria até a cidade de Whistler, seguindo o roteiro que organizamos previamente, ainda no Brasil.

A estação ferroviária de Vancouver é igual, em essência, a todas as outras em todo o mundo; um guichê para venda de passagens, alguns bancos para os “mineiros” que chegam mais cedo para não perderem o trem, um quiosque para venda de café, refrigerantes, quitutes e revistas; quando falo “igual” é apenas no sentido figurado, pois, a de Gaspar Lopes, lugarejo onde nasci, era muito mais movimentada e mais bonita, embora um pouco menos organizada do que esta de Vancouver e a nossa Rede Mineira de Viação não tinha a pontualidade da West Coast Express do Canadá.

Não sei se são estas reminiscências que me levaram a registrar, com a câmara fotográfica, minha presença na plataforma da estação ferroviária de Vancouver; deu-me vontade, também, de comprar uma lembrança (uma tigela? Um prato estilizado?) para se juntarem aos “badulaques” que coleciono, não sei nem por que, mas sei que são lembranças do que foi perdido, como as pontas dos cabelos que o amante, um dia, quase na hora da despedida, cortou da namorada e guardou entre as páginas do livro, que não foi mais folheado.

Provavelmente, estas lembranças da minha infância, pois nasci nas imediações de uma estrada de ferro (Rede Mineira de Viação), condicionam-me a preferir, quando existe a possibilidade de escolha, as viagens por via férrea; não sei se o leitor já teve a oportunidade de observar algumas cenas do cotidiano das pessoas que habitam ao redor dos trilhos, das paisagens, dos animais ou do horizonte que se descortina da janela; estas características da viagem de trem são impossíveis de serem observadas em outros meios de transportes.

De repente nossos olhos flagram, sem pedir permissão, o interior da casa e, curiosos procuram, indiscretamente, adivinhar o que a mulher está tomando naquela xícara que leva à boca; mais adiante, em frente à mureta do jardim de outra casa, um homem discute com o vizinho e, pela movimentação das mãos, pode sugerir desavença, ou são dois italianos em discussões amigáveis? Um cão tenta correr mais que a locomotiva, porém, desiste, como faz, provavelmente, todos os dias e nos mesmos horários.

Minha intenção era falar sobre a cidade de Whistler que foi, se alguém se lembra, sede dos jogos olímpicos de inverno de 2010, porém, minhas rememorações levaram-me a desviar do meu itinerário e o espaço que me é reservado aqui no jornal é finito, não poderei, nem ao menos, contar-lhes alguns “causos” da viagem de trem (125 quilômetros).

De todos os lugares aos quais vamos, muitos deles não nos causam impacto, alguns outros, como a cidade de Whistler, apresentam força suficiente para forçar-nos a prestar a atenção na sua existência; alguns chamam esta força de flamante, outros, simplesmente, beleza. Ao percorrer suas ruas, sentimos o impulso de atribuir-lhe alguma importância em nossa vida, vontade de repetir bem alto: “eu estive aqui, caminhei pelas suas alamedas e este encantamento fez diferença para mim.” O encantamento, porém, costuma ser enigmático, pois, pode resultar de uma combinação de várias coisas, principalmente da companhia que divide conosco esta emoção.

Se algum dia, algum leitor resolver ir conhecê-la, sugiro que ao cair da noite, quando o frio começa a dar sinais da sua presença, vá ao restaurante “Araxi” (fácil de encontrar porque a população de Whistler é de apenas 10 mil habitantes), apresente-se ao “Maitre” de nome Renbr e peça-lhe, para acompanhar o “Curried shrimp scallops – escalope de camarão ao molho curry”, uma garrafa do “Chateau Ste. Michelle”, feito da uva “cabernet sauvignon” cultivada no Estado de Washington – USA.

Bon appétit!



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