ALMOÇO LITERÁRIO
Há algumas semanas (dia 15-10.2013), como acontece há vários
meses, estivemos reunidos, Eurico Barbosa, Aidenor Aires e este que escreve
este texto, em um restaurante de Goiânia para mais um almoço-literário; como
sempre , tivemos, também, a participação de um (a) convidado(a), nesta 3ª.
feira contamos com a companhia da
Professora Lena Castelo Branco.
Como não poderia deixar de acontecer quando
se reúnem quatro pessoas envolvidas com a cultura, o assunto tratado durante o
“ágape” foi exclusivamente voltado para esta seara, especialmente a literatura;
foram mais de duas horas de tertúlias e não vimos o tempo passar.
Discutimos
uma variada gama de assuntos (os diálogos, como sempre, foram gravados), principalmente falamos sobre
o livro que a Professora Lena escreveu sobre a família dos Caiados, ouvimo-la
narrar alguns aspectos da obra que são
desconhecidos do publico leitor (quanto tempo de pesquisa, como ela foi
aceita no meio da família Caiado, como ela conseguiu algumas relíquias de
documentação fotográfica exibidos no livro, etc.).
Quando
conseguirmos transcrever o que foi gravado, pensamos que muitas curiosidades poderão ser saciadas; neste texto, no
entanto, gostaria de dividir com meus leitores, parte da discussão que tivemos
sobre um assunto, até certo ponto inusitado: O uso da palmatória, utilizada no
passado para fins disciplinadores.
De
repente o assunto surgiu, inicialmente por iniciativa da Professora Lena, ao
contar um fato pitoresco ocorrido com ela mesma: “ quando era criança, morou um
certo tempo com seus avós na fazenda, em um sitio vizinho morava um
senhora que era sua prima e esta pediu a
sua tia de nome Teté que ensinasse a cartilha e a tabuada ao neto dela.
Todos os dias o
Sebastião percorria , a pé, a distância
de mais de meia légua ; era um menino de seus dez, doze anos, magrinho, muito
limpinho, vestido numa roupa de brim caqui e usando um chapéu; sentava-se em um tamborete e minha tia
numa cadeira, na cabeceira da mesa, na varanda do jardim. Ela
era muito brava e tomava a lição do Sebastião. Se ele não sabia, ela
pegava uma régua de madeira e dava uma “reguada” na cabeça dele; depois, mandava estudar de
novo. Ele se esforçava, suava, gaguejava...
A
menina Lena ficava por perto brincando e prestando atenção, depois de algum
tempo assistindo esta “tragédia” diária, ela aprendeu as lições que eram dadas ao Sebastião, só de
ouvi-las. Intuiu, não naquele momento, mas muito tempo depois que o castigo
não seria capaz de melhorar a capacidade de aprendizagem.
O
assunto passou a ser discutido por todos nós; pessoalmente não conheci a
“Palmatória” na minha época de estudante da escola primária no povoado em que
vivia, a pacata Gaspar Lopes no sul de Minas Gerais, lembro-me, no entanto, que
um dos “castigos” mais comuns era
colocar o aluno “com o nariz frente à parede”
por algum tempo ou, muito eventualmente, “ajoelhar-se em alguns grãos de
milho”.
Lembro-me
da maneira como aprendemos a “ tabuada”, a minha querida Professora ,Da. Yáyá
Corrêa, se postava na frente da sala e com voz forte e disciplinadora, gritava
a plenos pulmões:
2
mais 2! Ao que respondíamos, gritando, em coro uníssono - 4
3
mais 3! Gritávamos – 6... e assim por
diante!
B a – Ba, respondíamos
T
a – Tá; T u – tu, todos juntos agora - tatu
Alguém
do grupo se lembrou de um conto escrito por Machado de Assis, quando aquele
autor abordou o assunto “Palmatória” de forma bem humorada; depois da reunião,
aqui na minha biblioteca da Santa Tereza, tive oportunidade de ler o citado
conto, escrito no ano de 1840 e que conta as peripécias de um menino em sua
conflitante relação com a escola.
Parece
que foi Eurico quem lembrou que foram os
jesuítas quem introduziram a “Palmatória” no Brasil, com o intuito de
disciplinar os indígenas e depois disso, ela foi muito utilizada na época da
escravatura, Aidenor trouxe à baila sua visão pessoal sobre o assunto, pois
ele, pessoalmente foi “vitima” do indigitado instrumento disciplinador e
lembrou que no Brasil o seu uso passou a ser considerado crime a partir de certa data em diante, (de
acordo com minhas pesquisas aqui em casa,
no Brasil foi a partir de 1980 e, curiosamente, na Inglaterra a partir
de 1989 e, ao final de século XIX, quando a educação sistematizada dava os
primeiros passos no Brasil, a “Palmatória” migrou para as salas de aulas).
Professora
Lena ponderou, ao final deste tópico da discussão que “Quem castiga esquece,
quem é vítima jamais”.
Alguns dias após daquela reunião, conversava com uma
enfermeira sobre este assunto e esta me contou um episódio que gostaria de
compartilhar com os leitores: Quando era
criança, pelo fato da sua mãe ser professora de uma escola primária nos confins
do sertão nordestino, ela passava todo o tempo ao seu redor, por não ter com
quem ficar em casa; assistiu, muitas vezes, sua mãe usar a palmatória nas
crianças, quase todas da sua idade e ao ser questionada, diz que nunca sua mãe
utilizou, nela, a temida “Palmatória”.
Acho,
finaliza ela, que minha mãe tinha dó de mim!
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