MINHAS CRÔNICAS

sábado, 15 de fevereiro de 2014

ALMOÇO LITERÁRIO


                               
Há algumas semanas (dia 15-10.2013), como acontece há vários meses, estivemos reunidos, Eurico Barbosa, Aidenor Aires e este que escreve este texto, em um restaurante de Goiânia para mais um almoço-literário; como sempre , tivemos, também, a participação de um (a) convidado(a), nesta 3ª. feira contamos  com a companhia da Professora Lena Castelo Branco.
                          Como não poderia deixar de acontecer quando se reúnem quatro pessoas envolvidas com a cultura, o assunto tratado durante o “ágape” foi exclusivamente voltado para esta seara, especialmente a literatura; foram mais de duas horas de tertúlias e não vimos o tempo passar.
                        Discutimos uma variada gama de assuntos (os diálogos, como sempre,  foram gravados), principalmente falamos sobre o livro que a Professora Lena escreveu sobre a família dos Caiados, ouvimo-la narrar alguns aspectos da obra que são  desconhecidos do publico leitor (quanto tempo de pesquisa, como ela foi aceita no meio da família Caiado, como ela conseguiu algumas relíquias de documentação fotográfica exibidos no livro, etc.).
                        Quando conseguirmos transcrever o que foi gravado, pensamos que muitas curiosidades  poderão ser saciadas; neste texto, no entanto, gostaria de dividir com meus leitores, parte da discussão que tivemos sobre um assunto, até certo ponto inusitado: O uso da palmatória, utilizada no passado para fins disciplinadores.
                        De repente o assunto surgiu, inicialmente por iniciativa da Professora Lena, ao contar um fato pitoresco ocorrido com ela mesma: “ quando era criança, morou um certo tempo com seus  avós  na fazenda, em um sitio vizinho morava um senhora que era sua prima  e esta pediu a sua tia de nome Teté que ensinasse a cartilha e a tabuada ao neto dela.
                          Todos os dias o Sebastião percorria ,  a pé, a distância de mais de meia légua ; era um menino de seus dez, doze anos, magrinho, muito limpinho, vestido numa roupa de brim caqui e usando um chapéu;  sentava-se em um tamborete e minha tia numa  cadeira, na cabeceira da mesa, na varanda do jardim. Ela era muito brava e tomava a lição do Sebastião. Se ele não sabia, ela pegava uma régua de madeira e dava uma “reguada”  na cabeça dele; depois, mandava estudar de novo. Ele se esforçava, suava, gaguejava...
                            A menina Lena ficava por perto brincando e prestando atenção, depois de algum tempo assistindo esta “tragédia” diária, ela aprendeu as lições que eram dadas ao Sebastião, só de ouvi-las. Intuiu, não naquele momento, mas muito tempo depois  que o castigo não seria capaz de melhorar a capacidade de aprendizagem.
                        O assunto passou a ser discutido por todos nós; pessoalmente não conheci a “Palmatória” na minha época de estudante da escola primária no povoado em que vivia, a pacata Gaspar Lopes no sul de Minas Gerais, lembro-me, no entanto, que um dos “castigos”  mais comuns era colocar o aluno “com o nariz frente à parede”  por algum tempo ou, muito eventualmente, “ajoelhar-se em alguns grãos de milho”.
                        Lembro-me da maneira como aprendemos a “ tabuada”, a minha querida Professora ,Da. Yáyá Corrêa, se postava na frente da sala e com voz forte e disciplinadora, gritava a plenos pulmões:
                        2 mais 2! Ao que respondíamos, gritando, em coro uníssono - 4
                        3 mais 3! Gritávamos – 6...  e assim por diante!
                        B  a – Ba, respondíamos
                        T a – Tá; T u – tu, todos juntos agora - tatu
                        Alguém do grupo se lembrou de um conto escrito por Machado de Assis, quando aquele autor abordou o assunto “Palmatória” de forma bem humorada; depois da reunião, aqui na minha biblioteca da Santa Tereza, tive oportunidade de ler o citado conto, escrito no ano de 1840 e que conta as peripécias de um menino em sua conflitante relação com a escola.
                        Parece que foi  Eurico quem lembrou que foram os jesuítas quem introduziram a “Palmatória” no Brasil, com o intuito de disciplinar os indígenas e depois disso, ela foi muito utilizada na época da escravatura, Aidenor trouxe à baila sua visão pessoal sobre o assunto, pois ele, pessoalmente foi “vitima” do indigitado instrumento disciplinador e lembrou que no Brasil o seu uso passou a ser considerado  crime a partir de certa data em diante, (de acordo com minhas pesquisas aqui em casa,  no Brasil foi a partir de 1980 e, curiosamente, na Inglaterra a partir de 1989 e, ao final de século XIX, quando a educação sistematizada dava os primeiros passos no Brasil, a “Palmatória” migrou para as salas de aulas).
                        Professora Lena ponderou, ao final deste tópico da discussão que “Quem castiga esquece, quem é vítima jamais”.
Alguns dias após daquela reunião, conversava com uma enfermeira sobre este assunto e esta me contou um episódio que gostaria de compartilhar com os leitores:  Quando era criança, pelo fato da sua mãe ser professora de uma escola primária nos confins do sertão nordestino, ela passava todo o tempo ao seu redor, por não ter com quem ficar em casa; assistiu, muitas vezes, sua mãe usar a palmatória nas crianças, quase todas da sua idade e ao ser questionada, diz que nunca sua mãe utilizou, nela,  a temida  “Palmatória”.
            Acho, finaliza ela, que minha mãe tinha dó de mim!                                                                                                                            



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