BLOQUEIO DA ESCRITA – O que fazer?
Vez por outra,
nós que escrevemos, somos submetidos ao que se convencionou chamar de “bloqueio
da escrita”, hoje aconteceu comigo! Sentei-me em frente ao computador, abri a
pagina do Word, surgiu na tela o enorme espaço em branco, esperando que eu
digitasse as palavras que se transformariam no texto que deveria ser enviado
para o jornal.
Pensei em vários assuntos,
escrevi as primeiras palavras e as seguintes não surgiam; fiz o que costumo
fazer nestas eventualidades: voltei ao texto que estou escrevendo sobre Freud,
onde consegui deslanchar uma ou duas páginas; voltei à minha obrigação semanal
(texto para o jornal), nada!
Antes que a pressão psicológica
aumentasse, resolvi mudar o enfoque e passei a “conversar” com o Google, ali
encontrei um “site” inglês (tinha que ser inglês) que me chamou a atenção: Um
blog de crítica literária concedeu em 2007 o prêmio ao manuscrito “The
creepiest thing writer’s block has caused someone to do – Coisas horripilantes
que o bloqueio da escrita obrigou alguém a fazer”.
Conto-lhes a história que foi
narrada naquele manuscrito vencedor do prêmio; encontrei-a no livrinho
“Curiosities of literature – John Sutherland, 1988”:
O escritor, poeta e pintor Dante
Gabriel Rossetti nasceu na Inglaterra no inicio do século 19 (1828); quando
tinha 21 anos de idade ficou apaixonado por uma bela jovem de nome Elizabeth
Siddal com quem viveu em “união aberta” por mais de dez anos, para finalmente
se casarem em 1860.
O casamento foi curto e cheio de
infelicidade para ambos, principalmente por culpa de Dante, que foi um péssimo
marido; Elizabeth entrou em depressão após um parto com natimorto, levando-a ao
suicídio, tendo sido enterrada no Highgate cemetery em Londres; Dante se encheu
de remorso e resolveu colocar no caixão da esposa o manuscrito de um poema que
estava fazendo, parece que em homenagem a ela.
Sete anos após este
acontecimento Dante estava viciado em drogas, com grave depressão e com o
famoso “bloqueio”, tanto para escrever poesias como para pintar; como
consequência, ele passou a ficar obsecado para recuperar o manuscrito que havia
sido enterrado com a sua ex-esposa; pediu ajuda ao seu amigo e agente cultural
Charles Howell, que pensou em roubar o caixão do cemitério, tendo em vista os
interesses da literatura mundial (sic).
Felizmente não foi necessário
cometer o crime, Dante conseguiu com um dos secretários do governo (seu amigo)
uma carta autorizando a exumação do corpo, o que aconteceu em 28 de setembro de
1869.
Em
uma noite, ao estilo Frankenstein, sob iluminação de lanternas e com o auxilio
de um médico (encarregado de desinfetar o manuscrito), o seu agente Howell
cumpriu o prometido; embora houvesse um pacto para que nada transpirasse,
vazaram alguns tristes comentários: Um terrível mau cheiro tomou conta do ambiente
logo após a abertura do caixão, porém, apesar do tempo passado entre o enterro
e aquele sacrilégio, Elizabeth permanecia muito bonita, seu rosto envolto por
uma coroa de flores, dava-lhe a aparência de uma pessoa ainda viva. Fico a
imaginar o silêncio que envolveu a todos naquele momento!
O
manuscrito estava umedecido e já apresentava sinais de destruição, com vários
buracos trespassando-o, porém, o poema foi recuperado e entrou para a história
da literatura como um monólogo de nome “Jenny”, publicado em 1870, com boa
recepção por parte da crítica.
Restou
ainda para a posteridade a inscrição do tumulo de Elizabeth na Web “London’s
haunted places – lugares assombrados de Londres”.
Permitam,
meus queridos leitores, que eu lhes dê um conselho: sempre que escreverem algum
manuscrito, façam cópias, principalmente se pretenderem dedicá-lo a alguém.
Ninguém sabe o dia de amanhã!