O ULTIMO DIA DE VIDA DE CHARLES DICKENS
Provavelmente, Charles
Dickens foi o mais popular romancista da era
Vitoriana (o nome “Vitoriana” advém da influência, principalmente sobre
os costumes, que a Rainha Vitória
exerceu sobre toda a comunidade inglesa, durante seu longo reinado).
A
biografia de Dickens tem sido discutida à exaustão, principalmente na
Inglaterra, onde ele nasceu (1812), viveu e morreu (1870); para servir como
exemplo da sua importância na literatura mundial, basta que se diga que todos
os seus livros continuam sendo editados e reeditados no presente,
principalmente os seus dois maiores
clássicos “Oliver Twist” e “David Coperfield”, este último, praticamente a sua autobiografia.
Gostaria de
dividir com meus leitores o que “ouvi” do escritor e famoso biografo inglês, Peter Ackroyd,
quando ele, ao escrever a biografia de Dickens, narra o último dia da sua vida,
ocorrida na sua casa de campo situada em Gad´s Hill, no condado de Kent, perto
da cidade de Londres; a região é,
também, conhecida como os “Jardins da Inglaterra” pela sua beleza exuberante.
Em suas
memórias, Dickens deixou registrado que quando criança, com a idade de mais ou
menos 9 anos de idade, costumava passar,
com muita frequência, em frente desta casa e seu pai certa feita lhe
disse: - Se você trabalhar bastante e ajuntar dinheiro, esta casa poderá ser
sua no futuro; daí para frente estas palavras persistiram sempre nas suas
lembranças, até que em 1856 ele, já romancista famoso, conseguiu comprá-la pelo
valor de 1.790 libras esterlinas.
Esta casa
passou a exercer um verdadeiro fascínio para o escritor, ali ele escreveu
muitos dos seus romances e além do seu orgulho de ter conseguido cumprir o
sonho do seu pai, ele tinha muita referência literária pelo local, uma vez que
Shakespeare descreveu algumas cenas de “Henrique V” como tendo sido ocorridas naquele sitio.
Peter
Ackroyd, seu biografo como dissemos acima, narra os acontecimentos que
antecederam a morte de Dickens com realismo extraordinário, ouçamo-lo:
“Era uma
quarta feira, dia 8 de junho de 1870, Dickens estava em casa, na Gad´s Hill,
rodeado por jardins que eram coalhados de flores e cantos de passarinhos, cuja
audição do som era facilitada pelo fato da janela do seu escritório estar
sempre aberta; ele amanheceu o dia com bom humor, sentou-se para continuar seu
trabalho, estava escrevendo um romance policial “O Mistério de Edwin Droad”,
possivelmente sob a influência do seu amigo, o escritor Wilkie Collins, um dos
pioneiros do romance policial na Inglaterra; tinha 58 anos de idade e estava
escrevendo e vendendo seus livros como nunca.
Ele escreveu
por poucas horas, suas ultimas palavras transcritas no papel eram de comovente
vivacidade, cheias de movimento, cenas iluminadas; ele agora experimenta fumar
um charuto para se relaxar, depois verifica sua correspondência, antes de se
juntar a sua irmã Georgina para uma refeição a dois; Georgina informa que logo
após sentarem-se à mesa, observou que ele estava com algum problema e
pergunta-lhe o que estava ocorrendo.
Sequencialmente
ele tenta falar, para por um momento e logo recomeça, agora fala com muita
rapidez e com palavras desconexas; Georgina levanta-se da sua cadeira e,
alarmada, diz para ele – venha deitar! Sim! Responde ele, deixe-me deitar no
chão. Ele já estava inconsciente, estado do qual nunca mais se recuperou, tendo
morrido no dia seguinte.
Como primeiro
socorro, como era o costume, Georgina removeu o colarinho da sua camisa (era
comum os homens da era Vitoriana, usarem um colarinho destacável, que era preso
à camisa por um botão de pressão), colocou um lenço separando as duas arcadas
dentárias e tentou puxar sua língua para fora da boca.
Como
curiosidade, estes colarinhos “postiços” eram removidos e lavados diariamente,
as camisas semanalmente, com a intenção, provável, de diminuir as despesas com
lavanderia.
O diagnóstico
presuntivo do seu problema pode ter sido um aneurisma cerebral e o colarinho
que ele usava foi leiloado, há alguns anos, pela famosa casa de leilões de
Londres a Sotheby´s, que, aliás, ainda estava sujo do seu suor; alguém sugeriu
que se tentasse procurar nesta amostra de tecido, impregnada pelo suor do
romancista, amostras do seu DNA e quem sabe, conseguir-se fazer um clone de
Charles Dickens, já que em vida ele foi considerado inimitável.
De minha
parte, eu preferiria saber o final que ele estava imaginando para o romance que
ele estava escrevendo!